domingo, 8 de maio de 2011

Pânico no trabalho


Existem hoje inúmeras áreas de atividade profissional que são causadoras de doenças, chamadas ocupacionais. Além das patologias provocadas pelas condições de trabalho, que provocam danos à estrutura física das pessoas, temos hoje um grande contingente de trabalhadores que adoecem pela organização do trabalho.
Entende-se, por organização do trabalho, a maneira como ele é executado. Como exemplo, podemos citar os trabalhadores em atividades repetitivas ou nas quais os patrões estabelecem metas que devem ser cumpridas obrigatoriamente. Alguns desses setores de atividade profissional vitimam trabalhadores emocional e fisicamente, como é o caso dos trabalhadores em frigoríficos e em indústrias de roupas. Outras atividades adoecem o trabalhador emocionalmente, sendo que isso tem se tornado rotina entre professores de escolas públicas, policiais e trabalhadores da saúde, principalmente os que convivem com a linha de frente do atendimento.
Como médico psiquiatra tenho atendido um sem número de trabalhadores que desenvolvem um quadro emocional caracterizado por crises terríveis de ansiedade, durante as quais eles sentem o coração disparar, o fôlego ficar curto, as extremidades geladas e o peito oprimido. Tais sintomas caracterizam o que é classificado como “síndrome do pânico”, nas classificações de transtornos psiquiátricos.
Ao buscar o nexo causal de tais crises invariavelmente descubro a influência de um trabalho que se tornou penoso. É muito comum em professores de escolas públicas, que chegam a desenvolver um acentuado pavor até de chegar perto da escola, ou em policiais que, de tanto enfrentarem o perigo, passam a desenvolver um quadro de paranoia, não se desgrudando de suas armas nem quando vão dormir, em suas residências, no aconchego do lar, junto às suas famílias.
Se formos buscar que recursos os governos oferecem a tais trabalhadores para que recuperem sua sanidade emocional, vamos encontrar uma situação de descaso e negligência, pois a maioria dos governantes não está sensível a tais problemas. A preocupação maior deles é com a construção de obras, para atender à sanha voraz dos empreiteiros que financiaram suas campanhas e depois voltam para cobrar o preço de tal apoio. Apesar de que, nas campanhas eleitorais, a maioria dos políticos jura que vai cuidar dos servidores, que, segundo eles, terão todos os recursos necessários para trabalhar com dignidade, tudo fica só no discurso.
Nesse primeiro de maio, quando celebramos a data que marca o Dia do Trabalho, temos que repensar como está a saúde do trabalhador. Historicamente ela foi marcada por agravos físicos, como as contaminações por substâncias tóxicas ou por acidentes resultantes da falta de equipamentos de proteção individual e/ou coletivo. Na atualidade, no entanto, vemos o componente emocional provocando inúmeros casos de afastamento do trabalho, num processo de redução da autoestima do trabalhador, que se sente humilhado por ser “encostado” como se fosse uma peça estragada de uma engrenagem que não pode parar de funcionar.
Há que se ressaltar que tais trabalhadores não recebem nenhum apoio da Previdência Social, que deveria oferecer-lhes um serviço de reabilitação profissional, com apoio psicológico e social, para que superem os seus traumas. O que recebem, muitas vezes, são comentários desairosos de médicos peritos, que os tratam como preguiçosos e simuladores.
O Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu acaba de deliberar que vai iniciar forte movimento de atuação no sentido de denunciar as agressões sofridas pelos trabalhadores em seus locais de trabalho e a omissão das autoridades no sentido de evitar as mesmas, bem como ao negar-lhes apoio depois que adoecem. Nesse primeiro de maio queremos anunciar que os trabalhadores terão o nosso apoio na luta por sua saúde. Não podemos aceitar que o local de trabalho seja motivo de pânico. Ele tem que ser local de alegria, pois é nele que os homens e as mulheres exercitam aquilo que mais os dignifica: sua capacidade de realizar um trabalho.
José Elias Aiex Neto é médico psiquiatra da prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu e membro do Conselho Fiscal do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu.  

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