terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CST/PSOL: A Rede de Marina Silva

Nota da CST: Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST/PSOL – Fevereiro 18 de 2013

Finalmente, e pressionado pelo calendário eleitoral, realizou-se em Brasília no sábado 16/02 a reunião convocada pelo movimento “Rede pró partido”, idealizada pela ex senadora petista Marina Silva.

Despertou alguma expectativa, afinal ela teve em 2010 nada menos que 20 milhões de votos, aparecendo como “a novidade” num Brasil farto da corrupção e da falsa polarização entre PT e PSDB.

No entanto, a reunião e seus resultados decepcionaram. Por um lado, menos de 500 pessoas participaram fisicamente, e por outro, num movimento que tem como eixo organizador uma rede social, somente mil acompanharam o evento na internet. Mas, fora os números, que refletem parcialmente a realidade, o mais importante é analisarmos o conteúdo, ou melhor, a falta de conteúdo inovador.


“Nem direita nem esquerda”, “nem oposição nem situação”?
Estas duas definições feitas por Marina Silva, falam por si sós. Pois por trás desse jogo de palavras nasce um projeto que não tem nada de novo. Não por acaso trata-se da mesma definição que fez Gilberto Kassab do seu adesista PSD. Não definir oposição ao governo PT/PMDB, ao governo dos mensaleiros, de Sarney, Renan Calheiros e Eduardo Alves; não ser oposição ao governo do agronegócio, das multinacionais, do sistema financeiro e das empreiteiras; do governo que retira direitos do povo trabalhador e criminaliza as lutas sociais, significa cumplicidade e continuidade do projeto atual.

Formaliza-se assim, no nosso modo de ver, uma variante de centro direita para dar continuidade ao modelo que tucanos e petistas aplicam no país há quase 20 anos, e que se propõe como uma “Terceira Via” para canalizar, dentro do modelo, ainda que com leves mudanças, o desencanto com o governo que já toma conta de parcelas da população e que, com certeza, irá crescendo entre os trabalhadores e a juventude. Pretende se com isso, erguer um dique para evitar que a decepção fortaleça uma verdadeira alternativa da esquerda anti capitalista e socialista.


Programa de uma nota só: Marina Presidente em 2014
Muito se falou em “sustentabilidade”, em “justiça social”, em “nova política”, em “crise civilizatória” e em “ética”. Pelo discurso passado por Marina e seus marinheiros, a saída a esta crise está na internet, no horizontalismo, na rejeição a política eleitoreira, e na unidade de todos aqueles que queiram participar, sejam grandes empresários, empreiteiros, banqueiros, estudantes, trabalhadores, indígenas. Num arco ideológico que vai desde o socialismo até os tucanos, passando pelo PPS, o PV, o PT, etc. No entanto, o único ponto do programa que efetivamente move esta rede e entusiasmou os presentes, é a possibilidade da candidatura de Marina para presidente em 2014, para o qual deverão legalizar sua legenda. Sintomático que as figuras de destaque no evento tenham sido a herdeira do Itaú, o deputado tucano Feldman e a ex. senadora Heloisa Helena, que acaba de abandonar o PSOL.


Para a Rede a crise da economia capitalista não existe!
Muito se falou na reunião em paradoxo. Mas o real paradoxo foi que, numa reunião onde se discutia uma suposta nova política, não foi pronunciada uma única vez a palavra “capitalismo” e menos ainda crise da economia mundial capitalista, crise que desde 2008 vem sendo utilizada pelo capital para descarregar impiedosos ataques contra o nível de vida das massas, crise que claramente também é parte da realidade brasileira.

É claro, para juntar tal arco ideológico à serviço de eleger Marina, impossível se aprofundar nos reais temas que afetam o povo brasileiro. Não se falou de inflação, das demissões na indústria automobilística, das lutas dos trabalhadores das obras do PAC ou das hidrelétricas como a do Amapá onde os trabalhadores foram presos, das privatizações ou da crise dos municípios e dos salários aviltantes dos servidores, do orçamento de 2013 dedicado centralmente no pagamento dos juros e amortizações da dívida ao sistema financeiro, das leis anti greve que tramitam no congresso ou do projeto do ACE que flexibiliza os direitos trabalhistas, do aumento das passagens de ônibus ou da crise terminal da saúde publica.

Paradoxo também que numa platéia que rejeitava a corrupção, não se falou da quadrilha que controla o governo e o congresso, encabeçada por Renan Calheiros e Eduardo Alves eleitos pelos votos do PT, de tucanos e da ampla maioria dos partidos da base e da chamada “oposição”.


Novo padrão ético com bancos e empreiteiras?
Onde ficam a nu os limites da Rede é no financiamento. Como enfrentar a pesada dívida publica se entre os financiadores do novo movimento está uma representante do Banco Itaú? Como apoiar as greves dos trabalhadores das grandes obras, se a Rede aceita financiamento das empreiteiras? Lembremos que em 2010 a Andrade Gutierrez doou R$ 1,1 milhão para a campanha de Marina, e a Camargo Correia R$ 1 milhão. Assim como a empresa poluidora Papel Suzano e Celulose entrou com R$ 532 mil, o que limita a defesa do meio ambiente a um mero discurso sem enfrentar as verdadeiras causas dos sucessivos desastres ambientais que tem nome e sobrenome: chama-se lucro capitalista. Mas a Rede de Marina nem denuncia, nem está disposta a enfrentá-los.

Por isso, longe de saudar o nascimento de uma alternativa popular, lamentamos que a Rede de Marina desarme os novos lutadores frente aos reais desafios colocados, levando a um labirinto sem saída como são o eleitoralismo, a conciliação de classes e as boas relações com o capital.


10 anos de governo petista, 10 anos da fundação do PSOL
Expulsos do PT por enfrentar a traição de classe de Lula, nos orgulhamos de ter fundado o PSOL, de seu programa e de seu projeto de construir uma verdadeira alternativa de oposição de esquerda anticapitalista e socialista.

Na disputa institucional, mas, sobretudo na luta diária junto ao povo trabalhador e à juventude, o PSOL vem se credenciando como um instrumento de verdadeira mudança.

Lamentamos que alguns antigos companheiros tenham optado por se somar à Rede, mas respeitamos suas opções. O que rejeitamos é que lideranças fracassadas como Jefferson Moura, cuja corrente acaba de se autodissolver mergulhada numa crise ética, política e moral, questionada pela amplíssima maioria do partido se utilizem da tribuna da Rede e da Câmara de Vereadores do RJ para atacar o PSOL.

Nas lutas quotidianas, no enfrentamento ao governo e sua política de privatizações e arrocho, na disputa de 2014, o PSOL saberá levantar e defender as bandeiras e as reivindicações do povo brasileiro com independência do capital, sem financiamento de empresários, bicheiros nem banqueiros, sem alianças espúrias e eleitoreiras. E com uma candidatura que expresse este programa e esta luta de 10 anos na construção de uma alternativa anticapitalista e socialista para o povo brasileiro.

Charles Pimenta via Facebook

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