sábado, 29 de dezembro de 2012

Bicho de estimação faz bem à saúde!

Pesquisas comprovam que seus donos têm menos estresse, mais motivação para se exercitar, maior desenvolvimento da afetividade e melhora do sistema imunológico.
Poder de cura animal

Se você pensa em ter um animal de estimação e ainda está pesando os prós e contras da relação, saiba que, além de ser uma delícia, o contato com os bichanos domésticos traz benefícios à sua saúde. Diminuição do estresse, motivação para se exercitar, desenvolvimento da afetividade, sensação de prazer e melhora do sistema imunológico são alguns deles, afirma a psicóloga Luiza Cruz, diretora da Associação Brasileira de Qualidade de Vida.


Pesquisas recentes apontam, inclusive, que crianças autistas que convivem com um cachorro têm um melhor desenvolvimento e interação com o mundo. De acordo com os especialistas do Centro de Pesquisa do Hospital de Brest, na França, que realizaram estudo envolvendo 260 pacientes, os melhores resultados foram encontrados em pessoas que passaram a ter cachorro aos 5 anos de idade, seguido do subgrupo que sempre conviveu com eles.

Para a psicóloga Giovana Del Prete, vice-diretora da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental, crianças e idosos são os mais beneficiados pelo convívio com gatos, cachorros, pássaros, coelhos, tartarugas ou seja lá qual for o bichinho de sua preferência: “Em qualquer idade, ter um bicho é ter um grande companheiro. Para as crianças é especialmente importante porque ajuda a desenvolver o senso de responsabilidade (por cuidar de um outro ser), ensina a dividir carinho, espaço e atenção. Já para idosos, afastam a solidão e com isso combatem uma possível depressão.”

Apesar das inúmeras vantagens, é importante ficar atento aos excessos no chamego, que podem levar a crises de alergia e problemas respiratórios: “Há que se ter consciência de que se trata de um bicho. Podemos e devemos dar carinho, mas nada de beijar, colocar no sofá ou dormir na cama com eles. Os pais têm que ficar atentos e dar o exemplo”, alerta Flávia Janólio, diretora da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia do Rio.

O problema maior, diz ela, nem é o pêlo (ou a pena), mas sim a descamação do epitélio, que aumenta a quantidade de ácaro no ambiente e favorece alergias e asma. Mas se você mantiver a higiene na casa e não permitir que o bicho transite por quartos, camas e sofás, você usufruirá só dos benefícios dessa convivência.

E, para os papais que gostam de bichos mas abrem mão de tê-los em casa para não expor os filhos a problemas, aqui vai um bom motivo para rever seus conceitos: “Pesquisas afirmam que se a criança convive com um gato ou um cachorro desde que nasce, ela tem menos chance de ter problemas respiratórios. É como se ela fosse se adaptando aos poucos e ficando com sistema imunológico fortalecido”, explicou Paulo Kussek, presidente do Departamento de Pneumopediatria da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

BENEFÍCIOS POR FAIXA ETÁRIA

CRIANÇAS: ter um bicho desenvolve o senso de cuidado e a afetividade; faz aprender a respeitar, a ter limites e a compartilhar, dividir carinho, atenção e responsabilidade.

ADOLESCENTES: numa época em que a garotada passa por mudanças físicas e emocionais, o animal representa a aceitação total: o amigo fiel está ali, para o que der e vier.

ADULTOS: o animal leva companheirismo, alegria e descontração à casa.

IDOSOS: ter um bicho afasta a solidão; motiva idosos a se exercitarem/caminharem; faz com que se sintam úteis tendo um ser dependendo deles; ocupa a mente e, portanto, combate a depressão.

O Dia

Como as autoridades municipais e estaduais atrapalham os ciclistas de São Paulo


No mundo contemporâneo, você pode observar o grau de desenvolvimento social de uma metrópole pelo número de bicicletas em suas ruas. Amsterdã e Copenhague são duas referências extraordinárias, e o Diário gostaria que São Paulo absorvesse lições de ambas. Mas o caminho é longo, como mostra o texto abaixo, de autoria de nosso colunista-ciclista Jura Passos.

A Companhia de Engenharia de Tráfego  (CET), da Prefeitura de São Paulo, a Polícia Militar e a Polícia Rodoviária foram convidadas para dar apoio ao passeio ciclístico da Rota Marcia Prado 2012, entre São Paulo e Santos, no último domingo. A CET compareceu ao ponto de partida, na Estação Vila Olímpia da CPTM, mas nada pode fazer para evitar a aglomeração de milhares de ciclistas para acessar a ciclovia através de uma passarela de pedestres sobre a Marginal Pinheiros.

Nas duas travessias da represa Billings realizadas por balsas da EMAE – Empresa Metropolitana de Águas e Energia – a CET não apareceu para organizar o tráfego de entrada e saída de carros e bicicletas nas balsas. Resultado: congestionamento e confusão. 

Quem apareceu no lugar da CET foi a PM, de armas e cacetetes em punho, disposta a dispersar quem ousava, simplesmente, seguir seu caminho em direção ao mar, pacífica e organizadamente, sem poluir o ar, sem pressa e sem tem que pagar as abusivas taxas de pedágio cobradas nas estadas paulistas. Ao perceber isso, retirou seus soldados do “front”, abandonando uma multidão que esperou até 3 horas para uma travessia de 10 minutos.

A Rota Marcia Prado liga a ciclovia da Marginal Pinheiros à estrada de manutenção da rodovia dos Imigrantes. Foi o caminho que os primeiros ciclistas que tentavam descer de bicicleta até Santos encontraram para fazer o percurso, já que todos os caminhos do mar foram proibidos para ciclistas em São Paulo. Inclusive o Caminho do Mar, a estrada velha de Santos, fechada para o trânsito de qualquer veículo. A ciclista Marcia Prado – morta por atropelamento na Avenida Paulista – foi uma das primeiras a percorrer essa rota, que foi batizada em sua homenagem.
Marcia, a ciclista morta e homenageada

Enquanto a Polícia Militar erguia o braço contra os ciclistas, a Polícia Militar Rodoviária – acostumada a expulsar os ciclistas da Imigrantes com alguma razão, pois é perigoso mesmo – fez o inverso: isolou os acostamentos por onde circulavam os ciclistas do tráfego de automóveis, alertou os motoristas da presença deles e colocou viaturas em pontos estratégicos para orientar os condutores de duas e de quatro rodas. Se falta coordenação de informações dentro da mesma instituição policial, imagine entre as esferas de governo estadual e municipais.

Mais uma vez ficou patente a improvisação com que as ciclovias estão sendo implantadas em São Paulo. Sem planejamento sério e sem coordenação entre os governos locais e estadual e seus órgãos competentes. O acesso de ciclistas à estrada de manutenção da linha da CPTM paralela à Marginal Pinheiros – a chamada “ciclovia” da Marginal – é feito por uma passarela de pedestres improvisada. Na ponte Cidade Universitária foi feita uma abertura no muro em plena calçada, isolada da rua por muro de concreto, por onde passam ciclistas e passageiros de outra estação da mesma linha de trens. Diante da sede da CET – na Praça Ramos de Azevedo – há uma ciclovia pintada no chão, que pedestres, ciclistas e autoridades de trânsito seguem ignorando.


Essa foi a 4ª edição do passeio ciclístico da Rota Marcia Prado. O número de participantes cresceu exponencialmente ano a ano, partindo de algumas centenas até atingir alguns milhares neste ano. Organizado pelo Instituto CicloBR, que promove e defende o uso da bicicleta em SãoPaulo, o passeio se espalhou como vírus pelas redes sociais quando foram abertas as inscrições. Tão rápido que todo mundo aderiu, menos algumas das autoridades responsáveis pelos serviços públicos necessários e imprescindíveis.

Vieram grupos de ciclistas de todo o Estado e até de outros: de Presidente Prudente, Salto de Pirapora, Campinas, Limeira e do sul de Minas. Fretaram ônibus, viajaram a noite toda e na manhã seguinte estavam aglomerados na entrada da estação Vila Olímpia esperando a vez de atravessar a passarela. Prepararam suas bicicletas, estamparam suas camisetas, trouxeram suas ferramentas, alimentos, água e, sobretudo, sua saúde e disposição para enfrentar uma pedalada de 100 km, durante até 12 horas. Providenciaram quase tudo por conta própria, só não imaginaram que a maior dificuldade não seria pedalar e, sim, enfrentar o “trânsito parado”, exatamente o que os ciclistas pretendem evitar.

A Rota Marcia Prado foi criada oficialmente pela lei municipal 15.094, de 4 de janeiro de 2010. O texto da lei é autoexplicativo: ele institui a rota “cicloturística” e diz que ela “deve ser inserida no calendário oficial de eventos turísticos, esportivos e de lazer do município e contribuir para promover e divulgar o desenvolvimento turístico, cultural, ecológico, econômico, social e sustentável da região”. Ao mesmo tempo, todas as condições necessárias à sua implantação foram vetadas pelo prefeito Kassab.

Não se pode acusar a CET de desrespeitar uma lei municipal que ao mesmo tempo institui e impede a implantação da rota. Afinal, até a legislação é improvisada.

Diário do Centro do Mundo


Meritocracia acaba com a educação: professores não são operários e escolas não são fábricas!

“A política de responsabilização dos professores tem promovido uma corrosão na carreira”

Para Dalila Andrade Oliveira, o vínculo entre o resultado dos alunos e o desempenho do docente joga nas costas do professor uma responsabilidade que é do Estado e não leva em consideração outros fatores que influenciam o aprendizado.
Dalila Andrade Oliveira é presidente da ANPEd, coordenadora geral da RedEstrado e professora da UFMG
Especialista em política educacional, gestão escolar e trabalho docente na América Latina, Oliveira fala sobre as medidas governamentais que têm avançado na questão da valorização docente, como a Lei do Piso Salarial e as diretrizes nacionais de carreira, e aponta os desafios que os professores têm enfrentado atualmente – como o novo perfil do aluno brasileiro e a política de responsabilização das escolas.

Vozes – Qual são os principais desafios para a profissão docente no Brasil hoje?


Dalila - A questão da remuneração. No Brasil, os salários são muito baixos e mesmo agora, com a Lei do Piso, que consideramos uma grande vitória nessa direção, vemos a dificuldade que o país enfrenta para que os municípios e os Estados cumpram a lei. Então acho que o principal, o mais imediato dos problemas da valorização docente é a remuneração.



Vozes – Você vê semelhanças da realidade dos docentes brasileiros com os de outros países da América Latina ou do mundo?

Dalila - Com certeza, sim. Mas nós temos mais especificidades que precisam ser consideradas. O fato de sermos um país federativo e que entre os estados do Brasil há tanta desigualdade, e considerando que os docentes da educação básica pública são contratados, em sua grande maioria, pelos municípios e pelos estados brasileiros, esse é um grande problema que precisamos resolver. E essa me parece uma especificidade do Brasil que precisamos nos dar conta. Nós temos mais de 5,5 mil municípios, que contratam os seus professores e os remuneram à revelia de uma carreira nacional.

É por isso que há uma desigualdade tão grande entre os próprios professores, pelas formas de contratação e de remuneração. Eu vejo isso como um grande problema. E isso faz com que o Brasil tenha uma situação que, do meu ponto de vista, é mais urgente de ser resolvida do que a maioria dos nossos vizinhos.


Vozes – Esse problema nunca apareceu em outros países da América Latina ou eles já conseguiram resolver?

Dalila - Na realidade, a profissão docente sofre de uma crise de valorização não só no Brasil. Isso é uma tendência em muitos países do mundo e na América Latina.


Vozes – Quais deveriam ser as políticas públicas a serem colocadas em prática para enfrentar esse problema?

Dalila - Uma melhor articulação entre os governos municipais, estaduais e Federal, no sentido de assegurar as diretrizes de carreira que o Conselho Nacional de Educação já aprovou. Nós temos diretrizes nacionais de carreira desde 2009, homologadas pelo Ministério da Educação, e elas precisam se tornar práticas. Para isso nós precisamos mexer nessa articulação entre municípios, estados e governo federal.

Quer dizer, hoje nós temos uma grande concentração da arrecadação nas mãos do governo federal e justamente a responsabilidade pela fase inicial da educação (ensino fundamental e a educação infantil) é do município, que muitas vezes não apresenta condições de oferecer uma boa carreira para esses docentes. Esse é um problema muito grave.

Precisamos de políticas públicas nessa direção, que garantam uma carreira que seja mais ou menos igual no Brasil inteiro, uma isonomia de condições.


Vozes – Você acha que tem havido avanços em relação a essa valorização docente nos últimos anos?

Dalila - Apesar de serem muito poucos, acho que temos. Considero avanços a Lei do Piso e as políticas dos últimos dez anos dirigidas à formação docente dos professores em exercício nas redes públicas – que são reforços de governos estaduais e do governo federal no sentido de oferecer uma formação que seja compatível a necessidade de habilitação que o professor precisa ter para atuar naquela etapa da educação.

As próprias diretrizes de carreira também, no sentido de que já temos essas diretrizes aprovadas, mas falta serem postas em prática.


Vozes – O que significa a valorização docente?

Dalila - Para mim, a valorização docente é um conceito muito preciso. Ele foi cunhado no Brasil nos anos 60, durante o processo constituinte, e é assentado em três pilares: 1) a remuneração digna para os docentes; 2) condições de trabalho, incluindo aí carreira. É importante que o docente tenha bons vínculos empregatícios, ou seja, com ingresso na carreira (mediante concurso público), que ele tenha estabilidade no emprego e que esse trabalho tenha boas condições. Ele precisa de boas condições de trabalho para poder desempenhar bem o seu trabalho.

E o terceiro eixo é a formação. Nós entendemos que – e quando eu falo “nós”, eu represento a ANPEd – a formação mínima para o professor atuar em educação básica deve ser uma formação de nível superior. E além da formação inicial, a formação continuada, entendida como formação ao longo da vida. Quer dizer, do nosso ponto de vista, inclui, inclusive, a pós-graduação, a oferta de mestrados dirigidos mesmo à melhoria da sua prática.


Vozes – Você acha que, no caso da questão da formação, há problemas? As políticas públicas têm caminhado bem em relação a esse pilar?

Dalila - Nós avançamos um pouco na formação se você considerar que, em 1996, o ano em que foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) atual, apenas um terço dos professores em exercício no Brasil na educação básica em redes públicas tinha habilitação específica e que hoje exatamente o contrário (dois terços) tem formação em nível superior, com habilitação específica, e apenas um terço não tem.

Então, nós devemos considerar que nesses menos de 15 anos nós tivemos um avanço considerável. Mas é claro que temos muitos desafios no que se refere à formação. É necessário não só formar os professores que estão em exercício, como formar os novos professores, adequar essa formação à prática hoje realizada nas escolas. Essa formação docente tem que estar mais voltada, por exemplo, à ampliação do direito à educação, que trouxe para nós, nas últimas duas décadas, um novo perfil de aluno.

Se a gente considerar que em 2009, com a emenda constitucional no 59, alargamos a obrigatoriedade de quatro para 17 anos, é urgente hoje pensarmos a formação desse docente que vai atuar na educação infantil. Há muita improvisação na educação infantil.


Vozes – Qual seria esse novo perfil de aluno com quem o professor está lidando?

Dalila - Nas últimas décadas nós tivemos a entrada do segmento mais pobre da população na escola e de segmentos que antes não frequentavam a escola. A educação avançou muito no campo, nas populações ribeirinhas, em segmentos étnico-raciais. Então hoje nós temos um aluno com uma situação mais diversa dentro da escola e é importante que a instituição saiba responder a esse aluno. Para isso a formação do professor é tão importante.

Nos últimos anos nós passamos a ter também uma educação inclusiva, no aspecto dos alunos portadores de necessidades especiais. É muito importante que a formação dos professores esteja também orientada nessa direção.


Vozes – Qual é o perfil do professor brasileiro hoje?

Dalila - O perfil do professor brasileiro hoje é muito variado, mas se a gente for falar em termos estatísticos nós temos cerca de 80% mulheres, que têm em torno de 38 e 42 anos, que ganham até três salários mínimos, com formação em nível superior e em geral casadas e com filhos, dada a idade que elas apresentam.

Nós estamos tendo também cada vez mais entrada no magistério público de professores oriundos de camada social mais pobre, portanto é muito importante investir na possibilidade de acesso que ele tem a bens culturais. Por isso uma remuneração boa é fundamental para que esse professor possa ir ao cinema, ter uma televisão a cabo, comprar bons livros etc.

Como a profissão não oferece boas condições, uma remuneração compatível, boas condições de trabalho e carreira, acaba que a preferência pela licenciatura, a educação como profissão na vida não tem sido muito buscada, muito encontrada.


Vozes – Como você vê o atual processo de responsabilização docente?

Dalila - As escolas, em geral, são orientadas a responsabilizar o professor para que ele busque o seu desenvolvimento profissional por ele mesmo. Então ele que tem que buscar sua formação inicial, apesar de todas as dificuldades, buscar fazer um curso ali, às vezes por sua própria conta, para poder ter alguns pontinhos a mais na carreira, ganhar um pouco mais ou ser promovido.

Se formos pensar no aspecto mais amplo da gestão da escola, o que essa política hoje de responsabilização dos professores tem feito é promover uma verdadeira corrosão na carreira.

Hoje, nós temos visto cada vez mais gestões municipais e estaduais no Brasil vincularem o desempenho do aluno à remuneração do professor. Como se o professor só fosse produtivo se o seu aluno for bem na escola e nos testes. Então é responsabilidade dele que o aluno vá bem. E aí ele recebe uma bonificação, uma premiação, seja lá o que for.

Mas o que acontece é que nós sabemos que o desempenho dos nossos alunos não dependem somente do trabalho do professor. Depende da origem social dele, do acesso que ele tem a bens culturais, do apoio que ele tem em casa, de como que ele se entrosa na sala de aula, de quanto aquele currículo é adequado ou não ao seu aprendizado. E no final, tudo isso é obscurecido, é renegado, e a única coisa que conta, nessas políticas, é o trabalho do professor.

Realmente é uma pena isso que a gente tem visto acontecer, não só no Brasil – essa tem sido uma tendência em vários países do mundo, inclusive na Europa e na América Latina -, e que vem de fato correndo a carreira docente.


Vozes – Como deveria ser a gestão escolar ou a atuação do governo em relação a essa questão da responsabilização docente?

Dalila - Eu acho que a política de responsabilização joga nas costas do professor aquilo que é de responsabilidade do Estado e da sociedade. No caso do Brasil, a gente precisa ter um sistema nacional mais orgânico, pra que isso fique mais claro – inclusive para que essa relação primeira que a gente falava na primeira questão que você fez, entre os municípios, estados e governo federal, seja melhor equilibrada.

Além disso, o que precisamos, na realidade, não é responsabilizar o professor pelo fracasso ou pelo sucesso dos alunos dessa maneira que vincula diretamente os resultados dos testes padronizados com a produtividade docente.

O que precisamos é de boa carreira, uma boa remuneração, boas condições de trabalho, uma escola que ofereça dedicação exclusiva ao professor, para que ele possa ter maiores vínculos com a instituição e com os seus alunos. Tenho certeza que isso faria muito mais bem para a educação brasileira do que esse jogo de culpabilidade que essa política de responsabilização cria.


Vozes – Quais os principais avanços dos últimos anos na questão da profissionalização docente? 

Dalila - Não sei se tivemos avanços quanto à profissionalização, não. A não ser as diretrizes de carreira das quais já falei, e o piso nacional, que dá uma ideia de profissão (quer dizer, ninguém que é contratado como tal pode ganhar menos do que isso), acho que nós estamos vivendo na realidade um ataque à profissionalização docente com essa política de responsabilização.



Educação a distância? Sim, claro, mas para os filhos dos outros!


EAD é uma excelente coisa. Alguns, como eu, falam de tal prática com conhecimento de causa, outros, que nunca a usaram para valer, grasnam aqui e ali.

Quando você começar a defender o ensino a distância para graduações plenas, no Brasil atual, pare e se pergunte sinceramente: eu daria isso ao meu filho ou gostaria que ele fizesse um curso regular, presencial?

Os que têm alguma vida intelectual, que são professores universitários ou ocupam cargos que demandaram formação intelectual mais sofisticada, caso sejam honestos consigo mesmos, jamais darão a resposta, em público, optando pelo ensino não presencial. Os educados entre os anos 40 e 60 fizeram escola pública. Alguns mais ricos fizeram os colégios particulares de alta elite (e não os que se passam por tal, mas são de classe média – os apostilados). No meu caso, toda a minha trajetória principal é em escola pública. O ministro da Educação atual(em 2009), Fernando Haddad, mais novo que eu, usou a escola particular, nunca pisou na escola pública, ao menos não antes de ser ministro. Ele sempre foi rico. Eu não deixaria meus filhos não prestar vestibular para a universidade estatal. Caso fossem para a uma particular, por alguma razão, empurraria para uma PUC ou Mackenzie.

Nossas elites fazem o ensino a distância, atualmente, ser exatamente aquilo que foi o ensino profissional. Há a “escola para os nossos filhos” e a “nossa escola para os filhos dos outros” – esta é a verdadeira política educacional de nossas elites. Adorávamos falar bem do ensino profissionalizante, técnico, mas, para os nossos filhos, queríamos o ensino propedêutico – o caminho para a universidade. 

Mutatis mutandis, aplicamos hoje a mesma coisa ao ensino a distância, pois falamos bem do ensino a distância quando estamos em público, mas não a quatro paredes, não para os nossos filhos. Não queremos que o Gilberto Dimenstein, o garoto propaganda do PSDB (e talvez até do PT, agora que o PT mensaleiro se igualou ao PSDB “social democrata”), tenha xiliques conosco. Todavia, uma vez em casa, aconselhamos um filho nosso a fazer a universidade presencial, de preferência estatal.

Quando pressionados, dizemos assim, hipocritamente: “ah, mas o ensino a distância também é bom, e conhecemos lugares onde o presencial é ruim, e o ensino a distância é para democratizar a universidade – nem todos podem ir para onde existe universidade”. 

Na condição de pessoas da elite, deveríamos dizer outra coisa, caso fôssemos honestos mesmo: “vamos melhorar o ensino básico, vamos ampliar as vagas das universidades estatais, vamos pagar bons salários para todo professor no ensino estatal em todos os níveis etc”. Já fizemos algo assim no passado. Podemos fazer de novo. Não temos que voltar ao que foi moda nos Estados Unidos nos anos 70, a “pedagogia compensatória”. Não foi ela que melhorou o nível intelectual do americano. Aliás, os que propunham isso nos Estados Unidos, diziam propor para eles mesmos, mas, na verdade, queriam só que os latinos usassem aquilo, dentro do país, e também vendiam aquilo como solução para a educação no Terceiro Mundo.

Deveríamos usar o EAD como apoio, um grande apoio por sinal. Deveríamos usar o EAD como canal para alguns tipos de ensino técnico. Deveríamos usar o EAD para programas de treinamento. Mas não podemos usar o EAD para a graduação, para a formação básica do profissional, especialmente em relação aos saberes que demandam vivência universitária. O último curso que eu colocaria em EAD é o curso de pedagogia ou qualquer outra licenciatura. Não falo isso como algo que tenha valor em lugar e em todos os tempos. Falo isso para o Brasil atual. Temos condições de fazer coisa melhor do que tentar preservar uma parte da universidade estatal para nossos filhos, e oferece-la em moldes de EAD para os filhos dos outros. Seria mais digno e muito possível oferecermos aos outros o que damos de melhor aos nossos. E isso, nós sabemos bem, é possivel. Caso quiséssemos, faríamos um programa de diminuição da distância social e econômica entre nós, e ampliaríamos para valer a boa universidade e também a chance de um bom número de pessoas gastarem 4 anos para ter vivência universitária – isso é fundamental.

O que desejamos para nossos filhos é o que deveríamos desejar para os filhos dos outros. O resto é demagogia, hipocrisia e conversa fiada, e isso quando não é coisa pior, bem pior. EAD é boa coisa, mas não deveria servir como está servindo, para não fazermos, antes, o que deveria ser feito em termos de uma política educacional de gente séria.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo  24/06/2009

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Faculdades particulares: “Dê aula e se limite a isso”

Apesar da redução de salários e da carga horária, algumas universidades particulares têm aumentado o fluxo de trabalho de seus docentes com a adoção do ensino semipresencial em suas grades curriculares. Isto porque, conforme especialistas ouvidos pelo jornal Brasil de Fato, esse tipo de método educacional tem uma dinâmica diferente, requerendo mais tempo dos professores para a elaboração das atividades e correção de trabalhos.


O ensino à distância nas universidades particulares é regulamentada pelo Ministério da Educação (MEC). De acordo com a Portaria 4.059, de 10 DE dezembro de 2004, as instituições podem ofertar disciplinas semipresenciais em seus currículos, desde que não seja ultrapassado o limite de 20% da carga horária total do curso.

Contudo, a adoção do ensino semipresencial por essas universidades significa apenas a possibilidade de abater o “custo-benefício por cabeça”. É isso que pensa o secretário do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Rondon de Castro. Ao regulamentar tal método, para Castro, o governo mostra que sua real intenção “está longe da qualidade do ensino, e sim de obter um número para computação em seus relatórios”.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Professores de Instituições Particulares de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes), Valdyr Arnaldo Lessnau Perrini, o ensino semipresencial é um “verdadeiro câncer” que tem se espalhado no ensino superior. Ele afirma que o método é válido para regiões longínquas, onde há dificuldades de locomoção dos estudantes até as instituições. “Mas esses cursos à distância estão se espalhando na graduação e os cursos que são presenciais começam a ter um percentual significativo de aulas à distância, isso para liberar a sala de aula e botar mais alunos”, explica o sindicalista.

Professores têm que lecionar conforme manuais pré-estabelecidos pelas universidades e são sobrecarregados com um número maior de alunos devido à adoção do ensino semipresencial .


Como consequência, os professores passam a ter mais alunos sob sua responsabilidade com as turmas semipresenciais. “Ele não vai ter aquele limite físico de 60, 70, 80 pessoas por aula. O mesmo professor vai ter 200, 300 alunos à distância. Vai ter mais provas para corrigir e mais dificuldades, porque é toda uma filosofia nova de ensino”, pondera Perrini.
Menos participação

Segundo Castro, a adoção do ensino à distância nas universidades particulares faz parte do processo de tecnização do ensino superior. Ele avalia de forma negativa a condução do ensino superior para o caráter técnico, porque visa apenas a formação de mão de obra. Segundo o diretor do Andes, a prática resulta na precarização do trabalho docente, já que impõe manuais aos professores, afastando-os da pesquisa e da extensão.

“Antes você discutia propostas para os cursos, linhas de atuação, dava sugestões e havia um bom espaço para isso. Atualmente, o professor é contratado e tem de se encaixar num modelo pronto, deve lecionar diversas disciplinas distintas e recebe um plano de aula fechado, com poucas possibilidades de criação”, relata o professor Dorival Reis (nome fictício). De acordo com o docente, que leciona há 27 anos, o nível de participação dos professores nas universidades particulares caiu bastante nos últimos anos.

Somando-se às críticas, Walcyr de Oliveira Barros, vice-presidente da Regional do Rio de Janeiro do Andes, explica que os professores têm que se submeter às regras impostas pelas universidades, porque não têm a estabilidade no emprego que lhes garantiria segurança para se contrapor. “Para esse sistema privado, a lógica imposta para o docente é que ele dê aula, aula de conteúdo técnico e se limite especificamente a isso”, resume.

Brasil de Fato

Biblioteca Nacional vira forno no verão!

Temperatura chegou a mais de 47ºc. Servidores fazem protesto por melhores condições
No "forno" da Biblioteca Nacional, livros e documentos em risco


Para denunciarem as condições precárias que enfrentam no cotidiano, servidores da Biblioteca Nacional fizeram um protesto nas escadarias da instituição, na Cinelândia, na tarde desta quarta-feira(19). 

Enquanto ele se manifestavam na rua, no interior do prédio o Jornal do Brasil constatou que enquanto ao ar livre a temperatura beirava os 30ºc, no interior da Biblioteca Nacional chegava a 47,4ºc. "Em um dia com calor de até 42ºc, a temperatura vai a 54ºc. É desumano trabalhar assim", definiu Flavia Cezar, diretora da Associação dos Servidores da Fundação Biblioteca Nacional.


Protesto animado

Para reclamarem da alta temperatura a que estão sujeitos no dia-a-dia, os manifestantes recorreram à criatividade e à ironia: colocaram chifres e tridentes de diabo, simbolizando o inferno a que se submetem no trabalho.

Os problemas não se limitam à alta temperatura dentro do prédio e tampouco são novos. Lia Jordão, vice-presidente da Associação dos Servidores da Fundação Biblioteca Nacional, lembrou que os problemas não são recentes:


"É um problema que vem se agravando no último ano. Não houve a devida manutenção, e o resultado é o que vimos hoje. Além do calor, sofremos com a chuva, que se for muito forte acaba molhando os livros no último andar e. Com esse calor, qualquer um sua, e aí pode também contribuir para deteriorar o acervo", explicou Lia.

O movimento, segundo Flávia Cezar, também diminuiu consideravelmente. "Normalmente, vinham de 300 a 400 pessoas por dia para consultas a livros e documentos. Hoje em dia, com essas condições, se 100 pessoas vêm à Biblioteca já é muito", explicou.

No dia 11 de novembro, inclusive, houve um acidente que por pouco não atingiu quatro funcionários: Uma grade de ar condicionado caiu no 5º andar. O motivo foi o suporte de madeira ter sido inteiramente devorado por cupins.

"Os insetos, com o calor e a umidade, se proliferam depressa. Isso é um perigo para os livros e para as instalações", disse um funcionário, que não quis se identificar. Flavia  que ainda explicou o motivo de tanto calor:

"O teto da Biblioteca Nacional tem uma claraboia que funciona como uma estufa. Quando a luz do sol entra, é um desespero"

Assim que ficou registrado a temperatura de 47,4ºC, às 13h29 no 5º andar do prédio, um funcionário brincou: "E hoje nem está tão quente, hein?", o que era uma verdade: às 13h44, na Cinelândia, a temperatura era de 30ºC.

Laudo do Iphan confirma preocupação

O laudo técnico realizado por técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional é claro: Há diversas falhas encontradas nas instalações da Biblioteca Nacional. 

Em um trecho do laudo, na página 6, lê-se:

"Em razão do exposto, faz-se urgentemente necessário executar vistorias semestrais interna e externamente, em toda a construção, paralelamente a execução de rigorosos levantamentos do estado de conservação e danos nas paredes, esquadrias, tetos e pisos, bem como nas diversas instalações, particularmente hidráulicas e de ar condicionado".

A data do laudo é 13 de setembro de 2012, sob o ofício 07/2012 e assinado por Maria Cristina Vereza Lodi, superintendente do Iphan.

Três meses depois da perícia, pouco ou nada foi feito pela Biblioteca Nacional."Queremos sensibilizar as autoridades para que resolvam essa situação, a presidente Dilma e a ministra Marta Suplicy, que inclusive esteve aqui recentemente", finalizou Lia Jordão.

Biblioteca Nacional responde

Em nota, a Fundação Biblioteca Nacional informa que "mantém permanente monitoramento de temperatura das áreas com guarda de acervo da Biblioteca Nacional. Além disso, a FBN informa que a reforma do sistema complementar de ar condicionado foi concluída dia 17 de novembro e desde então está em fase de teste. O teste definitivo será feito nos dias 23 e 24/12.  Sobre o incidente do dia 11/12, quando houve a queda de uma grade de proteção do retorno de ar condicionado do 5º andar do prédio-sede, os técnicos de arquitetura e de segurança da FBN constataram que o incidente foi pontual e que não há qualquer tipo de risco para o acervo ou as equipes."(?)

JB

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

“Este é o começo da terceira intifada palestiniana"

Uma terceira intifada palestina está no horizonte?


Hebron, Palestina – Batalhões da União Nacional, um novo grupo que reúne partidários de todo o espectro político palestino, convocou uma terceira intifada (levantamento popular) contra a ocupação, ao mesmo tempo em que a espionagem israelense alerta que estão dadas as condições para isso na Cisjordânia. Os dois pronunciamentos ocorrem após uma série de protestos e confrontos entre soldados de Israel e jovens palestinos em diferentes localidades da Cisjordânia no final da semana passada, após a morte de Mohammad Salayma, de 17 anos, às mãos de um guarda fronteiriço em Hebron.

Seguidores de Hamas (Movimento de Resistência Islâmica), Fatah, Jihad Islâmica e Frente Popular de Libertação da Palestina anunciaram a criação dos Batalhões da União Nacional (BUN), por intermédio de um vídeo distribuído no mesmo final de semana.

O novo grupo propõe-se consolidar a luta contra Israel. Embora tenha apoiado o reconhecimento pela Organização das Nações Unidas (ONU) da Palestina como membro observador, declarou que lutará para “recuperar toda a Palestina, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão”. Segundo o vídeo, “este é o começo da terceira intifada palestina, que começa no coração de Hebron e se propagará por toda a Palestina”. As duas revoltas populares anteriores aconteceram entre 1987 e 1993 e de 2000 a 2005.

Os membros dos BUN ameaçaram sequestrar soldados de Israel caso as forças militares desse país não suspendam a detenção de cidadãos palestinos. Também disseram que se o Estado judeu continuar a matar civis com impunidade pagará pela mesma moeda.

As exigências do grupo incluem a eliminação dos postos de controle na Cisjordânia, a libertação de todos os presos palestinos das prisões de Israel, a retirada deste país dos territórios que ocupa e a transferência para a Autoridade Nacional Palestina (ANP) da arrecadação de impostos, confiscada pelo Estado judeu desde que melhorou o seu status na ONU. Também reclamam a abertura de todas as passagens fronteiriças e o fornecimento de água e eletricidade à assediada Faixa de Gaza.

A declaração foi difundida no dia 14, um dia após a morte de Salayma, sobre a qual soldados israelenses alegaram que foram ameaçados com uma arma de plástico. Contudo, a família do jovem deu à IPS uma outra versão para o caso. “Duvido que Mohammad tivesse uma arma de plástico. Creio que os israelenses a colocaram depois do disparo”, denunciou à IPS o tio do rapaz, um polícia da ANP. Ele acrescentou que “era o aniversário de Salayma, que saiu para comprar um bolo para comemorar. Para ir à loja tinha que passar por um posto de controle militar, na ida e na volta. Se tivesse a réplica de uma arma, a máquina de raio X tê-la-ia detetado”.

Nasim Salayma, de 22 anos, primo da vítima, afirmou que “era um estudante feliz e inteligente, e representou a equipa palestina de luta na França. Voltava para casa com o bolo e somos obrigados a acreditar, de repente, que tentou impor-se a um grupo de soldados treinados e fortemente armados? Ele não era estúpido”.

Organizações internacionais defensoras dos direitos humanos, bem como palestinos e israelenses, registaram ao longo dos anos numerosos casos de palestinos assassinados por soldados israelenses em circunstâncias extremamente controversas. Do que não resta dúvida é que este último assassinato gerou um profundo mal-estar. Centenas de jovens saíram às ruas de Hebron no dia 13 para expressar o seu descontentamento contra os soldados israelenses, atirando pedras e queimando pneus.

Dezenas deles ficaram feridos, alguns gravemente, atingidos por munições reais e gás lacrimogêneo. Os protestos espalharam-se a outros povoados e outras cidades da Cisjordânia. A IPS testemunhou confrontos em Hebron no dia seguinte, durante uma manifestação de partidários do Hamas que comemoravam o 25º aniversário da criação desse movimento.

Foi a primeira vez em anos que a ANP permitiu ao Hamas organizar uma manifestação na Cisjordânia, no contexto de uma aproximação entre essa organização e o Fatah, principais partidos palestinos arquirrivais. Os pequenos passos para a unidade foram dados após o fortalecimento político do Hamas, depois do último ataque israelita contra Gaza, de 14 a 21 de novembro, que uniu os palestinos de todas as facções. As forças de segurança dos dois partidos também reduziram drasticamente o número de detenções mútuas.

Essa situação fez com que a imagem do Hamas crescesse na Cisjordânia, somada à próxima transferência por Israel de vários presos dessa organização de Gaza para a Cisjordânia, e pode consolidar mais a sua presença neste território palestino. Outro elemento que pode contribuir para nova insurreição popular é o possível colapso ou a dissolução da ANP pelo fato de o Estado judeu confiscar mais de 1 milhão de dólares de impostos dos palestinos.

A ANP é a fonte de rendimento de várias centenas de famílias palestinas, o que faz numerosos especialistas preverem que um desemprego em massa se seguirá à dissolução desta entidade e deixará os palestinos numa situação desesperadora. A indignação dos palestinos aumentou com o recrudescimento de ataques de colonos israelitas e a contínua expropriação das suas terras. Além disso, depois do reconhecimento internacional que significou a melhora de status dentro ONU, cresceu o sonho de um Estado próprio.

Enquanto isso, a Shin Bet, a agência de espionagem interna, observou que o mal estar generalizado nos territórios ocupados pode fomentar o desenvolvimento de um tipo de infraestrutura capaz de incentivar uma terceira intifada, segundo a imprensa israelense.

Carta Maior

domingo, 23 de dezembro de 2012

Biólogos descobrem novas espécies em Cabo Frio

O nudibrânquio Tambja stegosauriformis é uma espécie descoberta nos últimos anos, inicialmente em Arraial do Cabo e depois em Cabo Frio. Contém o composto tambjamina K, que apresenta atividade de combate a células de câncer.

Considerada excelente para banho por estar há anos livre da poluição, segundo análises do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), a Praia das Conchas, no Peró, em Cabo Frio, não é um paraíso somente para os banhistas. Ela também é um refúgio ecológico de animais marinhos que somente agora estão sendo descobertos. 

Depois de nove anos de mergulhos no costão rochoso das Conchas, um grupo de biólogos encontrou e fotografou dezenas de espécies de invertebrados marinhos, sendo que pelo menos dez, de acordo com os pesquisadores, são espécies novas para a ciência. Alguns animais, em sua maioria nudibrânquios (pequenos moluscos marinhos sem concha), também foram encontrados em ilhas de Cabo Frio, em Búzios e Arraial do Cabo.


A descoberta traz à tona uma antiga reivindicação de ambientalistas para que a faixa litorânea que vai da Praia das Conchas a Tucuns, em Búzios, seja transformada em reserva extrativista, como a existente em Arraial do Cabo. O Parque Estadual da Costa do Sol, criado recentemente, protege apenas a parte costeira. Os recém-concursados guardas-parque são atuantes em terra, mas pouco podem fazer para combater a pesca predatória, feita por embarcações de outros estados, que dizimam a fauna marinha com a pesca de arrasto. Regularmente, a ONG Ondas do Peró, formada por surfistas e ambientalistas, realiza mutirões para limpeza das praias. A próxima campanha será em janeiro do ano que vem.

Biólogo marinho, mestre em zoologia pela UFRJ e doutorando da Universidade de Munique, na Alemanha, Vinicius Padula iniciou suas pesquisas nas Conchas em 2003. Com o tempo, outros biólogos juntaram-se a ele. Foram encontradas na Praia das Conchas, além dos moluscos, espécies nunca vistas de esponjas e planárias marinhas. Entre 16 tipos de esponjas encontradas pelo grupo de especialistas, cinco não eram conhecidas.

— Em cerca de nove anos de pesquisas, apenas na Praia das Conchas, 55 espécies de nudibrânquios foram encontradas, das quais dez nunca haviam sido vistas antes. Colegas fotógrafos submarinos e biólogos não acreditavam que algumas das fotografadas haviam sido achadas no Brasil. Acabou que tive que ir para a água com eles para mostrar pessoalmente essas espécies — conta Padula.


Inimigos na terra e no mar

Padula lembra que a região de Cabo Frio e Arraial do Cabo é favorecida pela ressurgência — fenômeno que leva à costa águas frias e ricas em nutrientes — possibilitando grande biodiversidade. Dentro da água, problemas com pesca predatória, embarcações velozes e o aumento da quantidade de dejetos, principalmente esgoto, são os maiores inimigos da fauna marinha.

O biólogo lamenta o número reduzido de estudos sobre a fauna marinha da região e garante que até mesmo os pesquisadores se surpreendem com a diversidade de espécies encontradas.

Depois de conhecer o estudo sobre as espécies encontradas na Praia das Conchas, o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, disse que ele servirá como base para a ampliação da área marinha protegida no âmbito do plano de manejo do Parque da Costa do Sol:
— Na elaboração do plano, vamos ampliar a proteção para a área marinha com base nesse e em futuros estudos. Será um local destinado à pesquisa científica e ao turismo ecológico. O trabalho dos biólogos só aumenta nossa responsabilidade com a região.

Minc afirmou, ainda, que a pesquisa valoriza a briga pela preservação das espécies. Ele pretende pedir o material aos pesquisadores para produzir painéis de divulgação da riqueza da fauna local. Minc garantiu que os novos guardas-parque vão dedicar atenção especial à causa. O início da alta temporada na Região dos Lagos, com a chegada do verão, preocupa os biólogos.

O Globo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Digitar as notas no Conexão NÃO É FUNÇÃO DO PROFESSOR!!!


Sepe mantém a orientação de não lançar a nota no Conexão Educação


As Coordenadorias Metropolitanas continuam pressionando os professores a lançarem notas pelo Conexão Educação, embora a SEEDUC negue que esteja incentivando ou tenha dado ordens diretas para que tais medidas fossem levadas a cabo pelas direções das Metros. Nos últimos dias, o Sepe tem recebido diversas denúncias de que algumas Coordenadorias, em todo o estado, como em Angra e São João de Meriti, vêm assediando os profissionais para que lancem as notas no programa.

O Sepe reafirma à categoria que a nossa orientação é a de que o professor não lance a nota no programa: digitar as notas no Conexão NÃO É FUNÇÃO DO PROFESSOR! 

Dessa forma, não podemos aceitar esta dupla função, a de professor e de secretário, que deveria ser o responsável pelo lançamento das notas no Conexão.

Recentemente, como prova desse verdadeiro assédio, a Metro VII convocou professores de São João de Meriti, determinando que eles justificasem “o não cumprimento das resoluções e portarias da Seeduc” a respeito do lançamento das notas no programa.

Nesta convocação, o coordenador da Metro VII informa o conteúdo das resoluções e comunica também que, caso os professores não cumpram as resoluções – ou seja, não apliquem o Conexão -, “será devidamente registrado e informado à Secretaria, caso a justificativa não seja considerada plausível e justificável, ficando os servidores cientes das sanções que possam vir a sofrer”.

A conclusão do documento da Metro VII, como podemos ler, por si só é merecedora da mais alta rejeição por parte do Sepe e da categoria – trata-se de uma ameaça aos professores convocados, o que demonstra um total descumprimento do estatuto do servidor por parte da chefia; de maneira alguma um chefe pode utilizar seu cargo para fazer ameaças aos servidores. 

É uma prática arbitrária e truculenta, que não pode ocorrer no serviço público e muito menos na Educação.

Lembrando, o que a Metro, aparentemente, não sabe: o lançamento das notas no Conexão não é obrigatório por parte dos professores – isso foi dito inclusive pelo próprio secretário Risolia, em várias reuniões com a diretoria do sindicato. 

A diretoria do sindicato informa que este assédio será devidamente comunicado ao secretário na audiência que será realizada nesta sexta-feira, dia 21.


Sepe entrou na Justiça contra o Conexao

O Sepe entrou com uma ação no Tribunal de Justiça do Rio contra a implementação do programa (Processo nº 0266856-08.2010.8.19.0001). Nossa ação tem dois argumentos principais: 

1) A dupla função que o Conexão obriga o profissional a fazer, causando diversos problemas inclusive de saúde aos profissionais, com a enorme sobrecarga de trabalho; 

2) A falta de condições de trabalho nas escolas (internet lenta ou inexistente; turmas superlotadas, falta de computadores ou computadores obsoletos nas unidades etc).

Além disso, podemos afirmar que um professor tem ao menos cinco motivos para não lançar as notas:

1) Não concorda com o programa;

2) Não concorda em assinar o termo de responsabilidade do Conexão – afinal, como assinar um termo em que os lançamentos não são de total responsabilidade do professor? Isso porque o programa está aberto a outras pessoas na escola; 

3) O professor que entrou depois de 2007 ainda não recebeu o laptop do estado; já aquele que recebeu antes dessa data tem um computador obsoleto, que não suporta o programa;

4) A instabilidade técnica do programa; 

5) A enorme sobrecarga que o programa causa aos professores. Por exemplo: um professor Doc. 1 de Sociologia de 40 horas, com 30 turmas e que só tem um tempo de aula, assim como o de Filosofia, terão que lançar a nota de cerca de 1200 alunos por bimestre. Isso sem contar com a aplicação e correção de três instrumentos (exercícios e provas) no bimestre. Ou seja, para dar conta, o professor tem que trabalhar em casa para lançar essas notas, que já estão no diário de classe.

Em cima dessa discussão proposta pelo Sepe na ação judicial, no dia 14/12, o juiz da 7ª Vara de Fazenda Pública, onde corre o processo, Eduardo Antonio Klausner, concedeu o seguinte despacho, indagando à Seeduc: 

“Comprove a parte ré (Secretaria) ter capacitado os professores e fornecido o material necessário, se for o caso, para o cumprimento do ato administrativo objeto da presente demanda. Caso não seja necessário material especial, ou o mesmo já esteja disponível em unidade na qual o docente é lotado, também esclareça e prove a parte ré.”

Este despacho demonstra que estamos no bom caminho, dentro do Judiciário, para conseguirmos barrar mais este ataque do governo. O despacho também mostra a necessidade da categoria enviar ao Sepe o máximo de exemplos dos problemas que vem tendo com o Conexão – para isso pedimos aos profissionais que enviem e-mails, narrando estes problemas, com a devida identificação (nome completo, local de trabalho, matrícula) e detalhamento do que ocorreu. Por exemplo: a instabilidade do sistema, a superlotação das salas ou a falta de uma rede de internet decente na escola.

Em 2013, o governo já demonstra que vai pressionar ainda mais a categoria para lançar as notas. Cabe à categoria resistir. Não se trata, como o governador Cabral volta e meia afirma, de os profissionais serem contra todos os projetos do executivo. Na verdade, lutamos contra um projeto maior da Seeduc, em que o Conexão é apenas mais uma engrenagem; um projeto maior que visa atacar a escola publica, em apoio direto ao ensino privado; um projeto que tem como uma das bases a política meritocrática, que o Conexão se insere especialmente. Contra esse projeto maior os profissionais vão se bater, seja com ações no Judiciário, como estamos fazendo, seja principalmente na mobilização da comunidade escolar.

SEPE RJ

Resolvido o mistério do 13º dos professores!!!

Erro reduz 13º salário de professores da rede estadual


Professores da rede estadual voltaram a ser surpreendidos com descontos em seus pagamentos. Desta vez, os docentes do Rio de Janeiro que têm GLP (hora-extra) tiveram a segunda parcela do 13º reduzida.

O governo estadual já encontrou o erro e promete pagar a diferença até o fim do ano. Em nota, a Secretaria Estadual de Planejamento informou que elabora uma folha complementar de ajuste do 13º salário por causa “de problemas no cálculo das parcelas variáveis, como a GLP dos professores”. Segundo a pasta, o erro foi consequência da migração do antigo sistema (Sape) para o SIGRH-RJ, em junho deste ano.

A Secretaria de Planejamento deve divulgar ainda hoje quantos servidores estarão na folha de ajuste e quando o dinheiro será depositado nas contas deles.

Diversos professores procuraram a Coluna para denunciar o erro no sistema. Alguns lembraram que ainda esperam o pagamento do que foi desconto no bônus Auxílio Qualificação. Por causa de erro no sistema, foi descontado Imposto de Renda no adicional. Com isso, professores deixaram de receber o valor total de R$ 500. Ainda não há previsão para o acerto.

O Dia

“VAMOS PRECISAR DE ESTÔMAGO FORTE” EM 2013


2013 VAI SER DIFÍCIL


Um espectro ronda a política brasileira. O fantasma da próxima eleição presidencial.

Este ano já foi marcado por ele.

Ou alguém acredita que é genuína a inspiração ética por trás da recente onda moralista, que são sinceras as manchetes a saudar “o julgamento do século”? Que essas coisas são mais que capítulos da luta política cujo desfecho ocorrerá em outubro de 2014?

A história dos últimos 10 anos foi marcada por três apostas equivocadas que as elites brasileiras, seus intelectuais e porta-vozes fizeram. A primeira aconteceu em 2002, quando imaginaram que Lula não venceria e que, se vencesse, seria incapaz de fazer um bom governo.

Estavam convencidos de que o povo se recusaria a votar em alguém como ele, tão parecido com as pessoas comuns. Que terminaria a eleição com os 30% de petistas existentes. E que, por isso, o adversário de Lula naquela eleição, quem quer que fosse, ganharia.

O cálculo deu errado, mas não porque ele acabou por contrariar o prognóstico. No fundo, todos sabiam que a rejeição de Fernando Henrique Cardoso não era impossível que José Serra perdesse.

A verdadeira aposta era outra: Lula seria um fracasso como presidente. Sua vitória seria um remédio amargo que o Brasil precisaria tomar. Para nunca mais querer repeti-lo.

Quando veio o “mensalão”, raciocinaram que bastaria aproveitar o episódio. Estava para se cumprir a profecia de que o PT não ultrapassaria 2006. Só que Lula venceu outra vez e a segunda aposta também deu errado. E ele fez um novo governo melhor que o primeiro, aos olhos da quase totalidade da opinião pública. Em todos os quesitos relevantes, as pessoas o compararam positivamente aos de seus antecessores, em especial aos oito anos tucanos.

A terceira aposta foi a de que o PT perderia a eleição de 2010, pois não tinha um nome para derrotar o PSDB. Que ali terminaria a exageradamente longa hegemonia petista na política nacional. De fato não tinha, mas havia Lula e seu tirocínio. Ele percebeu que, Com Dilma Rousseff, poderia vencer.

O PT ultrapassou as barreiras de 2002, 2006 e 2010.

Estamos em marcha batida para 2014 e as oposições, especialmente seu núcleo duro empresarial e midiático, se convenceram de que não podem se dar ao luxo de uma quarta aposta errada. Que o PT não vai perder, por incompetência ou falta de nomes, a próxima eleição. Terão de derrotá-lo.

Mas elas se tornaram cada vez mais descretes da eficácia de uma estratégia apenas positiva. Desconfiam que não têm uma candidatura capaz de entusiasmar o eleitorado e não sabem o que dizer ao País. Perderam tempo com Serra, Geraldo Alckmin mostrou-se excessivamente regional e Aécio Neves é quase desconhecido pela parte do eleitorado que conta, pois decide a eleição.

Como mostram as pesquisas, tampouco conseguiram persuadir o País de que “as coisas vão mal”. Por mais que o noticiário da grande mídia e seus “formadores de opinião” insistam em pintar quadros catastróficos, falando sem parar em crises e problemas, a maioria acha que estamos bem. Sensação que é o fundamento da ideia de continuidade.

As oposições perceberam que não leva a nada repetir chavões como “o País até que avançou, mas poderia estar melhor”, “Tudo de positivo que houve nas administrações petistas foi herança de FHC”, “Lula só deu certo porque é sortudo” e “Dilma é limitada e má administradora”. A população não acredita nessa conversa. Faltam nomes e argumentos às oposições. Estão sem diagnóstico e sem propostas para o Brasil, melhores e mais convincentes que aquelas do PT.

Nem por isso vão cruzar os braços e aguardar passivamente uma nova derrota. Se não dá certo por bem, que seja por mal. Se não vai na boa, que seja no tranco.

Fazer política negativa é legítimo, ainda que desagradável. Denúncias, boatos, hipocrisias, encenações, tudo isso é arma usada mundo afora na briga política.

A retórica anticorrupção é o bastião que resta ao antilulopetismo. Mas precisa ser turbinada e amplificada. Fundamentalmente, porque a maioria das pessoas considera os políticos oposicionistas tão corruptos – ou mais – que os petistas.

O que fazer? Aumentar o tom, falar alto, criar a imagem de que vivemos a época dos piores escandalos de todos os tempos. Produzir uma denúncia, uma intriga, uma acusação atrás da outra.

Pelo andar da carruagem, é o que veremos na mídia e no discurso oposicionista ao longo de 2013. Já começou.

Vamos precisar de estômago forte. 

Marcos Coimbra