É generalizado no Congresso o desconforto com o flagrante do torpedo
enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza ao governador do Rio,
Sérgio Cabral, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito mais
famosa do País.
O PT trabalha para reduzir os danos, mas propaga-se em voz baixa na
bancada a interpretação de que o deputado fragilizou o partido e deu
aval a suspeitas sobre a função de seus representantes na comissão.
O PMDB considera que ele acabou levando Cabral para dentro da CPMI,
abrindo espaço para a aprovação de eventual pedido de convocação
apresentado pela oposição, como uma espécie de "prova" de conduta isenta
a ser apresentada ao público.
Entre os demais parlamentares há divergências quanto à necessidade de
afastamento, mas existe um ponto de convergência: a atitude foi ruim
para o conjunto da comissão que, perante a sociedade, começa a assumir
fortemente a feição de uma ação entre amigos e inimigos políticos sem
compromisso com as investigações em si.
Já o deputado Cândido Vaccarezza não vê problema mais sério no
episódio. Assegura que não pedirá para sair da CPMI, garante que o PT
não o fará e aposta que seus pares de outros partidos também não.
Por uma razão simples: "Não tenho nada a esconder, nenhuma relação
com a bandidagem e zero compromisso com proteções ou condenações por
antecipação".
Tirando o "imperdoável" erro de português da já notória frase "você é
nosso e nós somos teu", dirigida ao governador Cabral, Vaccarezza tem
convicção de que não cometeu pecado algum.
Recusou orientação de assessores para alegar invasão de privacidade -
"o profissional no caso estava no exercício justo de sua função
jornalística" -, mas afirma que a mensagem foi exposta fora do contexto
geral de uma conversa em que ele transmitia ao governador a avaliação de
que nada teria a temer, pois não fora citado em nenhuma das gravações
da Polícia Federal.
"Não há blindagem porque não há até agora nada que ligue Sérgio
Cabral ou mesmo Fernando Cavendish à organização criminosa comandada por
Carlos Cachoeira. Se aparecer, ninguém terá proteção de minha parte."
Diferentes, diz, são os casos dos governadores Marconi Perillo, de
Goiás - "atolado até o pescoço" -, e Agnelo Queiroz, do Distrito
Federal, cujo ex-chefe de gabinete aparece nas gravações. Mesmo esses
dois casos são distintos entre si na visão de Vaccarezza.
"Querer tratar do assunto como uma ação de governadores dando o mesmo
peso a situações diversas é que me parece a preparação de uma base para
a massa da chamada pizza."
Portanto, mesmo estando na berlinda, o petista diz que entra hoje na
primeira reunião da CPMI na semana tranquilo quanto a possíveis
desdobramentos. "Já expliquei, ficou tudo esclarecido."
Não é a opinião de alguns colegas. O deputado Miro Teixeira tinha na
sexta-feira a expectativa de que ele se declarasse impedido de continuar
e o senador Pedro Taques preparava-se ontem para embarcar para Brasília
já com questionamentos engatilhados para ele.
"Não faço juízo, mas a mensagem dá a ideia de que está havendo
acobertamento, assim a opinião pública entendeu, foi o que me perguntou
minha filha de 14 anos. Então, não está nada explicado, assim como não
está esclarecida qual a natureza daquela conversa, se pessoal ou,
digamos, profissional", dizia.
Mais embaixo.
Não é só a questão de convocação ou
não do diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Júnior, que
"azeda" a relação do PMDB com o PT na comissão de inquérito.
É a desconfiança por parte dos petistas de que os pemedebistas
estejam aliados ao PSDB na montagem de uma operação conjunta de proteção
ao governador Marconi Perillo para também "blindar" os seus.
O PMDB governou Goiás e administrou Goiânia algumas vezes, tem
presença forte no Estado onde nasceu a "rede Cachoeira", cujas origens, é
de se pressupor, remontam a gestões anteriores.
Estadão
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