Recentemente, na já manjadíssima revista Veja, conhecida pelo seu padrão editorial ultra-conservador, golpista e direitista (o pleonasmo aqui é inevitável), figurou, entre suas porcas páginas, nas quais não me atrevo a tocar, já há algum tempo, por razão de higiene - e por achar um desperdício e uma agressão à natureza se permitirem que derrubem árvores para produzir excrementos -, mais um artigo de ataque aos educadores.
O autor de tal artigo, um economista, que atende também pelo nome de Gustavo Ioschpe, filho bem nascido de banqueiro, rabiscou algumas mal traçadas linhas para tentar defender a tese de que as greves coordenadas pelos sindicatos dos educadores seriam prejudiciais à sociedade, pois os sindicatos estariam lutando apenas por interesses próprios, opostos aos dos alunos, pais de alunos, etc. Dizem que na revista, que eu recomendo que ninguém a assine ou compre, o tal artigo foi ilustrado com uma foto da nossa heroica greve de 112 dias. Nada mais impróprio!
Resisti o quanto pude a ler o referido artigo serviçal do pensamento neoliberal e a serviço dos governos, mas foram muitos os pedidos e tive que me dar ao trabalho, aborrecido, não nego, de achá-lo na Internet, neste endereço (http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/e-hora-de-peitar-os-sindicatos-de-professores-escreve-ioschpe/). E pior: tive que lê-lo - eis um sacrifício quase tão grande quanto sobreviver com os nossos contracheques zerados.
Confesso aos meus colegas de luta, turma de combate do NDG e demais colegas, que é difícil responder a um apanhado de frases sem qualquer fundamentação razoável, como a do tal articulista da infeliz revista. Ele começa comparando a luta dos educadores por melhores salários e condições de trabalho com a indústria de cigarros, tentando estabelecer um ridículo paralelo: quando se fala dos males cancerígenos causados pelo cigarro, todos sabem que a indústria defende o lado dela, em particular. Mais ou menos como se a nossa luta pelo piso, pelo tempo extraclasse, por exemplo, nada tivesse a ver com uma Educação pública de qualidade para o bem de todos, e fosse apenas do interesse privado dos educadores, ou do sindicato.
E nessa linha rebaixada o articulista desenvolve o seu péssimo texto, abordando os temas de forma superficial e irresponsável até, pois eu duvido que ele tenha pisado em alguma escola pública da periferia de qualquer grande centro urbano do país para falar sobre o tema. Vejam que pérola:
"Você deve achar que o país investe pouco em educação, que os professores são mal remunerados, que as salas de aula têm alunos demais, que os pais dos alunos pobres não cooperam, que deficiências nutritivas ou amorosas na tenra infância fazem com que grande parte do alunado seja “ineducável” e que parte do problema da nossa educação pode ser explicada pelo fato de que as elites não querem um povão instruído, pois aí começarão os questionamentos que destruirão as estruturas do poder exploratório dessas elites." - diz o articulista, para, em seguida completar:
"Não importa que todas essas crenças, exceto a última, sejam demonstravelmente falsas quando se cotejam décadas de estudos empíricos sobre o assunto (a última não resiste à lógica)." (grifos nossos)
Quer dizer então que décadas de estudos empíricos provam que:
a) nós não ganhamos baixos salários, devemos ser meramente uns insatisfeitos da vida. Nem vou falar dos nossos contracheques zerados deste e do próximo mês, porque aí seria uma apelação da minha parte. Basta falar da nossa reivindicação principal: um piso salarial de R$ 1.187,00 para uma jornada de até 40 horas de trabalho. De fato, este é um salário gigantesco, que nenhum de nós saberá como gastá-lo no dia em que os governos que financiam a revista Veja, o jornal Estado de Minas, a Rádio Itatiaia, a Rede Globo, e tantos outros, resolverem nos pagar esta altíssima remuneração. Agora, a pergunta que não quer calar: será que este sujeito tem a coragem de fazer como eu faço aqui, de exibir o contracheque publicamente, para mostrar quanto ele ganha para meter o bedelho em assunto que é sério, e deveria ser tratado com respeito, e não como ação de palpiteiro? Mas, como eu sou ingênuo! Quem disse que ele tem contracheque? Filho de banqueiro, estudou em duas universidades caríssimas no exterior, é fundador e presidente da G7 Investimentos, conselheiro da Iochpe-Maxion S.A. e Fundação Iochpe, etc., etc. Ou seja, é um "especialista" da educação, padrão rede Globo, que não deve ter contracheques, mas retiradas mensais superiores, cada qual, ao que um professor do Brasil real recebe em toda uma vida de dedicação ao ensino público;
b) salas superlotadas continuam uma realidade em várias escolas de Minas e do Brasil. Já lecionei para turmas com mais de 50 alunos, onde eu ficava espremido entre a lousa e as carteiras da frente dos alunos. Depoimentos semelhantes já foram dados aqui. E é muito comum, por economia porca por parte do estado, haver fusão de turmas quando numa ou noutra sala começa a ocorrer evasão de alunos no segundo semestre do ano. Mas, os "estudos empíricos de décadas" do nosso especialista dizem o contrário. Logo, a realidade fátidica não conta, o que conta mesmo são os estudos de "especialistas" escolhidos a dedo pelos governos, ou pelas secretarias de educação dos desgovernos;
c) quanto aos pais de alunos não cooperarem, claro que esta forma rebaixada de abordar o problema só poderia sair da boca, ou da pena, de uma pessoa que desconhece a realidade social em que vivemos. Boa parte dos pais de alunos não tem condição real para dar a devida atenção ao desempenho dos filhos nas escolas públicas; não que não queiram, mas por absoluta falta de tempo, pois trabalham o dia todo para garantir a sobrevivência da família; ou então porque eles não tiveram, na infância, a oportunidade de frequentar uma escola pública de qualidade. Contudo, a culpa não é desses pais, mas dos governos e das elites dominantes, que não investem na educação e preferem gastar rios de dinheiro com publicidade em revistas, jornais, rádios e TVs de baixa qualidade - que contratam "especialistas" para falarem mal dos professores -, do que investir seriamente na educação pública;
d) o país não investe pouco em educação pública - é o que diz o articulista-palpiteiro, fazendo referência a "estudos empíricos". Aliás, estes estudos me lembram um pouco uma fábrica poluente aqui da cidade onde eu moro, que contratava empresas para fazerem estudos comprovando que ela não tinha culpa pela poluição que causava. A culpa era do vento, que soprava na direção errada. Paguem um profissional sem caráter para fazer um estudo contra ou favor qualquer assunto e ele fará, sem dor na consciência. Então, o Brasil investe muito em educação básica, de acordo com o articulista. Ora, onde está este dinheiro, então? Se os educadores de Minas e do Brasil estão lutando e sofrendo para receberem um miserável piso salarial de R$ 1.187,00 e ainda assim não conseguiram, há que se perguntar: onde está o dinheiro deste alto investimento na Educação pública que não chega nas escolas e no bolso dos educadores? [Cairia bem aqui aquela música: "Onde está o dinheiro, o gato comeu, o gato comeu. E ninguém viu...."]. Se fosse consequente com a análise que ele faz, deveria dizer que os governantes deste país são corruptos e ladrões. Mas, o papel dele não é ir ao fundo nas análises, mas simplesmente lançar a desconfiança, tentar jogar os leitores incautos contra os legítimos movimentos dos educadores por salários mais justos, e consequentemente, por uma Educação pública de qualidade. O Brasil investe em torno de 5% do PIB, apenas, com toda a Educação pública. Este ano de 2011, o custo aluno ano foi de apenas R$ 1.750,00 para o FUNDEB - o que dá uma média de R$ 146,00 por mês por aluno. Apontem uma única escola privada que cobra esta mixaria de mensalidade dos seus alunos, garantindo com este recurso o pagamento dos educadores, as reforma das escolas, a aquisição de equipamentos, merenda, livros didáticos, etc. O estado investe muito pouco na educação pública - investe pouco e mal, pois são notórios os desvios realizados com as verbas da Saúde e da Educação -, e obviamente, este baixo investimento na Educação se deve sim à não priorização dessa área pelas elites dominantes. Por quê? Óbvio: essas elites não desejam, de maneira alguma, conviver com uma população dos de baixo com boa formação crítica, politizados e conscientes do protagonismo que devem assumir em relação à sua própria história.
Mais adiante - e eu não vou me dar ao trabalho de cansar ainda mais os nossos ilustres leitores - o articulista da tal revista lança a conhecida falácia neoliberal, segundo a qual, a qualidade da educação deve ser vista pelas lentes do mercado, pela competição individual entre os educadores, a tal meritocracia extremada, contra a qual, segundo o economista, o sindicato é um obstáculo. Em outras palavras: se não houvesse a luta coletiva, sindical, organizada, a qualidade do ensino seria melhor, pois os "bons" profissionais ganhariam mais, e os "vagabundos" (é este o termo que ele usa, talvez se olhando no espelho) receberiam menos. Mal sabe o palpiteiro, que a luta dos educadores tem se pautado pela defesa de salário justo para todos, mas também pela implementação de uma política séria de formação continuada e pela valorização do título acadêmico - o que não se conquista com vagabundagem, mas com estudo, com dedicação, com persistência. E que é justamente o estado que tenta dificultar esta luta, ao não remunerar adequadamente os educadores que alcançam novos títulos acadêmicos, ou ao não oferecer cursos de formação continuada, além dos péssimos salários praticados.
E para encerrar - porque meu estoque de paciência com tanta imbecilidade já começa a se esgotar neste final de noite - vejam esta outra pérola:
"Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha de trabalhar mais: passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor — aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego, maior liberdade para montar seu plano de aulas e para faltar ao trabalho quando for necessário — é irrelevante ou até maléfico para o aprendizado dos alunos."
Vejam: "cada vez mais a pesquisa demonstra...". Pesquisa? Que pesquisa que demonstra essa imbecilidade? Se ele conhecesse um pouco a realidade das escolas e das nossas reivindicações, veria que o que queremos é bom para o aluno e para o professor, sem contradição alguma. Queremos sim mais tempo extraclasse, justamente para preparar melhor as nossas aulas - isto nada tem a ver com "aulas mais curtas"; queremos melhores condições de trabalho sim, com turmas menores, equipamentos, bibliotecas, salas de informática, para podermos ocupar com mais criatividade o tempo em sala de aula e fora dela também; e queremos autonomia sim, para discutir e preparar os conteúdos, considerando os contextos em que vivemos, e para realizar trabalho interdisciplinar, o que requer maior tempo extraclasse. Mas, para o infeliz articulista, nós estamos querendo é liberdade para faltar quando quisermos, ou para não trabalhar - novamente ele deve estar se mirando no espelho, claro. É outro que desconhece a realidade do magistério e a necessidade de haver mais tempo extraclasse para o melhor desempenho profissional em sala de aula. O que é bom para professores e alunos.
Enfim, trata-se de mais um texto sob encomenda, com citações de pesquisas descontextualizadas, de outros países, sem se dar ao trabalho de abordar de forma séria a dramática realidade da educação pública básica no Brasil. Mais um artigo sob encomenda a serviço dos governantes, como o de Minas e de tantos outros estados e municípios, que não cumpriram sequer a Lei do Piso - e cujo tema, responsável pela greves que ele critica, não foi mencionado sequer uma única vez no seu artigo.
Ora, as elites brasileiras estão realmente empobrecidas demais em matéria de críticos, pensadores ou "especialistas" em tentar justificar as suas políticas anti-povo. O nível de formulação destes articulistas prova que o Brasil precisa de fato de mais investimento na Educação. Inclusive para os especialistas-palpiteiros.
O autor de tal artigo, um economista, que atende também pelo nome de Gustavo Ioschpe, filho bem nascido de banqueiro, rabiscou algumas mal traçadas linhas para tentar defender a tese de que as greves coordenadas pelos sindicatos dos educadores seriam prejudiciais à sociedade, pois os sindicatos estariam lutando apenas por interesses próprios, opostos aos dos alunos, pais de alunos, etc. Dizem que na revista, que eu recomendo que ninguém a assine ou compre, o tal artigo foi ilustrado com uma foto da nossa heroica greve de 112 dias. Nada mais impróprio!
Resisti o quanto pude a ler o referido artigo serviçal do pensamento neoliberal e a serviço dos governos, mas foram muitos os pedidos e tive que me dar ao trabalho, aborrecido, não nego, de achá-lo na Internet, neste endereço (http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/e-hora-de-peitar-os-sindicatos-de-professores-escreve-ioschpe/). E pior: tive que lê-lo - eis um sacrifício quase tão grande quanto sobreviver com os nossos contracheques zerados.
Confesso aos meus colegas de luta, turma de combate do NDG e demais colegas, que é difícil responder a um apanhado de frases sem qualquer fundamentação razoável, como a do tal articulista da infeliz revista. Ele começa comparando a luta dos educadores por melhores salários e condições de trabalho com a indústria de cigarros, tentando estabelecer um ridículo paralelo: quando se fala dos males cancerígenos causados pelo cigarro, todos sabem que a indústria defende o lado dela, em particular. Mais ou menos como se a nossa luta pelo piso, pelo tempo extraclasse, por exemplo, nada tivesse a ver com uma Educação pública de qualidade para o bem de todos, e fosse apenas do interesse privado dos educadores, ou do sindicato.
E nessa linha rebaixada o articulista desenvolve o seu péssimo texto, abordando os temas de forma superficial e irresponsável até, pois eu duvido que ele tenha pisado em alguma escola pública da periferia de qualquer grande centro urbano do país para falar sobre o tema. Vejam que pérola:
"Você deve achar que o país investe pouco em educação, que os professores são mal remunerados, que as salas de aula têm alunos demais, que os pais dos alunos pobres não cooperam, que deficiências nutritivas ou amorosas na tenra infância fazem com que grande parte do alunado seja “ineducável” e que parte do problema da nossa educação pode ser explicada pelo fato de que as elites não querem um povão instruído, pois aí começarão os questionamentos que destruirão as estruturas do poder exploratório dessas elites." - diz o articulista, para, em seguida completar:
"Não importa que todas essas crenças, exceto a última, sejam demonstravelmente falsas quando se cotejam décadas de estudos empíricos sobre o assunto (a última não resiste à lógica)." (grifos nossos)
Quer dizer então que décadas de estudos empíricos provam que:
a) nós não ganhamos baixos salários, devemos ser meramente uns insatisfeitos da vida. Nem vou falar dos nossos contracheques zerados deste e do próximo mês, porque aí seria uma apelação da minha parte. Basta falar da nossa reivindicação principal: um piso salarial de R$ 1.187,00 para uma jornada de até 40 horas de trabalho. De fato, este é um salário gigantesco, que nenhum de nós saberá como gastá-lo no dia em que os governos que financiam a revista Veja, o jornal Estado de Minas, a Rádio Itatiaia, a Rede Globo, e tantos outros, resolverem nos pagar esta altíssima remuneração. Agora, a pergunta que não quer calar: será que este sujeito tem a coragem de fazer como eu faço aqui, de exibir o contracheque publicamente, para mostrar quanto ele ganha para meter o bedelho em assunto que é sério, e deveria ser tratado com respeito, e não como ação de palpiteiro? Mas, como eu sou ingênuo! Quem disse que ele tem contracheque? Filho de banqueiro, estudou em duas universidades caríssimas no exterior, é fundador e presidente da G7 Investimentos, conselheiro da Iochpe-Maxion S.A. e Fundação Iochpe, etc., etc. Ou seja, é um "especialista" da educação, padrão rede Globo, que não deve ter contracheques, mas retiradas mensais superiores, cada qual, ao que um professor do Brasil real recebe em toda uma vida de dedicação ao ensino público;
b) salas superlotadas continuam uma realidade em várias escolas de Minas e do Brasil. Já lecionei para turmas com mais de 50 alunos, onde eu ficava espremido entre a lousa e as carteiras da frente dos alunos. Depoimentos semelhantes já foram dados aqui. E é muito comum, por economia porca por parte do estado, haver fusão de turmas quando numa ou noutra sala começa a ocorrer evasão de alunos no segundo semestre do ano. Mas, os "estudos empíricos de décadas" do nosso especialista dizem o contrário. Logo, a realidade fátidica não conta, o que conta mesmo são os estudos de "especialistas" escolhidos a dedo pelos governos, ou pelas secretarias de educação dos desgovernos;
c) quanto aos pais de alunos não cooperarem, claro que esta forma rebaixada de abordar o problema só poderia sair da boca, ou da pena, de uma pessoa que desconhece a realidade social em que vivemos. Boa parte dos pais de alunos não tem condição real para dar a devida atenção ao desempenho dos filhos nas escolas públicas; não que não queiram, mas por absoluta falta de tempo, pois trabalham o dia todo para garantir a sobrevivência da família; ou então porque eles não tiveram, na infância, a oportunidade de frequentar uma escola pública de qualidade. Contudo, a culpa não é desses pais, mas dos governos e das elites dominantes, que não investem na educação e preferem gastar rios de dinheiro com publicidade em revistas, jornais, rádios e TVs de baixa qualidade - que contratam "especialistas" para falarem mal dos professores -, do que investir seriamente na educação pública;
d) o país não investe pouco em educação pública - é o que diz o articulista-palpiteiro, fazendo referência a "estudos empíricos". Aliás, estes estudos me lembram um pouco uma fábrica poluente aqui da cidade onde eu moro, que contratava empresas para fazerem estudos comprovando que ela não tinha culpa pela poluição que causava. A culpa era do vento, que soprava na direção errada. Paguem um profissional sem caráter para fazer um estudo contra ou favor qualquer assunto e ele fará, sem dor na consciência. Então, o Brasil investe muito em educação básica, de acordo com o articulista. Ora, onde está este dinheiro, então? Se os educadores de Minas e do Brasil estão lutando e sofrendo para receberem um miserável piso salarial de R$ 1.187,00 e ainda assim não conseguiram, há que se perguntar: onde está o dinheiro deste alto investimento na Educação pública que não chega nas escolas e no bolso dos educadores? [Cairia bem aqui aquela música: "Onde está o dinheiro, o gato comeu, o gato comeu. E ninguém viu...."]. Se fosse consequente com a análise que ele faz, deveria dizer que os governantes deste país são corruptos e ladrões. Mas, o papel dele não é ir ao fundo nas análises, mas simplesmente lançar a desconfiança, tentar jogar os leitores incautos contra os legítimos movimentos dos educadores por salários mais justos, e consequentemente, por uma Educação pública de qualidade. O Brasil investe em torno de 5% do PIB, apenas, com toda a Educação pública. Este ano de 2011, o custo aluno ano foi de apenas R$ 1.750,00 para o FUNDEB - o que dá uma média de R$ 146,00 por mês por aluno. Apontem uma única escola privada que cobra esta mixaria de mensalidade dos seus alunos, garantindo com este recurso o pagamento dos educadores, as reforma das escolas, a aquisição de equipamentos, merenda, livros didáticos, etc. O estado investe muito pouco na educação pública - investe pouco e mal, pois são notórios os desvios realizados com as verbas da Saúde e da Educação -, e obviamente, este baixo investimento na Educação se deve sim à não priorização dessa área pelas elites dominantes. Por quê? Óbvio: essas elites não desejam, de maneira alguma, conviver com uma população dos de baixo com boa formação crítica, politizados e conscientes do protagonismo que devem assumir em relação à sua própria história.
Mais adiante - e eu não vou me dar ao trabalho de cansar ainda mais os nossos ilustres leitores - o articulista da tal revista lança a conhecida falácia neoliberal, segundo a qual, a qualidade da educação deve ser vista pelas lentes do mercado, pela competição individual entre os educadores, a tal meritocracia extremada, contra a qual, segundo o economista, o sindicato é um obstáculo. Em outras palavras: se não houvesse a luta coletiva, sindical, organizada, a qualidade do ensino seria melhor, pois os "bons" profissionais ganhariam mais, e os "vagabundos" (é este o termo que ele usa, talvez se olhando no espelho) receberiam menos. Mal sabe o palpiteiro, que a luta dos educadores tem se pautado pela defesa de salário justo para todos, mas também pela implementação de uma política séria de formação continuada e pela valorização do título acadêmico - o que não se conquista com vagabundagem, mas com estudo, com dedicação, com persistência. E que é justamente o estado que tenta dificultar esta luta, ao não remunerar adequadamente os educadores que alcançam novos títulos acadêmicos, ou ao não oferecer cursos de formação continuada, além dos péssimos salários praticados.
E para encerrar - porque meu estoque de paciência com tanta imbecilidade já começa a se esgotar neste final de noite - vejam esta outra pérola:
"Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha de trabalhar mais: passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor — aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego, maior liberdade para montar seu plano de aulas e para faltar ao trabalho quando for necessário — é irrelevante ou até maléfico para o aprendizado dos alunos."
Vejam: "cada vez mais a pesquisa demonstra...". Pesquisa? Que pesquisa que demonstra essa imbecilidade? Se ele conhecesse um pouco a realidade das escolas e das nossas reivindicações, veria que o que queremos é bom para o aluno e para o professor, sem contradição alguma. Queremos sim mais tempo extraclasse, justamente para preparar melhor as nossas aulas - isto nada tem a ver com "aulas mais curtas"; queremos melhores condições de trabalho sim, com turmas menores, equipamentos, bibliotecas, salas de informática, para podermos ocupar com mais criatividade o tempo em sala de aula e fora dela também; e queremos autonomia sim, para discutir e preparar os conteúdos, considerando os contextos em que vivemos, e para realizar trabalho interdisciplinar, o que requer maior tempo extraclasse. Mas, para o infeliz articulista, nós estamos querendo é liberdade para faltar quando quisermos, ou para não trabalhar - novamente ele deve estar se mirando no espelho, claro. É outro que desconhece a realidade do magistério e a necessidade de haver mais tempo extraclasse para o melhor desempenho profissional em sala de aula. O que é bom para professores e alunos.
Enfim, trata-se de mais um texto sob encomenda, com citações de pesquisas descontextualizadas, de outros países, sem se dar ao trabalho de abordar de forma séria a dramática realidade da educação pública básica no Brasil. Mais um artigo sob encomenda a serviço dos governantes, como o de Minas e de tantos outros estados e municípios, que não cumpriram sequer a Lei do Piso - e cujo tema, responsável pela greves que ele critica, não foi mencionado sequer uma única vez no seu artigo.
Ora, as elites brasileiras estão realmente empobrecidas demais em matéria de críticos, pensadores ou "especialistas" em tentar justificar as suas políticas anti-povo. O nível de formulação destes articulistas prova que o Brasil precisa de fato de mais investimento na Educação. Inclusive para os especialistas-palpiteiros.
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