Não há nenhuma razão de espanto diante do cenário educacional do país.
Na década de 50 optou-se pela industrialização. Assistiu-se ao êxodo rural e a um decorrente e desordenado processo de urbanização. Toda a população que na “roça” passava muito bem sem escola nenhuma veio para as cidades, aonde sem escola não se chegava a lugar nenhum.
Com exceção do Lula, que foi ser presidente da República.
Só em 1961 votou-se a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB para os íntimos - prevista na Constituição desde 1946, como competência da União. Nessas alturas, no Rio de Janeiro, capital da República, já havia cerca de 100 mil crianças sem escola.
A discussão dessa lei foi dominada por um falso antagonismo entre escola pública e escola particular. Esse conflito, embora falso, serviu - e serve até hoje - de excelente pretexto para ninguém fazer nada.
Em 1971, dez anos depois, surge nova LDB que, entre outras coisas, dizia que todo ensino médio ia ser profissionalizante.
Mas em 1982 mudou-se de idéia, e fizemos mais uma LDB, permitindo que o ensino médio pudesse ser também como era antes.
Até aí tudo bem, pois nada havia mudado - tínhamos apenas instalado a simulação no ensino brasileiro, a mímica do cumprimento da lei. Isso é grave na matéria.
Em 1996 veio mais uma LDB, que já foi alterada por uma infinidade de leis, atos, pareceres e decisões.
Mas uma vez admitida a simulação, ninguém ligou para mais nada. Tivemos uma enxurrada de leis criando disciplinas “obrigatórias” - recurso muito útil para fazer de conta que estávamos tratando nas escolas de temas sobre os quais ninguém sabia nada.
Enquanto isso o magistério brasileiro para uma futura tarefa incerta ia sendo formado como se fazia na década de 50.
Fizemos pior a mesma coisa com outros rótulos esse tempo todo. Trocamos os nomes de tudo, a ponto de hoje um pai ou avô ter dificuldade em saber em que ponto dos estudos está seu filho ou seu neto.
Patinamos em matéria de educação há 50 anos, navegando numa inflação que não dava tempo de ver o futuro.
Depois de duas gerações, não há porque calar: não sabemos o que queremos nem só sobre educação escolar, mas sobre acesso ao saber.
Ainda há preliminares básicas que precisam ser decididas.
É fácil escrever na Constituição que somos livres para pensar. Mas é possível ser livre para pensar sem ser livre para aprender?
Todo brasileiro tem que aprender no mesmo tempo as mesmas coisas? São decisões desse porte que precisam ser tomadas.
Porque o espanto, é o que cabe perguntar.
Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de EducaçãoBlog do Noblat
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