A população começa a sentir os efeitos do horário de verão nesta segunda-feira (17), primeiro dia útil depois da mudança. Mas será que o relógio movido uma hora para a frente pode trazer algum efeito à saúde? Para algumas pessoas a mudança traz quadros de mal-estar, dificuldade para dormir, sonolência diurna, alterações de humor e até mesmo de hábitos alimentares. Para outros, significa apenas um dia aparentemente mais longo. Essas diferentes reações são decorrentes da mudança do relógio biológico e de alterações hormonais. É o que explica Selmo Minucelli, hematologista do Sérgio Franco.
O médico afirma que, em condições normais, os diversos ritmos do nosso organismo, como o ciclo vigília-sono e o ritmo de temperatura, estão sincronizados. É o chamado relógio biológico ou relógio interior. Por isso, quando há uma mudança brusca de horário, o organismo tende a se reajustar. Como cada ritmo tem uma velocidade própria de equalização, a relação de fase entre eles é alterada com a mudança do horário. É a chamada desordem temporal interna, que pode ocasionar sintomas que podem perdurar poucos dias ou se prolongar por semanas, só terminando quando a ordem temporal interna é restabelecida.
Minucelli explica que o nosso relógio interior pode funcionar de maneira matutina ou vespertina, influenciando diretamente na adaptação ao horário de verão. As pessoas que acordam de manhã bem dispostas e dormem cedo, ou dormem muito pouco são chamadas de matutinas. Já as que têm dificuldade de acordar cedo e funcionam bem à noite são as vespertinas. “Os matutinos são os que têm mais chances de sofrer com o novo horário, já que eles costumam dormir pouco diariamente e irão se privar ainda mais do sono”, diz .
A diferença de perfis é ainda influenciada pela secreção de um hormônio, o cortisol, que dá a sensação de vivacidade. Segundo o especialista, ele demora mais para ser secretado nos vespertinos. Minucelli explica que, para acordar, não basta abrir os olhos. O cortisol, que prepara a pessoa para a vigília, demora mais para ser secretado nos vespertinos do que nos matutinos.
O médico também lembra que acordar com o dia ainda escuro afeta a secreção do hormônio melatonina, acionado pela falta de luz, alterando o metabolismo. Isso acontece porque os hormônios são regulados pelo ritmo do dia, pela claridade do sol e pela escuridão da noite. Com o horário de verão pode haver atraso nessa secreção, causando sonolência por alguns dias, o que pode ser perigoso para quem precisa estar alerta no trabalho.
No caso de idosos com problemas graves de saúde, a mudança no padrão do sono pode ainda aumentar a pressão arterial, mas isso acontece geralmente em casos extremos, de acordo com Minucelli.
Para adaptar melhor o relógio biológico, o médico orienta a dormir pelo menos dez minutos mais cedo a cada dia, durante dez dias antes da mudança de horário. A adaptação lenta e gradual segue o mesmo ritmo do relógio biológico, sem causar reações no organismo. Se isso não for possível, o ideal, segundo o médico, é manter a qualidade e a regularidade do sono, seguindo alguns hábitos. “Para dormir bem, escolha um ambiente escuro, silencioso, com boa temperatura todos os dias. Mas evite fazer exercícios três horas antes de dormir, ingerir cafeína e comida pesada”, fala.
Minucelli lembra que o horário de verão traz vantagens. “Com horas extra de luz do dia no período da tarde podemos aumentar os níveis de vitamina D nas pessoas, bem como incentivá-las a praticar mais exercício. Além disso, há a economia de energia”, finaliza.
JB
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