Manifestantes são cercados por policiais militares que fechou Avenida Mem de Sá na Lapa; bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas |
Houve, ao menos, 79 detidos; bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas. Barreiras policiais foram montadas para impedir que manifestantes chegassem à sede do governo estadual.
Após série de tumultos durante desfile de Sete de Setembro pela manhã, no Centro do Rio, manifestantes e policiais militares voltaram a entrar em confronto na noite deste sábado em Laranjeiras, na Zona Sul, e o conflito se estendeu à Lapa. No bairro boêmio, a Avenida Mem de Sá chegou a ser interditada na altura dos Arcos, devido ao tumulto.
Foram lançadas bombas de gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas. Houve correria e confusão. Lixeiras foram destruídas, e bares foram fechados, como o Carioca da Gema, o Belmonte, o Bar Brasil e o Bar da Garrafa. Pessoas que estavam na região ficaram assustadas. O tradicional Baile Charme, na Rua do Lavradio, foi encerrado mais cedo, devido ao excesso de bombas estourando. De acordo com a PM, houve 79 detidos ao longo do sábado na cidade. Devido aos confrontos na Avenida Presidente Vargas, 27 pessoas foram encaminhadas a delegacias. Já na Zona Sul, os atos causaram 50 detenções. No fim da noite, na Lapa, houve, ao menos, dois detidos.
Em Laranjeiras, cerca de 200 integrantes do protesto tentaram ultrapassar à noite barreiras montadas por PMs perto do Palácio da Guanabara, a fim de chegar à sede do governo estadual. Militares lançaram bombas de gás lacrimogêneo, a fim de dispersar as pessoas, o que causou correria e confusão. Já vândalos incendiaram lixeiras e também quebraram dois abrigos de ponto de ônibus no Largo do Machado. Além disso, incediaram um orelhão, que foi jogado no meio da rua, e destruíram agências bancárias e vidros do elevador de acesso ao metrô. Tudo isso em meio a muito lixo espalhado pelas ruas. Na Rua da Glória, duas agências bancárias foram depredadas, uma do Itaú e outra do Santander.
Devido à manifestação em Laranjeiras, a estação do metrô Largo do Machado chegou a ser fechada durante instantes. Já a estação Catete foi fechada e reaberta três vezes entre as 18h e 19h. Alguns prédios receberam projeções com mensagens de paz. Um caminhão-pipa foi deslocado ao local, a fim de lançar água contra os manifestantes, a fim de conter tumultos. O Túnel Santa Bárbara e a Rua Pinheiro Machado só foram liberadas após as 22h. Motoristas devem evitar a região, optando pelos túneis Rebouças e da Rua Alice e pelo Aterro do Flamengo. Machucados foram atendidos por médicos voluntários.
Com a dispersão da multidão que estava no Palácio Guanabara, parte da Rua do Catete também sofreu com o vandalismo. Lixeiras foram destruídas em toda a extensão da via. Máscaras e blusas negras foram jogadas no chão e se misturam aos estilhaços de bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral. Policiais do Batalhão de Choque seguem para a 9ª DP (Catete), e um grupo está reunido na Praia do Flamengo, próximo a Rua Silveira Martins. Já manifestantes dispersos se reúnem para seguir para a 9ª DP.
Em meio ao confronto em Laranjeiras, o imóvel que abriga a Sociedade Viva Cazuza, que cuida de crianças com HIV, foi atingido por bombas de gás lacrimogêneo. A ONG fica próxima ao acesso ao Túnel Santa Bárbara. Os artefatos caíram no pátio, mas algumas crianças se queixaram de ter aspirado o gás. O comandante da PM Mauro Andrade disse que irá recolher os artefatos, a fim de verificar qual o lote e saber quem lançou. As informações serão repassadas à Corregedoria. Além disso, o muro da Viva Cazuza foi pichado com inscrições contra a PM e símbolos anarquistas. As pixações foram próximas a um cartaz em que a ONG pede aos grafiteiros que doem o valor de uma lata de spray para a compra de leite para as crianças.
Após permanecerem em frente à Câmara dos Vereadores do Rio, na Cinelândia, após o desfile, o grupo de manifestantes, a maioria usando máscaras, seguiu para a Zona Sul. Pessoas cercaram dois carros da PM, tentando impedir a passagem do veículo. Mas as viaturas acabaram sendo liberadas. Com receio dos protestos, comerciantes fecharam as portas. A Secretaria de Segurança informou que 27 pessoas foram levadas para delegacias para averiguações por conta dos protestos. Doze pessoas ficaram feridas durante os tumultos até o momento.
As detenções
Dos 50 manifestantes detidos em Laranjeiras, na Zona Sul, 45 foram levados para a 21ª DP (Bonsucesso), para consulta de identidade. Após o procedimento, quase todos os integrantes foram soltos, menos um. De acordo com o delegado José Pedro Costa da Silva, ele portava um estilingue e continuará sendo investigado. Outros cinco integrantes foram liberados na hora pelos policiais.
Uma menor, Stephany, de 16 anos, afirmou que estava participando da manifestação, mas sem causar tumulto ou desacatar os policiais.
- Fui detida pois estava correndo em direção à Pinheiro Machado, mas simplesmente estava fugindo do gás lacrimogêneo - disse Stephany, que afirmou que não usava máscara na hora da detenção.
Questionado qual a justificativa para levar os detidos da Zona Sul até a Zona Norte, o delegado afirmou:
- Qualquer delegacia pode fazer ocorrência. Aqui oferecia mais facilidade, mais tranquilidade. Imagina levar todo esse pessoal para a 9ª DP, com até mil pessoas - completou.
Durante o protesto realizado no Centro, Matias Maximiliano Acevedo, fotógrafo da revista Vice, foi encaminhado para a 17ª DP por despejar cerveja em uma viatura da Polícia Militar. O veículo estava estacionado na Avenida Presidente Vargas na esquina com a Praça da República.
- Os policiais estavam prendendo um manifestante, e vi que eles estavam agindo com muita truculência. Vi oficiais dando choques e batendo com cassetete em pessoas que já estavam imobilizadas no chão. Estou acompanhando os protestos desde o dia 17 de junho. Desde então, tenho visto muita covardia e hoje (sábado), me exaltei - explica o fotógrafo de 33 anos, que foi liberado e vai responder por conduta inconveniente.
No início da tarde, centenas de manifestantes bloquearam a Avenida Rio Branco, que chegou a ser totalmente interditada. A via foi liberada por volta de 14h30m. Depois, eles seguiram em passeata até a Cinelândia. Um boneco, representando o governador Sérgio Cabral, foi queimado pelos manifestantes. Uma equipe do Ministério Público esteve presente no local. A Avenida Presidente Vargas também foi totalmente liberada ao trânsito.
Manifestantes do grupo de mascarados conhecido como Black Blocs retiraram as bandeiras do Brasil, do Estado do Rio de Janeiro e do município do Rio que ficavam no monumento a Zumbi na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio. Em seguida, eles atearam fogo nos símbolos. Pouco antes, um novo tumulto foi registrado durante o Grito dos Excluídos, manifestação que começou logo depois do fim do desfile de Sete de Setembro na Presidente Vargas. O grupo, que se reuniu na Rua Uruguaiana, seguia de forma pacífica até a chegada dos Black Blocs. Policiais faziam revistas quando houve correria e alguns manifestantes atiraram garrafas nos agentes. Militares, então, revidaram lançando bombas de gás lacrimogêneo para conter o tumulto na altura da Praça da República, onde, mais cedo, manifestantes haviam invadido, por alguns minutos, a Avenida Presidente Vargas enquanto era realizada a parada militar. O Comando Militar do Leste, no entanto, negou a invasão. Cerca de 500 pessoas participam da nova passeata, que é acompanhada pelo Batalhão de Choque.
Os feridos no protesto
Os feridos na manifestação foram levados para o Hospital Municipal Souza Aguiar. Entre as vítimas estão: três homens feridos por estilhaços, duas idosas que passaram mal por conta do gás lacrimogêneo, uma criança de seis anos que teve escoriações leves e já foi liberada, quatro manifestantes que tinham ferimentos por bala de borracha e outro que ficou desorientado após a explosão de um artefato e outra que levou uma pancada na cabeça. A secretaria informou que nenhum dos casos apresenta gravidade. Das 12 vítimas, três foram liberadas.
Apesar da presença de mascarados, a maioria das pessoas participou do novo ato com o rosto limpo. Os manifestantes gritaram palavras de ordem contra o governador Sérgio Cabral e cobraram a solução para o caso Amarildo. Bandeiras de partidos e movimentos sociais puderam ser vistas na passeata.
Segundo o professor de Geografia Leon Dias, um dos detidos deles recolhia cartuchos de armamentos da polícia do chão quando a confusão começou. A polícia teria achado que ele recolhia pedras para usar contra os PMs.
Um fotojornalista foi detido por volta das 12h pela PM perto da Central do Brasil. Os policiais não informaram o motivo da prisão e disseram que ele seria apenas levado para o Instituto Médico-Legal para exames. O advogado Rodrigo Mondeo, que representava a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), tentou em vão evitar a prisão. A OAB pede para que a população faça denúncias sobre violência por parte da polícia e dos manifestantes para o e-mail direitoshumanos.adv@gmail.com.
O Metrô Rio informou que a Estação Presidente Vargas foi fechada. Pela manhã, devido ao tumulto durante o desfile, o acesso Campo de Santana da Estação Central também teve de ser fechado. Na estação Central do metrô, mais uma confusão durante a dispersão dos manifestantes. O humorista e ativista Rafucko foi impedido de entrar na estação pelos seguranças da concessionária, por estar usando uma máscara de Carnaval. Os seguranças alegaram motivos de segurança, mas o ativista se recusou a tirar a máscara e pôde acessar ao local após ser identificado pelos policiais militares.
Pela manhã, o site da Polícia Militar saiu do ar, mas a corporação negou que tenha sido por ação de hackers. Segundo o perfil da PM no Twitter, o grande número de acessos derrubou a página.
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