Não adianta fugir.
A partir de hoje o Big Brother vai invadir sua casa e sua vida.
Ao contrário do que se poderia imaginar, não será a curiosidade que te fará manter a atenção para dentro daquela casa. É justamente o inverso.
A sua realidade será invadida por este reality show.
Nos próximos dias, quando você abrir o site de sua preferência, ainda que não queira, surgirão janelas lhe informado sobre a noite de fulana com fulano embaixo do edredom.
Ao ler o jornal, seu colunista preferido irá fazer uma análise sócio-psicológica de algum acontecimento no programa.
No ônibus ou no Metrô, você será surpreendido às sete horas da manhã por um debate empolgado sobre a festa do cowboy, ou dos anos 60, ou do cabide, ou do bunda le le ocorrida na noite anterior que você fez questão de não assistir, mas mesmo assim, involuntariamente, estará devidamente informado, memorizando todos os nomes dos personagens deste verdadeiro show de horror.
A promessa até parece ser interessante. Observar tudo o que acontece numa casa durante 24 horas por dia.
Mas o que poderia ser o deleite dos voyeurs é na verdade um culto à mediocridade.
Os personagens são providos de personalidades histéricas e desinteressantes.
As regras do “jogo” provocam o elenco de arrivistas a se enfrentarem em intrigas sórdidas e pequenas.
O vencedor não é aquele que aposta no cooperativismo dentro da casa, mas o que elimina os seus brothers um a um, dando vazão à fantasia infantil de eliminar seus irmãos para conquistar a atenção exclusiva da mamãe.
Aliás, os gritos, lágrimas e risos forçados são recursos infantilóides para prender a atenção e conquistar apoio do público.
Crônicas pobres e vulgares são recitadas para narrar o dia-a-dia dos confinados, a fim de emprestar uma pseudo sofisticação à degradação crua que vemos a olhos nus.
E esta degradação da realidade é a face mais sórdida deste programa.
Ao estigmatizar os jovens como seres egoístas, estúpidos, fúteis e dissimulados, o programa que se autodenomina show de realidade constrói um arquétipo e forja a geração desejada pela classe dominante. Ou seja, pessoas preocupadas exclusivamente com suas ancas, tendo as paredes de uma casa como horizonte mais amplo de aspiração, abrindo mão da vocação transformadora da juventude.
Até então, acreditávamos que a vida imitava a arte.
Agora, uma nova “realidade”, absolutamente alienada e pronta para consumir é fabricada nos estúdios de tevê.
A arte já não basta.
Não cabe mais ao artista interpretar o mundo em sua obra.
As fórmulas já estão todas prontas.
blog do Rafael Castilho
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