Passadas mais de 30 horas do roubo de um carro carregado com equipamento com produto radioativo, os responsáveis pela Arcteste Serviços de Inspeção e Manutenção Industrial, empresa especializada em solda industrial, continuam apreensivos, aguardando notícias do veículo. Segundo o representante administrativo da empresa, Silas Vieira, eles estão mantendo uma equipe de plantão para a necessidade de resgate do equipamento.
— Como manda o protocolo,o resgate do equipamento tem que ser feito por no mínimo dois funcionários com curso de manuseio de cargas perigosas, que vão usar equipamentos de proteção — explicou ele, que acrescentou ainda: - Um dos equipamentos de segurança é um (contador) geiger, que mede o nível de radiação no local, além de um detector que emite um bipe sonoro no caso de vazamento de radiação — completou Silas, acrescentando que é a primeira vez que a empresa tem um equipamento deste tipo roubado.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) também alertou a população para o risco de contaminação de quem venha a manipular o equipamento com a fonte radioativa. Os efeitos do contato do material com a pele pode gerar queimaduras e até a morte. Segundo Ivan Salati, diretor de Rádio Proteção e Segurança Nuclear da comissão, a fonte está encapsulada e guardada dentro do equipamento, que não deve ser aberto:
— Se permanecer dentro do equipamento, a fonte oferece risco quase nulo. Os efeitos do contato não são instantâneos, podem demorar a aparecer. Quanto mais prolongado o contato, mais intensos podem ser os danos ao organismo. A cápsula em si tem poucos centímetros — explicou o físico.
Ivan disse ainda que os raios gama só afetam quem manusear a fonte ou permanecer por um período prolongado, como alguns dias, a uma distância de cerca de um metro da cápsula. O físico explicou que o equipamento possui selênio em seu interior, material que tem 100 vezes menos atividade que o césio, elemento usado nas usinas nucleares. A cada 120 dias, a energia do selênio diminui pela metade, enquanto a do césio leva 30 anos para que o mesmo ocorra.
— Esse material, numa escala decrescente de 1 a 5, pertence a categoria 3 em relação a sua intensidade, o que demanda cuidados para quem manipula — acrescentou Ivan.
Os raios gama do selênio costumam ser usados por indústrias para verificar a qualidade da solda em materiais diversos. Com eles, é possível fazer uma espécie de radiografia dos equipamentos. Segundo Ivan, o selênio foi bastante usado na confecção do gasoduto Brasil-Bolívia, no qual as soldas precisavam de uma garantia para se requisitar o serviço de seguro. O diretor disse ainda que o equipamento não tem valor de mercado, já que sua compra e venda está restrita a um número pequeno de empresas, constantemente fiscalizadas pela comissão.
Bombeiros, Defesa Civil e CNEN trabalham em parceria com a Segurança Pública do estado para resgatar o equipamento. O grupo não acredita na possibilidade de um roubo planejado do material radioativo.
— Trabalhamos com a hipótese de um roubo aleatório, já que aquele é um local conhecido como de risco — disse Sérgio Simões, secretário de Defesa Civil e comandante do Corpo de Bombeiros.
O delegado titular da 59ª DP (Caxias), Cláudio Vieira, afirmou que estão sendo feitas diligências na região em busca do veículo. Ele afirmou, no entanto, que o fato de o carro não ter GPS dificulta muito o trabalho de localização da polícia.
O diretor da CNEN, Ivan, disse, no entanto, não haver qualquer exigência legal para veículos que façam transporte de materiais radioativos terem GPS:
— A ocorrência desse tipo de problema é baixíssima, embora arriscada quando ocorre. É algo que a gente pode discutir para aperfeiçoar.
O carro, que está identificado com adesivos da empresa, foi roubado na noite de sábado, na Via Dutra, altura da Pavuna, por quatro bandidos armados que fugiram em direção à Avenida Brasil. O veículo, um Renault Logan prata, com placa ENX 3304, de Paulínia (SP), trazia no porta-malas um irradiador com Selênio 75, usado para fazer raio-x de soldas. A empresa pede que qualquer pessoa que encontre o equipamento ligue imediatamente para 3654-6473.
Também podem ser acionados a PM (190), os Bombeiros (193), a Defesa Civil (199), o Disque-Denúncia (2253-1177) e o CNEN (9218-6602 e 2173-2920).
O Globo
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