Fundo do poço.
É assim que o deputado Marcelo Freixo (PSOL) qualifica o governo de Sérgio Cabral (PMDB). Intimidado pelas manifestações que ocorrem na cidade desde junho, Cabral fez significativos recuos na agenda privatizante. Para tentar conter sua queda de popularidade, até mesmo a privatização do Maracanã está em suspenso.
Brasil de Fato – O que explica essa sequência de recuos políticos do governador?
Marcelo Freixo – É um governo agonizando, que paga o preço de seus acordos e da sua distância dos interesses da sociedade. Totalmente baseado em negociatas entre aliados que transformaram o governo num balcão de negócios na certeza total de impunidade. Áreas prioritárias como saúde foram privatizadas com as Organizações Sociais (OS), todo o sistema de transporte está na mão de empreiteiras. OAS administra o Metrô, a Odebrecht, a Supervia e a CCR (Camargo Correa e Andrade Gutierrez) administram barcas e ponte. Aí chega um momento que isso tudo explode e quando isso acontece é porque o governo chegou ao fundo do poço. Ele é uma pessoa muito arrogante e para tentar recuperar alguma coisa, começou a ceder desesperadamente. Isso não é sinal de reflexão, é sinal de desespero.
BdF - Quais serão as próximas bandeiras? O que falta avançar?
MF - A pauta das mobilizações está, desde o início, em disputa. Agora, o cancelamento da privatização do Maracanã ganhou força e visibilidade. A pauta da desmilitarização também. Em função da violência policial contra setores que não tinham sido vítimas essa pauta ganha força e, como um todo, vai perdurar. Diferente da pauta da corrupção, que é muito genérica, que trata a corrupção como se fosse uma questão comportamental, moral. A solução para a corrupção não vai ser através de aulas de moral e cívica ou religião, mas através da reforma política, pauta que pode a qualquer momento voltar com força. Outra pauta importante que cresceu é a democratização da mídia. É um momento muito rico e positivo.
BdF - Por que a sociedade não tolera mais o comportamento truculento da PM? Qual será o impacto da mudança de comandante da PM no Rio?
MF - A PM é a ponta de lança de um Estado violento. Não vai resolver isso só mudando a PM, essa mudança terá que ser mais profunda, pois a polícia cumpre ordem de um Estado violento. É um equívoco achar que o problema é o policial. Para qualquer mudança, teremos que fazer debates, o que não é uma tarefa fácil já que a forte hierarquia não permite que se faça qualquer debate sobre a própria polícia. A queda do comandante Erir Ribeiro era esperada, ele não tinha capacidade de diálogo, nem de autocrítica, algo inadmissível para uma pessoa que tem vida pública. Ele não fez autocrítica do caso do Amarildo, nem da forte repressão policial nas manifestações. Espero que o próximo comandante estabeleça o diálogo.
BdF - Que medidas o deputado está tomando com relação ao uso indevido de helicópteros do Estado para fins particulares da família do governador?
MF - Este governador é patético. É inacreditável que ele cometa este crime e depois simplesmente peça desculpas. Quero saber se isso acontece no sistema prisional também. Nós o denunciamos no Ministério Público Federal (MPF) por peculato, no Ministério Público Estadual por improbidade administrativa, e na Assembleia por crime de responsabilidade com vistas ao impeachment. Cada uma desses organizações tem competências específicas. Esperamos que estas instituições respondam a nossas denúncias. Ao lançar um decreto normatizando o uso de helicópteros, o governador só pode estar de brincadeira. Já existe norma para veículo oficial. Cabral perdeu qualquer moral para governar. Nem para ser síndico.
BdF - Por que é tão importante suspender a privatização do Maracanã?
MF - Essa concessão é uma das coisas mais absurdas. Essa privatização significa a elitização da cidade e o embranquecimento do espetáculo num espaço dos mais democráticos, onde populações pobres e ricas conviviam. Esse projeto de privatização é uma ação violenta do Estado sobre algo muito importante: o futebol é a principal fonte de alegria do Rio de Janeiro e isso não é pouca coisa. Todo o processo foi ilegal, sem audiência pública, a oposição pediu plebiscito e não foi atendida. E agora, diante dessas manifestações, o Cabral começa a recuar também na privatização do Maracanã. E basta ele querer.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) |
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