Deveria a presidente Dilma atentar para o fato de que a reforma política não garante a reforma dos homens. Mesmo que sejam companheiros. Fica claro que o Congresso não quer a reforma política de verdade, aquela que ajudaria a mudar o país e as instituições. Deputados e senadores poderão aceitar algumas propostas menores, em nome da conciliação. Ou da enganação. Mas mudanças profundas, de jeito nenhum, pois estariam arriscando a própria sobrevivência.
Nada de financiamento público das campanhas, a menos que estejam liberados também os financiamentos privados. Muito menos o fim das coligações nas eleições para deputado. Tiriricas sempre existirão para eleger colegas sem os votos suficientes. Assim, também não passa a sugestão de cada estado constituir-se num distritão e chegarem à Câmara apenas os que tiverem mais votos.
Da mesma forma a votação em listas partidárias morrerá na praia, porque se favorece os caciques, que vão elaborar as listas, prejudica os grotões, capazes de ficar no fim da fila. E os grotões são maioria. Cláusula de barreira, nem pensar, já que os partidos de aluguel não servem apenas a seus dirigentes, mas aos grandes partidos, na hora de calcular o tempo de propaganda gratuita na televisão. Acabar com o voto secreto poderá configurar uma concessão, mas não faltarão vozes sugerindo exceções, para Suas Excelências não ficarem mal com o presidente da República contrariado ou com o colega cassado. Extinguir a figura do suplente de senador? E quem vai financiar a próxima campanha? Na reeleição, só se mexerá quando a vaca começar a tossir. Como ficarão prefeitos e governadores, para não se falar dos presidentes da República?
A presidente Dilma vem sendo acusada de ingênua por insistir na votação imediata da reforma política, mesmo abandonada por sua base parlamentar e pelo seu vice-presidente, mas pode não ser bem assim. O que ela desejaria não é a reforma, porém a anti-reforma, ou seja, a demonstração de ter feito tudo o que podia, mas o Congresso não quis.
De qualquer forma, as máscaras vão caindo, dando razão ao saudoso dr. Ulysses, para quem “pior do que o atual Congresso, só o próximo”. Não se conseguiu, na História da Humanidade, a reforma dos homens.
Carlos Chagas Tribuna
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