“Do poder do povo vai nascer um mundo novo”
Enquanto que, na maioria das cidades do Brasil, os protestos diminuíram de volume, no Rio de Janeiro eles vêm ganhando corpo e regularidade.
A ocupação das Câmaras de Vereadores do Rio e Niterói, acampamento em frente à casa do Governador Sérgio Cabral e os diversos protestos em virtude do desaparecimento do pedreiro Amarildo mostram o desejo do povo em construir um presente mais justo, livre e igualitário.
A mídia corporativa mantém o discurso de criminalização dos protestos e movimentos, reiterando a falaciosa distinção entre manifestantes pacíficos e vândalos e clamando por mais polícia e mais repressão. O resultado tem sido o incremento da violência e do arbítrio policiais.
Uso excessivo e desnecessário de balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta já cegou e matou. O Estado declara que apenas estaria respondendo à violência dos manifestantes mascarados, mas quem está na linha de frente sabe que a história é outra. A violência é, em regra, primeiro do Estado.
A violência estatal continua principalmente na sua dificuldade de escutar e dialogar com as vozes que vêm das ruas. Muitos insistem em afirmar que os manifestantes atuais são apenas baderneiros querendo perturbar a ordem democrática. Ocorre que é precisamente esta ordem que se recusa a revisar seus sistemas de transporte urbano e criar, ou ao menos aceitar, novas formas de se fazer política. Esta mesma ordem faz desaparecer jovens, pobres e negros nas favelas e bairros empobrecidos. Tortura nas prisões. Expulsa comunidades tradicionais e povos indígenas dos seus territórios.
No meio disso, o Estado e alguns agentes privados escolhem novos alvos para dirigir seu ódio contra as demandas populares e as mobilizações. O mais novo é o Black Bloc. Mascarados, de preto, eles se colocam como cordão de contenção entre a polícia violenta e os demais manifestantes. São os primeiros a sofrer os golpes dos cassetetes, das balas de borracha e dos gases. Falam abertamente da necessidade de resistir a este Estado opressor e violento que nos protestos usa balas de borracha – embora saibamos que nem sempre -, e nas favelas é de fuzil.
A consequência mais óbvia é a que assistimos nesta última semana. A detenção de diversos jovens administradores da página do Black Bloc RJ na rede social Facebook sob a alegação de incitação à violência. Os inquéritos corriam há meses em segredo de justiça. Os responsáveis pela violência seriam os mascarados. Nunca o Estado. Por isto, uma decisão judicial deu carta branca para os policiais conduzirem à delegacia mascarados que não se identificassem ou que, mesmo se identificando, ainda fossem suspeitos. Com isso, ressuscitou a finada detenção para averiguação, que havia sido extinta com a Constituição de 1988.
Se os manifestantes mascarados são os violentos, como é que os danos só aparecem do lado de cá? Recentemente, uma manifestante foi atingida por um estilhaço que cravou na sua testa. A foto da sua face ensanguentada e do raio-x mostrando um crânio nu no qual pende um fragmento de metal, no mínimo, coloca em dúvida quem são os vândalos.
Novamente, o Estado tenta resolver os problemas sociais como se fossem problema de polícia. Frente às reivindicações, mais polícia e mais repressão.
Ouvir os protestos não entra na pauta. Mais fácil manter nossas tradições de truculência. Oprimir e agredir até que eles, nós, se calem.
Justiça Global
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