A aprovação em 2009 da Emenda 58 garantiu a criação de 24 faixas  populacionais que definem o número de vereadores por cidade. Segundo um  estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM), divulgado no início  de outubro deste ano, 2.153 municípios estão qualificados a rever a  quantidade de representantes na Câmara Municipal. Entre os 1.857  participantes do levantamento, metade já abriu mais vagas e mais de 61%  da outra parcela pretende fazer o mesmo. As novas faixas criadas variam entre o máximo de nove vereadores nas  cidades com até 15  mil habitantes a 55 nos municípios com mais de 8  milhões de pessoas. Sendo assim, o número máximo possível de vagas para  as eleições de 2012 é 59.764 – 7.710 a mais que em 2008 – e os estados  com maior adesão são São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, e Rio Grande  do Sul.
 
A escolha pelo aumento da bancada é uma opção da Câmara Municipal,  mas capitais como Salvador e Porto Alegre mantiveram o mesmo número de  integrantes. Por outro lado, Florianópolis e Maceió ampliaram seus  quadros, enquanto São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte já dispõem  da quantidade máxima permitida em suas faixas populacionais –  diferentemente da maioria das cidades de médio e pequeno porte aptas  para a revisão, faixa que concentra a maior adesão à mudança a partir de  2013.
 
Mesmo considerando que, geralmente, nestes locais a discussão e  votação de projetos acontece em um longos intervalos de tempo. Um  possível indicativo de falta de debate político ou temas de interesse  público a serem transformados em lei. Enquanto a cidade de São Paulo  realiza ao menos três sessões ordinárias por semana, Araraquara, no  interior do estado, tem apenas uma. Há registros de cidades em que as  mesmas ocorrem a cada 15 dias.
 
Com  esse nível de adesão ao debate de projetos, a justificativa de  que o aumento de vereadores traria maior representatividade tem pouco  sentido. Por outro lado, a medida elevaria substancialmente os custos de  administração e já enfrenta resistência em diversas regiões do País.  Caso de Novo Hamburgo, interior do Rio Grande do Sul, que inicialmente  aprovou a proposta, mas desistiu após a pressão popular.
O custo benefício de um vereador pode ser calculado levando em conta  algumas variáveis, como a presença nas sessões ordinárias e  extraordinárias, às quais devem oficialmente comparecer. Porém, a conta  fica mais complicada ao analisar que o mesmo não vale para outros  eventos da Casa ou até para o expediente no gabinete. Não há uma jornada  de trabalho determinada.
 
Visto que a maioria das cidades a revisar o número de vereadores são do interior do País, CartaCapital escolheu  aleatoriamente três municípios desta parte do Brasil para um  levantamento do impacto econômico da adoção da medida. Os locais  escolhidos possuem porte médio e estão nos estados com maior adesão à  proposta.
 
Para ilustrar o cenário de custo-benefício, foram comparados o valor  dos salários dos vereadores, a quantidade de horas trabalhadas pelos  mesmos em 2005, de acordo com levantamento publicado no início deste ano  pela ONG  contra a corrupção Transparência Municipal,  baseado em dados  da Interlegis  – Comunidade Virtual do  Poder Legislativo, e a  frequência das sessões ordinárias.
Disparidade
 Em Araraquara, cidade paulista de cerca de 208 mil habitantes, a  Câmara Municipal vai passar de 13 para 18 vereadores em 2013, abaixo dos  21 permitidos por lei.
 O município realiza apenas uma sessão ordinária por semana e os dados  da Transparência mostram que os vereadores da cidade trabalharam, em  média, apenas 32 horas mensais em 2005. Uma quantidade inferior a uma  semana da jornada de um indivíduo registrado no regime de 8 horas  diárias da CLT, ou 160 horas por mês.
 Na cidade, cada vereador recebe 5.043,73 reais por mês (sem direito a  benefícios) e tem garantido dois assessores de gabinete com salário de  1.684,13 reais mensais cada, além de um assessor legislativo por  2.046,64 reais por mês. Logo, o custo mensal por vereador é de 10.458,63  reais.
 Em uma comparação simples, considerando o salário de 2011 dos  vereadores da cidade e as horas trabalhadas por mês em 2005, eles  recebem o equivalente a 157,61 reais por hora. A hora de um empregado  com o salário mínimo de 545,00 reais custa 3,4 reais, em uma jornada  cinco vezes mais longa.
 A Câmara Municipal de Araraquara informou, por meio de sua assessoria  de imprensa, que os cinco vereadores novos representarão um acréscimo  de 2 milhões de reais por ano às despesas da Casa. A previsão inclui a  reforma do prédio para abrigar os gabinetes extras, mas deixa de fora um  possível aumento salarial para a próxima legislatura a ser debatido em  2012.
 Em Caxias do Sul, a segunda maior cidade do Rio Grande do Sul, com  cerca de 440 mil habitantes, aumentou em seis o número de vereadores a  partir de 2013. Agora serão 23, o máximo permitido.
 Os vereadores caxienses recebem um subsídio de 7.607,06 (sem 13º  salário  e outros benefícios). Segundo a Transparência Municipal, os  representantes trabalharam 32 horas mensais, em média, em 2005. Uma  proporção de 232,72 reais recebidos por hora, para comparecer a três  sessões ordinárias por semana.
 Cada vereador tem direito a dois assessores políticos com salários de  2.725,10 reais por mês cada. Logo, o aumento de seis vereadores  resultaria em um gasto mensal de 78.343,56 reais, apenas em subsídios.
 Além disso, a Câmara construiu um prédio anexo para os novos  gabinetes, ao custo de 1.804.858,00 reais. Na cidade também deve ser  discutido um aumento no salário da próxima legislatura.
 No interior da Bahia, em Vitória da Conquista, cidade de cerca de 310  mil habitantes, a Câmara passará de 17 para o máximo de 21 vereadores a  partir de 2013. Com um orçamento de 6 milhões de reais para 2011, o  órgão paga 8.849,00 reais (sem benefícios) aos seus vereadores.
 A média mensal de horas trabalhadas foi de 48 em 2005, pelo valor de  737,41 reais, quase o dobro da quantia paga nas cidades anteriores  juntas. Além disso, há apenas duas sessões ordinárias semanais.
 Cada gabinete tem uma verba de 7 mil reais, logo, o aumento das vagas  representaria 95.094 reais extras por mês aos cofres públicos. Ainda  existe um projeto para a construção de um quarto andar na Câmara, no  qual ficariam os gabinetes novos. Porém, sem estimativas de gastos.
 Esse cenário ocorre mesmo com a diminuição dos repasses às câmaras,  também aprovado na Emenda. Com a mudança, Araraquara e Vitória da  Conquista podem perder até 15% e Caxias do Sul, 17%, de seus orçamentos  para 2013. Porém, as cidades com mais habitantes e, consequentemente,  mais vereadores, enfrentarão maiores cortes. São Paulo, por exemplo,  pode ter uma redução de até 30% nos repasses, hoje em 431.064.192,36 de  reais por ano.
 Na capital paulista, os vereadores ganham 15 mil reais e trabalharam   em média mais de 160 horas por mês, recebendo 93,75 reais a cada 60  minutos de jornada, abaixo das médias acima. Contudo o custo de gabinete  é exponencialmente mais elevado: são 18 assessores parlamentares para  cada vereador, com uma verba mensal  de 84.407,60 reais para mantê-los e  ainda 16.359,48 reais para despesas  gerais. 
 Carta Capital