quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

E o Egito, vai democratizar?


Mubarak, de piloto de jato Mig russo na guerra árabe-israelense de 1973, se transformou em Faraó, não apenas no novo Al Rais (O Presidente). Foi com o Faraó Mubarak que se formaram os dezenove sequestradores suicidas dirigidos por Mohammed Atta, humilhação aos Estados Unidos, em apenas um dia, decorrente da humilhação do Egito na guerra dos seis dias.

Foi no Egito que Mohammed Atta nasceu e se radicalizou. Tanto Ayman Zawahiri, quanto Mohammed Atef, ajudantes de Bin Laden, foram também radicalizados em sua terra nativa do Egito.

Quais serão os que estão agora sendo radicalizados? Se aqueles homens puderam emergir da terra ao longo do Nilo, é imperativo indagar como estão sendo formados os novos radicais após a chamada Primavera Árabe.. E qual a relação com a proliferação de muçulmanos, tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos?

Como observador dos fatos no exterior, eu costumo diferenciar os termos islâmico e islamista. Uso islâmico para descrever algo que brota da religião do Islam. Uso islamista para descrever os muçulmanos que levam em conta o Islam e seus corolários, Sharia, ou Lei Islâmica, como seus principais pontos de referência, procurando restaurá-los no centro da vida muçulmana, por qualquer meio, inclusive o terrorismo. O dossel islamista cobre extremistas violentos e ativistas políticos moderados que rejeitam a violencia.

Inútil tentar entender o Islam, sem entender o que se passa no Egito, onde existe uma verdadeira paixão pelo Islam. Temos que observar como o reavivamento do Islam está reformulando o Egito e outros países árabes no sentido além violência politica, sem contudo eliminá-la.

Mas não se trata de reproduzir Livingstone em busca das cabeceiras do Nilo, nem Gustave Flaubert se instalando no Hotel du Nil no Cairo, 1849, com sua vida boêmia e com suas devassas. Assim como o Nilo corre no Egito por quase mil e trezentos quilômetros, gerando vida, assim é o caminho de Allah, orientando seu povo.

Apesar de não adotar cristianismo ou democracia, excelentes agentes do socialismo, é bom lembrar que o Egito Islâmico já realizou incursão socialista com Gamal Abdel Nasser, que proclamou em 1952 o “Socialismo Árabe”.
Só que Nasser atuou nesse campo de maneira primária, diferente do que os Estados modernos fazem agora.

Nasser prometeu a cada um educação gratuita, e emprego para cada graduado universitário. Nasser confiscou terras de ricos fazendeiros, dividindo-as entre fazendeiros pobres. Hoje o socialismo é mais sutil. Nasser não foi nem islâmico, nem islamista.

Egípcios não mais esperam serviços de seus governantes, tendo desistido das promessas de Nasser referentes à ajuda do berço à sepultura. Estão de olho nos ricos cada vez mais ricos por métodos corruptos: favoritismo, nepotismo e suborno, que atingiram proporções epidêmicas em seu país. É a chamada kossa. E também a wasta, uma conexão-suborno com a burocracia capitalista para tirar vantagem.

Todos os países do Oriente Médio atuam em certo grau sobre a wasta, desde o Kuwait até mesmo Israel. No Kuwait eles falam “tomar vitamina W”.

Quando cidadãos ficam desencantados com seus governantes, e não possuem meios de reforma ou retificação, seus corações e mentes se inclinam para a subversão.

As pessoas que no Brasil ainda falam em “Terceiro Mundo” certamente não sabem o que estão dizendo. Brasil jamais foi Terceiro Mundo. A explicação é a que se segue:

Após derrubar o Rei Farouk em 1952, o coronel Gamal Abdel Nasser elevou seu povo a impensadas alturas no palco mundial. Ainda nos seus trinta anos, ele forçou as tropas britânicas a baterem em retirada do Egito. Quando os Estados Unidos se retrairam de uma oferta de financiar a construção da represa de Aswan, Nasser nacionalizou a companhia franco-britânica que operava o Canal de Suez. Em retaliação, os dois países europeus e Israel (sempre Israel tomando carona) invadiram o Egito em 1956. mas mesmo essa crise abrilhantou a imagem de Nasser, pelo fato de as três nações terem que recuar sob pressão dos Estados unidos.

O termo Terceiro Mundo surgiu de uma resposta a atuação bipolar dos países em Guerra Fria. No Terceiro Mundo o aclamado líder egípcio dividiu status de celebridade com Nehru, Kwqanme Nkruma e outros.

E agora, será que o Egito vai se democratizar?
Paulo Solon   Tribuna da Imprensa

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