quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Reflexões sobre o que um cidadão comum pensa sobre política


Vamos, neste espaço democrático, parar por um instante e despirmo-nos de todas as nossas idéias pré-concebidas. Dos nossos valores burgueses. Das nossas crenças e ideologias.

Muito, mas muito mesmo (e, diversas vezes, com toda a propriedade, diga-se de passagem), falamos aqui em dicotomias que permeiam o nosso tempo: direita x esquerda; capital x trabalho; capitalismo x socialismo etc. São discussões estimulantes, apaixonantes, virulentas e, apesar disso tudo, muitas vezes, vazias.

Vazias? Podem me chamar de herege, alienado, louco, sei lá. Bem, para mim, deixarei bem claro, elas não tem nada de vazias, pelo contrário. Mas, pensemos bem acerca das pessoas que nos rodeiam. Façamos um exercício de observação empírica.

Alguém aqui acha mesmo que o cidadão comum, seja ele brasileiro, nepalês, mexicano, romeno, entre outros, sai de casa, diariamente, preocupado com tais rivalidades, digamos assim. Não fiz pesquisas científicas, baseadas em entrevistas com tais pessoas. Portanto, emitirei apenas uma opinião: não, essas pessoas não pensam nisso (embora eu acredite que elas estejam cometendo um erro não pensando nisso. Mas aí já é um outro assunto).

O cidadão comum sai de casa pensando na manutenção de seu emprego, no seu sustento, no sustento da sua família, no seu time de futebol, na sua amante e por aí vai. Todos estes, também são assuntos importantíssimos.

Costumo ir de trem ao meu trabalho, pois a viagem de casa até lá, só de ida, mede uma distância de espantosos 58 km. É neste tipo de transporte, na cidade do Rio de Janeiro (creio que em quaisquer outros grandes centros a situação seja análoga), que assistimos pessoas de todos os tipos tentando ganhar o seu pão diário. Vendedores de bala, de amendoim, de pilhas, pedintes, pregadores, entre outros, simplesmente alheios às discussões ideológicas. Alheios, contudo imersos na lama do sistema que os puxa, com uma fúria insana, cada vez mais para o fundo.

Mesmo assim, muitos ainda conseguem sorrir com sinceridade e satisfação. Têm prazer por estarem existindo. Isto gera perplexidade e inveja. Sim, tenho, muitas vezes, inveja desses bravos guerreiros.

O que os nomes Mao, Fidel, Smith, Keynes, Marx, Popper, Schumpeter, Gramsci, entre outros, significam para eles? O que esquerda, direita, centro, centro-esquerda, centro-direita etc, significam para eles? O que capitalismo, socialismo, anarquismo, niilismo, nazismo etc, significam para eles? Eu acho que nada.

Quando eu assisti ao filme “O nome da rosa”, baseado no romance homônimo de Umberto Eco, uma frase de um monge, o Venerável Jorge, ficou para sempre na minha cabeça: “Quanto mais sabedoria, mais tristeza advém.”

Creio que há muita verdade nesta frase. As pessoas que mais sabem, mais ficam indignadas, revoltadas. Entretanto, há uma grande mentira, também. As pessoas que mais sabem, são aquelas que podem mudar a situação na qual se encontram.

 Walter Martins

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