domingo, 24 de março de 2013

Para sacramentar a ocupação da Palestina, só faltavam as bênçãos de Obama

Em sua visita a Israel, a abordagem “não é comigo” de Obama satisfaz seu eleitorado nos EUA. Pesquisa feita pela rede ABC-TV mostrou que o maior número de norte-americanos (55%) apoiam Israel, contra 5% que apoiam os palestinos. Maioria ainda maior, 70%, entende que os EUA devem deixar que os dois lados discutam e decidam o próprio futuro.


Israelenses comuns, o público que o presidente dos EUA quer atingir, tampouco veem com bons olhos qualquer envolvimento dos EUA. Outra pesquisa recente mostra que 53% preveem que Obama não protegerá interesses de Israel; e 80% entendem que com Obama, nos próximos quatro anos, não acontecerá qualquer avanço na questão com os palestinos. O estado de espírito dominante é de indiferença, mais de que de expectativa.

Todas essas são boas razões para explicar por que nem Obama nem Netanyahu dedicarão grande atenção à questão palestina, durante a visita de três dias.

Como o analista Daniel Levy observou: “Obama vem, sobretudo, para fazer declarações sobre os laços que unem EUA e Israel, não para falar da ocupação ilegal.”

É o que entendem também muitos palestinos, cada dia mais exasperados pelo obstrucionismo dos norte-americanos.

PROTESTOS
Funcionários dos EUA que foram a Belém, na preparação da visita que Obama fará à cidade esta sexta-feira, foram colhidos em várias manifestações anti-Obama. E esperam-se novas manifestações, em Ramallah.

Outros palestinos protestaram montando uma nova comunidade de barracas em terra palestina ocupada próxima de Jerusalém. Inúmeros outros acampamentos desse tipo, montados antes, foram violentamente destruídos por soldados israelenses.

Os organizadores esperam chamar a atenção para a hipocrisia dos EUA no apoio à ocupação israelense: colonos judeus são autorizados a construir, com apoio do governo de Israel, em territórios ocupados – o que é flagrante violação da lei internacional; e os palestinos são impedidos por soldados israelenses de desenvolver o próprio território, o mesmo que a comunidade internacional já reconheceu como estado palestino, com representantes na ONU.

MENSAGEM
A mensagem escrita nas entrelinhas dessa visita de Obama é que o governo de Netanyahu tem carta branca para fazer avançar sua agenda de violências, sem nada temer de Washington, além, no máximo, de algum protesto simbólico.

O novo gabinete israelense não perdeu tempo para definir suas prioridades legislativas. A primeira nova lei já anunciada é uma “lei básica” que mudará a definição oficial do Estado, de modo a que os aspectos “judeus” sobreponham-se aos elementos “democráticos” – movimento que o jornal Haaretz qualificou de “insano”.

Dentre outras determinações de lei, há uma que limita a aplicação de fundos públicos, que passam a só poder ser aplicados em novas comunidades de judeus. É um arranjo cínico, com o qual Netanyahu visa a aplacar um crescente movimento de protesto em Telavive, que começa a exigir moradia a preços mais acessíveis para todos.

Oferecendo terra a preço subsidiado para novas colônias na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, Netanyahu consegue expandir a ocupação, rouba mais terra dos palestinos, cala os protestos e desestabiliza a oposição. Só precisava, de fato, das bênçãos de Obama.

Jonathan Cook (Conterpunch)

Tribuna

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