quarta-feira, 8 de junho de 2011

DIRETORES E DIRETORAS DA REDE ESTADUAL À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS!

Recentemente, o S.O.S. Educação Pública reproduziu  a notícia do aumento dos diretores e diretoras das escolas estaduais anunciado no site da Secretaria de Educação,  o " bônus arrocho", instituido na opinião do resto da categoria, para incentivar a direção chicotear a galera e arrancar na marra os indíces de produtividade definidos pelo Plano de Metas.

Planejando escrever um artigo protestando contra essa injustiça, entrei em contato com diretores e diretoras da rede estadual e procurei saber se o aumento tinha sido no valor anunciado e se já tinha sido pago. Para minha surpresa, e acredito que também será para muitos colegas, o aumento anunciado, até agora é um factóíde.


Verificamos vários contra-cheques e constatamos que o aumento não foi dado. Dinheiro a mais na conta salário até agora nenhum diretor ou diretora viu, como prova o contra-cheque reproduzido abaixo. 
Nota: todos os dados que poderiam identificar o profissional foram removidos para proteger a identidade do servidor.

De concreto mesmo, só o aumento da carga de exploração, a vida dos profissionais com cargo de direção virou um inferno. Sobrecarregados e pressionados estão tendo que trabalhar nas unidades até a madrugada todos os dias, inclusive aos sábados e domingos para dar conta do tsunami burocrático que se abateu sobre a rede.

O que todos estão recebendo às toneladas são novos encargos em função da burocracia instituída com o plano de metas, quilômetros de formulários a serem preenchidos, levantamentos minuciosos de tudo que é possível imaginar, sem falar das longas reuniões quase diárias. Tempo para cuidar da parte pedagógica? Nenhum! Tempo para interagir com o corpo docente e discente? Zerado. Na atual conjuntura, diretores e diretoras estão se transformando em robôs automatizados pelo aparato burocrático. Detalhe importante a todo esse caos, soma-se o corte de verbas, o corte de funcionários e as pressões para fazer o muito sem fundos, o que não é de se espantar quando impera a lógica do “menos é mais!”.

As conclusões que podemos tirar desses episódios, é que essas notícias têm como objetivo induzir a   opinião pública a acreditar que estão investindo pesado em educação. Quem está de fora acredita que economicamente o pessoal que atua no magistério está vivendo uma fase de ouro: ganharam laptops; Internet; poderá ter até 16 salários por ano, auxílio transporte; bônus de 500 reais em janeiro; bônus qualificação de 500 reais para comprar livros; bônus de 300 reais para os professores de Matemática e Língua Portuguesa! Entretanto na vida real, até agora só recebemos os 500 reais em janeiro e o auxílio transporte! Não aparece na mídia: 
  • as novas atribuições que recebemos como, por exemplo, a função de contraceptivo, pois se alguma aluna engravidar a escola perde pontos e o bônus da meta vai de ralo abaixo;  
  • o lançamento de notas no conexão educação, que em função da sua lentidão exige horas e horas de trabalho extra sem remuneração para ser concluído;
  • a retirada de todos os aparelhos de ar condicionados, colocados em meados do ano passado e alardeados na mídia;
  • a confecção de gabarito e a correção das provas do Saerjinho, sem remuneração, apesar da Seeduc já ter pago à empresa que organizou a prova o gabarito e a correção eletrônica dos cartões.
  • a demissão do pessoal que cuidava da limpeza, segurança, etc., pois os terceirizados eram uma espécie de coringa nas escolas;
  • a demissão dos técnicos de informática que davam suporte a escola;
  • a superlotação das salas, que agora com o fechamento de várias escolas noturnas tende a aumentar;
  • a insegurança, pois faltam inspetores até mesmo para controlar os corredores e portões;
  • é até milagres, pois os diretores e diretoras devem lançar as notas das turmas sem professores;
  • reuniões e mais reuniões, que realizadas durante a semana implicam na perda de tempos de aula e aos sábados privando o pouco tempo que dispomos para a família, o lazer e os assuntos pessoais. Detalhe importante, sem direito a remuneração e auxílio transporte.
O que importa são os números, as estatísticas e a propaganda! A educação, a parte pedagógica, a interação com a comunidade escolar estão deixadas de lado, pois a voracidade da burocracia tecnocrata, não deixa tempo para essas atividades.

Valorização da educação e do docente, até agora só na mídia! O governador do Piauí, deve estar rindo à toa, porque sem mexer uma palha vai subir no IDEB de 2014, pois do jeito que a coisa vai o Rio de Janeiro está batalhando com unhas e dentes para garantir o último lugar!

Incorporamos ao texto um depoimento que acabamos de receber (às 17:55) via e-mail:

"DESABAFO DE UMA DIRETORA

Em complementação ao seu texto, acrescento que a direção está sendo  obrigada a lançar notas fantasmas para encobrir as aulas não dadas, na tentativa de satisfazer o ego dos pais, e mostrar uma pseudo realidade, a fim de cortar os tentáculos de uma força que a sociedade possui, e que poderia ser despertada pela indignação ao ver como a educação dos seus filhos está sendo tratada. Tal medida ignora assim as competências da direção escolar no âmbito de sua graduação. Não importa se a licenciatura é de Filosofia , porém se o aluno tem falta de nota na disciplina de Matemática por falta de professor, o diretor deve lançar sem reclamar, pois qualquer reclamação será encarada como uma transgressão ao Estatuto do Servidor.

As exonerações continuam a transitar em nosso meio, como modo de encurralar e chicotear as diretoras e os diretores mais resistentes.
Tudo isso cheira podre e quem quiser pagar os seus compromissos, sustentar sua família, e não passar como caloteiros, precisa colocar uma máscara e respirar fundo, esse ar que nos compromete. Vivemos com o usurpador chamado “ BMG” e afins , de nossos contracheques que todos os dias tentam nos alcançar, e enriquecer a sombra do funcionalismo desesperado. Vemos a promessa de valores em reais para os alunos do Ensino Médio, que é um belo disfarce para maquiar a evasão escolar. Como alcançar uma educação de qualidade com dados irreais???
Ser diretor ou diretora, em época não muito distante, era sinônimo de prestígio e pompa, Hoje não se tem mais esse olhar respeitoso, pela figura do diretor. Atuamos em um cenário precário, no qual assistimos o desfile de professores e professoras fatigados por sistema opressor,que vivem sobressaltados por ameaças sem prévio aviso de exoneração.

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