Cabral, Paes, a canalhocracia brasileira e a luta dos professores do Rio de Janeiro
Meu avô materno, Gastão Fernandes de Oliveira (1921-1999), era comunista, lutou na Itália como soldado da FEB na Segunda Guerra Mundial contra o nazifascismo e estudou somente até o ensino primário. Desde os meus 6 anos de idade, ele me contava sobre a sua militância na "Célula 27 de Novembro" do Partido Comunista (PCB), em Brás de Pina, no Rio de Janeiro. Cresci ouvindo-o afirmar que sob o capitalismo não poderia existir uma verdadeira democracia, pois o poder não estava com o povo mas nas mãos dos endinheirados. Repetia sempre: "No capitalismo, quem tem dinheiro é doutor, quem não tem é cocô". E enfatizava sempre que o que os donos do poder chamavam de democracia na realidade era uma CANALHOCRACIA, isto é, o governo dos canalhas.
Assistindo a repressão ao movimento reivindicatório dos professores da rede municipal de educação do Rio de Janeiro, mais uma vez lembrei das palavras do meu avô.
Sérgio Cabral e Eduardo Paes estão mostrando a face nua e crua da CANALHOCRACIA brasileira.
Meu avô dizia que contra os canalhocratas só restava lutar.
Por isso, onde não há luta são os patrões que decidem a agenda e os termos do debate. Expressões como «exploração», «classe» ou «luta» estão banidas do léxico comum. Palavras como «greve» ou «paralisação» estão indelevelmente associadas ao «mal». Porque na língua universal do capitalismo a semântica é um instrumento de opressão e dominação de classe, onde não há luta chama-se «cidadania» às contradições insanáveis entre exploradores e explorados, e «educação» ao processo de adestramento para o mercado de trabalho, gerador e perpetuador das contradições sociais. Onde não há luta prevalece o medo.
No entanto, onde há luta os trabalhadores são mais fortes e é mais difícil aos patrões queimar as suas energias em idealismos vácuos e radicalismos inconsequentes. Onde há luta, nasce a consciência política e garante que a experiência acumulada fortaleça a certeza da vitória, não obstante as derrotas temporárias, e converge para a construção da unidade da categoria. Onde há luta, os trabalhadores não só marcam o passo da agenda política, como travam os interesses daqueles que visam o sucateamento da educação pública. Se não foram mais longe na destruição da escola pública, é porque sempre se depararam com a resistência daqueles que lutam. Evoco aqui os nomes de alguns educadores importantes nesta luta em defesa da escola pública: Florestan Fernandes, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Paulo Freire, entre muitos outros.
Onde há luta tudo é conquistável e potencialmente perdível. Mas onde não há luta a derrota é certa.
A LUTA É MAIS DO QUE JUSTA.
Conforme salienta o jornalista português e militante comunista Miguel Urbano Rodrigues:
A história ensina que na vida dos povos vítimas de uma opressão intolerável, as grandes lutas fermentam por tempo variável até que eles se levantam em explosões sociais vitoriosas. Então exercem o direito de resistência e à rebelião - direito que é antiquíssimo e consta do artigo 2º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão promulgada pela Revolução Francesa de 1789. É o direito à resistência contra a opressão econômica e social, direito que, após os horrores da Segunda Guerra Mundial, foi incluído na Declaração Universal dos Direitos do Homem (artigos 22 a 25).
A luta pela efetiva e verdadeira valorização do magistério também é uma das etapas da luta pela educação pública de qualidade.
Transformar a indignação numa atmosfera de combatividade crescente dos professores será um avanço. Nas palavras do educador marxista Paschoal Lemme, “o ensino e a educação só avançam, só progridem realmente quando as respectivas reformas resultam de transformações reais ocorridas na estrutura da sociedade, quando impulsionadas e realizadas pelas forças progressistas vitoriosas na luta pelo poder político”. Afirma que “uma das ilusões mais ingênuas dos educadores é a crença de que reformas educacionais transformam a sociedade, quando o que se dá é exatamente o contrário”.
Por isso, que se afirma que quando o professor está lutando também está ensinando. Porque é na luta que ele desenvolve um processo pedagógico diferenciado na sua relação com o educando. É lutando a melhor maneira de fazer da escola um espaço que venha a contribuir para a apropriação e produção de um modo de pensar diferente do que predominou historicamente.
Marcos Cesar de Oliveira Pinheiro - Professor de História da Rede Municipal de Ensino Público de Rio das Ostras.
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