O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, vai tentar novamente acabar com uma das maiores vergonhas nacionais do país, a prisão de Guantánamo, na base militar norte-americana em Cuba.
Em discurso nesta quinta-feira 23, na Universidade de Defesa Nacional, em Washington, Obama anunciou o envio de um novo pedido ao Congresso para fechar a casa de detenção, onde estão 166 suspeitos de terrorismo, alguns deles jamais julgados pelos tribunais norte-americanos.
Em um discurso no qual esteve tenso a maior parte do tempo, enquanto defendia sua política de uso de drones, Obama pareceu relaxado ao falar sobre Guantánamo. Com um sorriso irônico no rosto, o presidente dos EUA deixou claro que, para ele, este é um problema provocado pelo Congresso. Isso porque, em 2008, ao ser eleito, Obama prometeu fechar a prisão. Em 2010, o pedido foi rejeitado na Câmara dos Representantes, por 212 votos a 206. Diante desta percepção de não ter culpa, Obama fez um duro discurso contra a existência da prisão.
"Imaginem um futuro – daqui a dez anos, 20 anos – no qual os Estados Unidos da América ainda estejam mantendo pessoas que não foram denunciadas por nenhum crime em um pedaço de terra que não é parte de nosso país", disse Obama. "Vejam a situação atual, na qual estamos alimentando forçadamente detentos em greve de fome. É isso o que nós somos? Isso é algo que nossos fundadores previram? Esta é a América que queremos deixar para nossas crianças?", questionou.
A tese de que Obama não tem culpa por Guantánamo não é unanimidade. Enquanto discursava, Obama foi interpelado por Medea Benjamin, ativista do grupo Code Pink. A manifestante cobrou Obama sobre a prisão, afirmando que ele é o "comandante em chefe".
Para tentar convencer os congressistas, Obama lembrou que nenhum preso jamais fugiu de qualquer prisão de segurança máxima nos EUA (conhecidas como "supermax") e que a manutenção de Guantánamo custa 150 milhões de dólares por ano, quase 1 milhão de dólares por ano por detento. Os argumentos, entretanto, podem não ser tão úteis. Logo após o discurso de Obama, o deputado Ed Royce, do Comitê de Relações Exteriores, criticou o presidente norte-americano, afirmando que o fechamento de Guantánamo "coloca em risco a segurança de cidadãos norte-americanos" nos EUA e no exterior.
Provavelmente prevendo a oposição do Congresso, Obama decidiu tomar atitudes próprias. Como notou o analista Mark Mazzetti no jornal The New York Times, o ponto mais importante do discurso de Obama sobre a prisão foi o fim da moratória para a transferência de detentos para o Iêmen. Dos 166 prisioneiros, 86 prisioneiros têm autorização para serem transferidos. Desses, 56 são do Iêmen. Se conseguir enviar todos de volta para o país árabe, Obama conseguirá ao menos desidratar a prisão ainda mais, tornando sua existência ainda mais absurda. É uma esperança, talvez ingênua, de fazer o Congresso dos EUA se mexer.
Carta Capital
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