quinta-feira, 28 de abril de 2011

Os verdadeiros objetivos dos Estados Unidos na Líbia

Paul Robert Craig, em entrevista à Press TV, no Panamá. Ele fala sobre os verdadeiros objetivos dos Estados Unidos na Líbia e por que Barack Obama precisa derrubar Kadafi, quando nenhum outro Presidente dos Estados Unidos o fez.
É interessante a gente examinar esse tema, porque vai virando senso comum: “Vamos derrubar o Presidente da Síria, vamos derrubar o Presidente da Líbia, vamos derrubar o Presidente do Irã”. Vamos derrubar, principalmente, aqueles que interessam aos americanos que caiam, porque realizam um governo que, por alguma razão, cria obstáculos para o domínio completo, especialmente naquela área do Mediterrâneo.
Vejam a pergunta da Press TV:
“A Rússia criticou a OTAN por ir muito além do mandato da ONU.” Uma outra notícia fala de um artigo de opinião que terá sido escrito por Obama, Cameron e Sarkozi, que disseram que deixar Kadafi no poder seria uma traição irresponsável ao povo Líbio. Sabemos que mandato não exige mudança de regime, e a administração Obama diz que não estão lá para mudar o regime, mas as coisas parecem agora um pouco diferentes, não é verdade?
Então, responde Robert Craig:
Pois parecem. Antes de mais nada, note-se que os protestos na Líbia são diferentes dos do Egito, do Iêmen, do Bahrein, ou da Tunísia e a diferença é que aqui se trata de uma rebelião armada.
Há mais diferenças: outra é que estes protestos têm origem no leste da Líbia, onde há petróleo, não na capital. E temos ouvido desde o início relatos fidedignos de acordo com os quais a CIA está envolvida nos protestos, e tem havido um grande número de relatos da imprensa segundo os quais a CIA enviou para a Líbia os seus agentes líbios para comandar rebelião.
Na minha opinião [dele, do norte-americano; o homem é ex-Secretário Adjunto do Tesouro, então, deve ser uma figura importante, porque cuidar do Tesouro dos Estados Unidos não é coisa pequena], trata-se de afastar a China do Mediterrâneo. A China tem grandes investimentos em energia e em construção na Líbia. Os chineses apontam para a África como uma futura fonte de energia.
Os EUA estão a combater isso organizando o Comando Africano dos EUA (USAC), a que Kadafi recusou juntar-se. Essa é a segunda razão por que os americanos querem mandar Kadafi embora.
E a terceira razão é que a Líbia controla parte da costa mediterrânea, e não está em mãos norte-americanas.
Pergunta da Press TV:
Quem são os revolucionários? Os EUA dizem que não sabem com quem estão a lidar, mas considerando que a CIA está no terreno, em contato com os revolucionários, quem são as pessoas que vão governar a Líbia em uma eventual era pós-Kadafi?
Responde Robert Craig:
O fato de a Líbia ser ou não governada por revolucionários depende da CIA ganhar; ainda não sabemos. Como você disse anteriormente, a resolução da ONU impõe restrições sobre o que as forças europeias e norte-americanas podem alcançar na Líbia. Eles podem impor uma zona de exclusão aérea, mas não deveriam estar lá, lutando ao lado dos rebeldes.
Mas é claro que a CIA está a fazer isso. Então, estão a violar a resolução da ONU. Se a Otan, que agora representa a ‘comunidade internacional’, conseguir derrubar Kadafi, o próximo alvo será a Síria, que já foi diabolizada [pela mídia ocidental, controlada por eles.]
Porque é que a Síria é um alvo? Porque os russos têm uma grande base naval na Síria. E esta dá à marinha russa uma presença no Mediterrâneo; os EUA e a Otan não querem isso. Se forem bem sucedidos contra Kadafi, a Síria virá a seguir.
Já estão a responsabilizar o Irão pelo que se passa na Síria e na Líbia. O Irão é um alvo fundamental, porque é um Estado independente que não é um fantoche dos colonialistas ocidentais.
“Em relação à agenda expancionista do Ocidente [pergunta a Press TV], quando o mandato da ONU na Líbia foi debatido no Conselho de Segurança da ONU, a Rússia não o vetou. Certamente que a Rússia deve ter a atenção à política expansionista dos EUA, França e Grã-Bretanha.
[Responde Robert Craig]: Sim, têm de perceber isso, e o mesmo se aplica à China. É uma ameaça maior para a China, porque ela tem 50 grandes projetos de investimento no leste da Líbia. Então a questão é por que é que a Rússia e a China se abstêm em vez de vetar e bloquear? Não sabemos a resposta.
Possivelmente, estarão a pensar deixar os americanos avançar até o limite, ou talvez não tenham tido a intenção de confrontar os EUA com uma tomada de posição militar ou diplomática e ter uma avalanche de propaganda ocidental contra eles. Não sabemos as razões, mas sabemos que se abstiveram porque não concordavam com a política e continuam a criticá-la.
[Vem a Press TV em uma próxima pergunta]: Uma parcela considerável dos ativos de Kadafi nos EUA foi congelada, assim como em alguns outros países. Sabemos também que os revolucionários da Líbia criaram um banco central, que iniciaram a produção limitada de petróleo e que estão a negociar com empresas dos Estados Unidos e doutros países do Ocidente. Temos que colocar aqui uma questão, nunca vimos uma coisa assim acontecer no meio de uma revolução. Não acha estranho?
[Responde Robert Craig]: Sim, é muito estranho e muito sugestivo. Torna a colocar na ordem do dia os relatórios segundo os quais a CIA está na origem da designada revolta e dos protestos e de que está a fomentá-los e a controlá-los de uma maneira que exclui a China dos seus investimentos em petróleo líbio.
Na minha a opinião, o que está acontecendo é comparável ao que os EUA e a Grã-Bretanha fizeram ao Japão nos anos 1930.
Quando impediram o acesso do Japão ao petróleo, à borracha, aos minerais; foi essa a origem [ou uma das origens, digo eu] da II Guerra Mundial no Pacifico. E agora norte-americanos e britânicos estão a fazer a mesma coisa à China. A diferença é que a China tem armas nucleares e também tem uma economia mais forte que os norte-americanos. E assim, estes estão a correr um risco muito elevado, não apenas consigo próprios, mas com o resto do mundo. O mundo inteiro está em jogo com a ganância norte-americana, a arrogância norte-americana; o impulso para a hegemonia norte-americana no mundo está a levá-lo para uma [grande] guerra mundial.”

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