De todos os alunos matriculados no 6.º ano do ensino fundamental das
redes estaduais de Alagoas, Sergipe e Rio Grande do Norte, no ano
passado, apenas a metade foi aprovada para a série seguinte. A outra
parte foi reprovada ou abandonou a escola. Os dados - divulgados pelo
Inep e tabulados para o jornal O Estado de S.Paulo pelo economista
Ernesto Martins Faria, da Fundação Lemann - mostram como as primeiras
séries de cada ciclo escolar são as que concentram os picos de
reprovação e abandono.
Considerando as 27 unidades da Federação, por exemplo, só 11 delas
aprovam mais de 80% dos estudantes no 6.º ano (antiga 5.ª série). Uma
situação que se agrava ainda mais no primeiro ano do ensino médio,
quando nenhuma unidade da Federação atinge os 80% de aprovação. Nesse
caso, além do alto índice de reprovação, cresce também o porcentual de
alunos que abandonam os estudos. No Rio Grande do Norte, o índice dos
que saíram da escola chegou a 29%.
"São as dificuldades da transição. Quando vai para o 6.º ano, além da
mudança do formato - ele passa de um para vários professores -, alguns
estudantes também saem da rede municipal e vão para a estadual. Isso
impacta", explica Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.
No caso do ensino médio, acrescenta Mizne, os índices de reprovação
mostram que, além do currículo desinteressante, há uma falta de
aprendizagem acumulada. "É só lembrar que, como mostra a Prova Brasil,
apenas 10% dos alunos terminam o fundamental com o conhecimento adequado
de matemática."
No Rio Grande do Sul, Estado que menos aprova no primeiro ano do ensino
médio - apenas 54,2% estão aptos à série seguinte -, está prevista uma
mudança curricular atrelada à conscientização docente. "Temos esse
índice desde 1975. Precisamos fazer com que esses números sensibilizem
diretores e professores", admite o secretário estadual de Educação, José
Clovis de Azevedo.
Descaso
Segundo os especialistas, ao reprovar um aluno, a escola contribui para
que aumente o porcentual de estudantes com distorção entre série e
idade e pode fazer com que esse estudante se sinta estigmatizado. Isso
além do impacto financeiro, que passa dos R$14 bilhões.
Um sinal claro de que a escola não está cumprindo o seu papel. "Em um
bom sistema educacional, o índice de aprovação beira os 100%", afirma
Márcio da Costa, do grupo de pesquisas de sistemas educacionais da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Mas não adianta só
decidir aprovar, é preciso verificar as causas da repetência e
combatê-las."
Segundo ele, há casos em que a reprovação pode ser uma forma de
pressionar o aluno a abandonar a escola ou até uma punição por
indisciplina. "Basta ver que, caso apresentem o mesmo rendimento, é mais
comum o docente aprovar uma garota que um menino, que é
tradicionalmente mais travesso."
Tradição
Para o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, as
reprovações refletem a característica excludente da educação brasileira.
Em 2011, foram reprovados 9,6% dos estudantes do fundamental e de 13,1%
do médio.
"É inaceitável e segue a lógica restritiva de que estudar é algo só
para os que são considerados bons. Não é. Toda criança fica nove anos no
ensino fundamental e a tarefa da escola é garantir que elas saiam de lá
parecidas."
Mudar esse cenário é um movimento que, mesmo de forma lenta e sob
pressão, deve começar a acontecer. Isso porque o fluxo escolar é um dos
fatores que interferem no Ideb, o índice de desenvolvimento da educação
básica instituído em 2007, que, entre outros fatores, atrela o resultado
educacional a repasses financeiros.
No cálculo do Ideb, a nota de cada escola é a média entre a performance
dos estudantes na Prova Brasil e o porcentual de aprovação. Logo,
instituições com a mesma nota na prova podem ter índices de Ideb
diferentes.
UOL
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