Participei em São Paulo do simpósio sobre crack promovido pelo Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).
Historicamente, o uso de alucinógenos e outros aditivos químicos teve início em rituais religiosos. O incenso, extraído do tronco de árvores aromáticas, é uma ‘droga’ que reduz a ansiedade e o apetite.
Hoje, as substâncias químicas obtidas de plantas superaram o âmbito religioso e terapêutico e se tornaram iscas à dependência química com suas nefastas consequências conhecidas.
A repressão ao narcotráfico não mostra resultados satisfatórios. As famílias dos dependentes, desesperadas, buscam internações e terapias ‘miraculosas’.
Ora, médicos, remédios e terapias podem, sim, ajudar na recuperação de dependentes. O fundamental, porém, é o amor da família e dos amigos — o que não é nada fácil nessa sociedade consumista, individualista, na qual o ‘drogado’ representa ameaça e estorvo.
A religião, adotada em algumas comunidades terapêuticas, pode favorecer a recuperação, desde que infunda no dependente um novo sentido para a sua vida. Na questão das drogas há que distinguir segurança pública de saúde pública.
Sou favorável à descriminalização dos usuários e a penalização dos traficantes. Os usuários só deveriam ser afastados do convívio social quando forem uma ameaça à sociedade. Nesse caso, precisariam ser encaminhados a tratamento, e não a encarceramento.
Todo ‘drogado’ é um místico em potencial, alguém que descobriu o que deveria ser óbvio a todos: a felicidade está dentro e não fora da gente. O equívoco é buscá-la pela porta do absurdo e não a do Absoluto.
Um pouco mais de espiritualidade cultivada nas famílias, sobretudo em crianças e jovens, e não teríamos tanta vulnerabilidade à sedução das drogas.
Frei Betto é escritor, autor de ‘O vencedor’ (Ática), romance sobre drogas |
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