Bombas e gás contra os manifestantes |
Até pessoas que não estavam na manifestação foram atingidas na Radial Oeste e Quinta da Boa Vista
A Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, e o entorno do Maracanã pareciam cenários de uma guerra durante a manifestação de estudantes contra o aumento do custo de vida, neste domingo. Numa ação em que mostrou despreparo, o Batalhão de Choque usou balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo e de pimenta contra o grupo de cerca de duas mil pessoas que protestava de forma pacífica.
Sobrou até para quem estava só passando por perto. A Polícia Militar, no entanto, negou que tenha havido excesso e afirmou que vai repetir a tática quando obstruírem vias (no caso de ontem, as que davam acesso ao estádio foram bloqueadas).
O grupo repetia gritos de guerra como ‘Sem violência’ e ‘Choque, eu te amo’. “Isto aqui é uma manifestação pacífica, então vamos combinar: quem tem pavio curto fica atrás. Quem tem paciência vai na frente. Sem violência, sem palavrão e sem máscaras. Ninguém precisa esconder o rosto”, orientou o estudante de direito Adolfo Vieira Tavares, 28 anos.
Muitos pais amarraram camisetas nos rostos das crianças para que elas não respirassem a fumaça das bombas lançadas na Quinta, onde parte dos manifestantes se aglomerou fugindo do Choque. Famílias que faziam piquenique saíram correndo. O portão do parque chegou a fechar.
“Só queria passar o domingo com meu filho. Estou chocada. Ele começou a chorar com o barulho dos tiros e com a ardência na garganta da fumaça”, contou a secretaria Maria José Silveira, 28. A confusão acabou com a festa de aniversário da filha de 9 anos da psicóloga Kelly Campos, 42: “As crianças estão assustadas. Não tem clima mais”.
A ação da polícia não poupou nem quem tentava embarcar na Estação de São Cristóvão, onde o metrô fechou depois da confusão. O militar Artur Bandeira e a namorada, Rayanne Oliveira, foram surpreendidos com bombas nos acesso às plataformas. Hoje haverá manifestação às 17h na Cinelândia.
Torcedores que iam ao jogo atingidos
A primeira ação da polícia começou cerca de 20 minutos antes das seleções do México e da Itália entrarem em campo. Foi em frente ao Viaduto Oduvaldo Cozzi, onde os manifestantes se agrupavam. No momento da confusão, torcedores que chegavam ao estádio acabaram também atingidos pelas bombas lançadas pelo Batalhão de Choque.
A estudante Erika Sampaio, 23 anos, que sofre de asma, ficou desmaiada por alguns minutos. Ela foi socorrida por colegas, que a carregaram no colo até um dos locais onde a fumaça das bombas estava mais fraca. O grupo se dispersou, mas se reuniu novamente em frente à Quinta.
Não demorou meia hora para que a polícia voltasse a agredir os manifestantes, que tentavam se rearticular. Da Quinta, grupo de 500 manifestantes foi levado para a 18 ª DP (Praça da Bandeira), onde sete pessoas foram detidas para averiguação. No local, estava a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, que conversou com os jovens rapidamente. Ela não quis falar sobre a ação da Polícia Militar, mas fez questão de atender o advogado do grupo detido.
NEGOCIAÇÃO NO PARQUE
Manifestantes saíram com as mãos para o alto, encurralados. Fotógrafo ficou ferido. Encurralados pelo Choque, estudantes buscaram refúgio perto do Museu Nacional, na Quinta. Muitos jornalistas e visitantes pediram aos policias que não entrassem no parque, o que não impediu que eles jogassem as bombas.
O grupo só deixou o local após um ‘acordo’ de que não fariam mais protesto com o fechamento de vias. Por volta de 18h, os jovens, que até então só estavam armados com gritos de ordem, se ‘renderam’, saindo com as mãos para cima. Uma cena bem estranha.
Os manifestantes disseram que tentaram seguir a determinação dos agentes de segurança e encaminharam ofício sexta-feira para o 4º BPM (São Cristóvão) informando sobre o ato. Além disso, não chegaram em frente ao Maracanã. por orientação da polícia. Entre os feridos no protesto está o fotógrafo Luiz Roberto Lima, que trabalha nas agências Globo e Estado. Ele passou mal ao inalar gás lacrimogêneo.
O Dia
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