Num ano de notícias ruins para o Japão, a recente confirmação de que o  país voltou, pela primeira vez em quase uma década, à liderança mundial  da construção de supercomputadores foi comemorada pelos cientistas  japoneses como uma goleada em final de Copa do Mundo. Na disputa,  ficaram para trás a China e os Estados Unidos - os dois principais  concorrentes no desenvolvimento da máquina mais poderosa do planeta. O  supercomputador, projetado pela empresa Fujitsu, é uma das estrelas da  Ceatec, a maior feira de tecnologia da Ásia, que está sendo realizada em  Tóquio. Sua potência supera a dos outros cinco supercomputadores mais  velozes do mundo.  
 A máquina, apelidada de "K", foi criada em parceria com o  instituto de ciências Riken, de Kobe, com apoio do governo japonês.  Quando estiver pronta para funcionar, no ano que vem, será capaz de  fazer 10 quatrilhões de cálculos por segundo - o equivalente à potência  de um milhão de desktops juntos. O sistema é composto por 80 mil CPUs e  são muitas as suas possíveis aplicações, mas, diante dos traumas e  desafios provocados pelo terremoto de 11 de março, a possibilidade de  prevenir tragédias como tsunamis vem sendo apontada como uma das  principais justificativas para o investimento no superequipamento. Nas  palavras dos pesquisadores, numa terra sujeita a desastres naturais,  como o Japão, o projeto pode significar a diferença entre a vida e a  morte.  
- O K poderá ajudar a salvar vidas logo após um terremoto,  alertando muito mais rapidamente do que os sistemas atuais sobre a  ocorrência imediata dos riscos que se seguem ao tremor - disse Masami  Yamamoto, presidente da Fujitsu, lembrando que as simulações hoje levam  duas horas, tempo que foi fatal para a maioria das 20 mil vítimas do 11  de março, mortos por uma onda gigante bem mais poderosa do que o imaginado, cerca de meia hora depois de  a terra tremer.   
O novo supercomputador poderia fazer essas simulações em dez  minutos ou menos, possibilitando a divulgação de alertas sobre a  iminência do perigo, garantem os líderes do projeto K. Eles não se  referem apenas à previsão sobre maremotos, mas também à possibilidade de  calcular estragos em prédios e na infraestrutura de uma região. O K é  duzentas vezes mais rápido que o Earth Simulator - o último  supercomputador japonês a atingir o topo do ranking  desses  megasistemas, em 2002.  
As pesquisas para criar o K, iniciadas há cinco anos, já levaram  mais de US$ 1 bilhão em verbas oficiais, e para a rede funcionar são  consumidos US$ 10 milhões por ano em energia - o que torna a discussão  polêmica num momento em que o Japão precisa de investimentos bilionários  para reconstrução do nordeste do país.   
As cifras já haviam sido contestadas no Congresso e a verba  oficial só não foi cortada no ano passado porque um grupo de ganhadores  do Nobel fez um apelo ao então primeiro-ministro Yukio Hatoyama pela  manutenção do projeto, defendendo-o como um impulso essencial para um  país que vem perdendo a liderança econômica e tecnológica global. A  prevenção de desastres naturais não é o único campo que mobiliza os  cientistas. O supercomputador ajuda no desenvolvimento de novos  componentes para a indústria, por exemplo, ou de medicamentos de última  geração, podendo simular com perfeição o funcionamento do corpo humano e  riscos cirúrgicos, explica Yamamoto.   
 - A prioridade do supercomputador depende de cada país. Nos  Estados Unidos e na China a área militar e o desenvolvimento de armas  está entre os focos principais. No Japão, a ciência e a indústria  tecnológica são o essencial - disse o presidente do Instituto Riken,  Ryoji Noyori, numa palestra para jornalistas, em Tóquio.  
Os japoneses garantem que não estão apenas tentando ganhar uma  medalha de ouro numa maratona tecnológica, mas ter ultrapassado a China -  que tirou do Japão a vice-liderança no ranking das maiores economias do  mundo - ajudou a recuperar o orgulho nacional ferido. O problema,  lembram os especialistas, é que o primeiro lugar no ranking das máquinas  mais velozes do planeta nunca fica muito tempo nas mesmas mãos. O  governo da Grã-Bretanha anunciou esta semana que vai entrar na briga,  investindo US$ 220 milhões num computador de altíssima performance.  

 
 
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