terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Gaza condena ações do governo de Benjamin Netanyahu

Israelenses em Tel Aviv: “Você quer parar o Hamas? Dê esperança a Gaza, não guerra!" (Foto:Jonathan Nackstrand/AFP)

“Mas o que estão fazendo, idiotas? Não veem que agora virá a aviação israelense e esmagará todos vocês e a população?” Era maio, e Roni Keidar, de 68 anos, aposentada, moradora do Kibutz Erez (a dois quilômetros da fronteira de Gaza), gritava em seu jardim. Foguetes eram lançados a partir de Gaza, soavam os alarmes. Ela estava em pânico ao correr para o abrigo e perceber que seu neto não estava mais com ela. Agora, passados seis meses, suas vidas voltam a ser assoladas pela força. O alerta vermelho disparado pela aveludada voz feminina nos alto-falantes alcançava diversas ruas. Era o aviso aos moradores: têm 15 segundos para alcançar o bunker ou abrigo mais próximo. Os buracos nos telhados da casas denunciam estilhaços de foguetes caídos nas proximidades. 

Nos anos 1990, uma das quatro filhas de Roni decidiu mudar-se para Eilat, distante dos foguetes. Outra vive no Canadá. As duas restantes moram no mesmo povoado junto com um filho. “Vivemos assim há 12 anos”, desabafa Ovadia, marido de Roni. “E a situação não vai mudar enquanto se tentar resolvê-la à base de foguetes e bombardeios”, ela acrescenta.

O kibutz onde vivem Roni e Ovadia encontra-se dentro de uma área fechada pelo Exército israelense no sábado 10 de novembro. Os militares permitem o uso das estradas apenas para evasão do local. A entrada só é permitida a alguns dos 75 mil reservistas convocados às pressas, que chegam pouco a pouco em carros particulares, e para os caminhões que transportam os tanques de guerra para uma eventual incursão pela “faixa” .

As paredes da casa de Roni, que se encontra no meio do desolado, silencioso e sepulcral kibutz, tremem com estrondos a cada instante. A ausência de alarme indica que o ataque é israelense e o impacto deu-se no lado gazeu do muro – onde vivem os habitantes naturais da região. “Se aqui, a quatro quilômetros da zona habitada de Gaza, ressoam assim, imagine o que estarão passando os palestinos que estão ali dentro”, diz Roni. Pouco depois, a sinistra voz feminina nos alto-falantes impele o casal a correr novamente para um abrigo, uma pequena despensa de três metros quadrados sem janelas situada nos fundos da cozinha, onde máscaras de gás se amontoam sobre um armário. E tremem de novo as paredes.


“Caramba, este caiu perto”, diz ela. Essa rotina de anos já não lhe permite surpreender-se em demasia. De volta ao sofá de sua sala, Roni começa a explicar tranquilamente que pertence à organização A Outra Voz, formada em 2008, que agrupa israelenses atingidos pelo lançamento dos foguetes gazeus. Sua mensagem: “A guerra não vai solucionar o problema; enquanto não houver diálogo entre as partes, o conflito não será solucionado. A tragédia é que compartilhamos a mesma história. Ambos contamos a verdade de nossas situações, mas cada parte tem seu ponto de vista e bom seria se deixássemos de prejulgamentos e nos escutássemos”, acredita Roni.

Alvos políticos
Os membros de A Outra Voz comunicam-se com pessoas de Gaza por celulares e pela internet, e em certas ocasiões a parte israelense trata de obter permissões para que alguns gazeus possam deixar a Faixa de Gaza e participar de seminários e conferências. “Há vezes em que fico sabendo que alguém de Gaza conseguiu uma permissão para ajudar algum hospital em Israel e vou até a fronteira buscá-lo para levá-lo até lá. Além de prestar uma ajuda, é uma excelente oportunidade para que nos conheçamos.”

No início da onda de violência desencadeada em novembro, A Outra Voz encaminhou uma carta ao ministro de Defesa, Ehud Barak, e ao primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Pediam que “se deixasse de jogar com suas vidas e fossem abertos imediatamente os contatos diplomáticos com o governo do Hamas”. Diziam estar “cansados de ser alvos fáceis a serviço de interesses políticos”; que “os mísseis de lá e os bombardeios daqui não nos protegem”. Denunciavam o fato de que “ambas as partes pagaram e estão pagando ainda um preço muito alto” e concluíam afirmando que “já é hora de falar e lutar por um acordo de longo prazo que permita aos cidadãos de ambos os lados da fronteira viver uma vida normal”.

Segundo Roni, em meados de novembro a carta já contava com 11 mil assinaturas, a maioria obtida entre 10 e 20 novembro. Nesse período, morreram 167 pessoas (162 palestinos e cinco israelenses) e foram feridas outras 1.300 (50 delas israelenses).
Em Belem, na Cisjordânia, Palestinos protestam contra os ataques a Gaza atirando pedras contra o muro que os separa dos judeus.  A guarda responde com balas e bombas.

Muitas vozes
Ovadia Keidar é de origem egípcia. Roni provém de uma família inglesa de longa tradição sionista. Até 1979, o casal viveu em um assentamento israelense na província egípcia do Sinai. Depois do acordo de paz entre as partes, decidiram se mudar para o local onde vivem atualmente, junto à fronteira norte de Gaza. “Realmente pensávamos que a paz chegaria. Os gazeus vinham trabalhar aqui conosco e íamos comprar ali,” lembra Roni. Mas então chegou a primeira Intifada, e logo a segunda, o muro, o bloqueio, “e começamos a sofrer”.

Ambos se recordam como, no dia seguinte à desocupação israelense de Gaza, em 2005, um foguete lançado desde Gaza matou a filha mais nova, “que só tinha 23 anos de idade”. Sua família mudou-se então para outros lugares. “Eu o faria também, mas meu marido possui aqui sua produção de sementes, que além de tudo dá trabalho a dez tailandeses e vietnamitas. Um deles morreu devido a um foguete há dois anos.” Algo que ainda deixa Roni com os nervos à flor da pele é quando soa o alarme e Ovadia não está por perto e não responde ao telefone.

Apesar de tudo, Roni é membro convicta de A Outra Voz, embora se considere moderada. “Não estou disposta a assumir toda a culpa. Não se pode ver somente a versão da outra parte, porque então se perde o sentido do que se tentava conseguir.” Segundo Roni, o Hamas tem de reconhecer Israel como Estado judeu. “E deixar-nos viver.” Ela reconhece: “A minha independência foi um desastre para os palestinos, é normal que não a esqueçam e tampouco a comemorem, mas devemos dar um futuro aos nossos filhos”. E assume certa responsabilidade sobre a situação de Gaza: “É certo que deixamos aquele lugar, ao sairmos, porém, fechamos as portas e os deixamos ali enclausurados. Se tivéssemos dado a eles a oportunidade de crescer, e não só de pensar no modo como nos atingir, ­talvez tudo isso fosse diferente”.

Eleições
Desde o começo da nova onda de violência, muito se tem especulado que o ­real interesse por trás das ações israe­lenses ­seria eleitoral. Roni duvida. Afirma que faria qualquer coisa para tirar Benjamin Netanyahu do poder, mas pondera: “Ele ­está nos levando ao desastre. Mas creio que nem sequer uma pessoa como ele faria algo assim por votos”. De todo ­modo, ­caso ele vença novamente – pesquisas apontam o apoio de 85% dos israelenses –, ela diz que “o fecharia em um quarto” com o primeiro­-ministro gazeu, Ismail Haniye, e não os deixaria sair até que chegassem a uma solução. “Pois existe.”

Ovadia respeita a militância de sua ­mulher, embora não esteja de acordo. “Vejo refletida a pequena mentalidade dos palestinos a cada dia no canal ­árabe Al Jazeera, e não me parece que vão ­mudar.” Roni ouve, mas não se deixa convencer. “Pessoas de ambos os lados me chamaram de sonhadora, e eu pergunto se acreditam que Gaza vai desaparecer de um dia para outro. Ou Israel. E respondo: ‘Vocês é que são sonhadores’.”

Rede Brasil Atual


3 comentários:

Anônimo disse...

AMIGO DOC, ISRAEL É UM PAÍS QUE NECESSITA DA PAZ E PROCURA A PAZ. NÃO EXISTE UM CONFLITO NA REGIÃO INICIADO POR ISRAEL. AGORA JÁ SEI QUE VÃO ARGUMENTAR QUE ISRAEL TOMOU TERRA DOS PALESTINOS. É SEMPRE A MESMA HISTÓRIA. PRIMEIRO OS QUE ALEGAM TAL ARGUMENTO DEVERIAM PESQUISAR COMO OS INGLESES DESOCUPARAM O LOCAL E VERÃO QUE NÃO CABE ESTA ARGUMENTAÇÃO. QUANTO AOS TERRITÓRIOS CONQUISTADOS PELA GUERRA, OS MESMOS SÃO DE VITAL IMPORTÂNCIA PARA SEGURANÇA DO ESTADO DE ISRAEL. VÁRIOS PAÍSES TEM TERRITÓRIOS ANEXADOS EM VIRTUDE DE GUERRA, INCLUSIVE NA AMÉRICA DO SUL E NUNCA DEVOLVERAM.
SERGIO A. FRIDMAN

Thiago Conservador disse...

Palestina está assombrada pela ameaça ""vermelha"", morticínios em nome do socialismo!!! Não confiem na Palestina!!

Doc Costa disse...

Fridman, meu camarada! Fico muito honrado em saber que vc acessa este blog! A questão da Palestina é a seguinte: Israel não reconhece o Estado e a autoridade Palestina, mas quer que todos reconheçam a legitimidade de seu estado.
A resolução da ONU quando cria o estado de Israel, cria tbm o estado Palestino, sem estado Palestino não tem estado de Israel.
Se os Israelenses querem paz e convivência pacífica, devem dar aos Palestinos seu território, soberania e condições de viver!