Ou você exerce agora sua inalienável cidadania e exige o mínimo de lucidez das autoridades desta mui amada cidade do Rio de Janeiro, ou amanhã milhares de cidadãos de toda a região metropolitana pagarão o preço alto do mais terrível nó no trânsito produzido pelo poder autoritário da miopia e da insensatez.
Porque a esta altura só mesmo a mobilização dos cidadãos, principalmente dos que precisam atravessar a cidade, sem obstáculos de sinais, da Zona Sul à Avenida Brasil, à Linha Vermelha ou pegar a Ponte Rio-Niterói, será capaz de tirar a mais imprudente e perigosa das idéias que já passou pela cabeça de um prefeito, no caso Eduardo da Costa Paes, que acaba de completar 42 anos e não tem a menor idéia do que representou para os cariocas e moradores da Baixada a construção a duras penas da única grande via expressa do Rio de Janeiro, o elevado da Perimetral, que liga o aterro do Flamengo às grandes vias de escoamento da cidade em direção às zonas Norte, Oeste, Baixada e Niterói.
Primeiro, o inquieto prefeito disse que derrubaria o elevado no trecho que vai do Arsenal de Marinha, próximo à Praça Mauá, até o Viaduto do Gasômetro, sob a pífia alegação de que essa via essencial, por onde passam diariamente 95 mil veículos, enfeava seu mirabolante projeto do “Porto Maravilha”, numa temerária inversão de prioridades: como se a única preocupação de sua administração fosse “valorizar” a beira do cais, tudo o mais que vá a pique e quem quiser que embarque na mirabolância adjacente – a implantação de túneis em área de aterro precário e lençóis freáticos, já que, como sabem até os ginasianos, tudo aquilo ali foi tomado ao mar a partir do final do Século XIX, com a utilização de areia extraída dos morros próximos.
Para ser sincero, o prefeito só está pensando nessa extravagância urbana, de consequências imprevisíveis, porque está com o cofre abarrotado pelo dinheiro do PAC, esse projeto majestoso que só consegue sair do papel quando para injetar grana preta no sistema financeiro, em nome do financiamento habitacional.
No final do seu governo, Lula determinou ao Ministério do Trabalho que abrisse as torneiras do FGTS, fundo que pertence aos trabalhadores e não ao governo, e oferecesse casa, comida e roupa lavada ao projeto do Porto Maravilha, com que Eduardo Paes pretende carimbar sua passagem pela Prefeitura carioca.
Sem pestanejar, o ministro Carlos Lupi abriu uma linha de crédito de quase R$ 8 bilhões do FGTS (e ninguém piou porque, no final da linha os grandes beneficiários serão os empreiteiros e sabe Deus quem mais, e estes estão de bem – ou bens – com essa mídia de boca torta).
Sem todos os estudos preliminares impostos pela legislação, o prefeito foi logo anunciando que só para o bota abaixo do elevado gastaria mais de R$ 1 bilhão, dinheiro que poderia ser usado em construções e não em demolições.
Essa idéia nova de derrubar todo o viaduto da perimetral, agora até o Santos Dumont, – obra de 25 anos – e não apenas o trecho da alegada feiúra, parece muito mais produto de um cérebro com traumas de infância e admirações na adolescência por demolidores de quadrinhos.
Mas é também uma demonstração de força, do controle amplo, geral e irrestrito da Câmara dos Vereadores, e até mesmo da desatenção do ministério público.
Falta alguém com maior experiência, e um pingo de coragem, para soprar ao jovem Eduardo Paes sobre o risco de ter sua própria carreira enterrada nos escombros da via demolida, já que todas as alternativas apresentadas têm conteúdo lotérico e só interessam, rigorosamente, aos empreiteiros, que terão lucro muito maior na demolição do que em assentar pedra sobre pedra.
A nós, porém, restará a maldição das futuras gerações se calados ficarmos, se não exigirmos discussões amplas e fundadas em informações verdadeiras. A nós, não. Eu, de minha parte, pretendo fazer qualquer coisa. Nem que seja me amarrar num pilar do elevado que a milhares de pessoas facilita a vida.
Pedro Porfírio Tribuna da imprensa
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