terça-feira, 9 de julho de 2013

UMA DIA QUALQUER, UMA AULA QUALQUER E AS IMPRESSÕES DE QUEM DEVE SER O CULPADO PELA MÁ EDUCAÇÃO

A educação vai mal, sabemos.

Recentemente escrevi sobre o fato de que é o aluno que aprende, ao professor cabe a facilitação e direcionamento da aprendizagem.

Mas, vejamos como pode ser uma aula de ciências e seu não aproveitamento…

Entro em sala, eles não calam a boca.

Quem sou eu, afinal? Por que eles calariam?

Após 10 minutos, as conversas continuam como se estivessem no recreio.

Eu, sentado, em frente ao diário, esperando a chance de fazer a chamada.

Deixo o tempo passar, esperando que se deem conta de minha presença e o fato de a aula já ter começado.

Se eu não grito, eles não escutam os próprios nomes. Tenho, realmente, que gritar para fazer a chamada?

Palavrões são ouvidos, aos berros, de vez em quando.

Insisto e faço a chamada mesmo assim.

Repito cada nome duas ou três vezes, para que ouçam. Alguns, mesmo assim não ouvem e os próprios alunos tratam de gritar o nome deles, afim de que escutem.

Enquanto tento fazer a chamada, bolas de papel voam, como bolas de fogo lançadas de catapultas inimigas.

Não, ao menos não sou o alvo.

Não há um minuto de silêncio e já se passaram 22 minutos.

Não estou a fim de gritar mais.

Conto 33 alunos, em uma sala de 30 metros quadrados. É porque faltaram 7; a turma tem 40.

As fileiras das carteiras são dispostas duas juntas, encostadas numa das paredes, três juntas no meio e duas juntas na outra parede, ficando dois corredores.

Não há espaço suficiente para separá-las.

Ao conseguir terminar a chamada, 30 minutos depois do início, as bolas que voam já se contam pelos dedos de duas mãos.

Seguindo a teoria inexorável da laranja podre, os melhores alunos entram na guerra de bolas de papel.

A sala se encontra imunda.

Vejo que tenho duas opções:

a) levantar e me estressar, gritar, mandar calar a boca, brigar, fazer mal a minha saúde e tentar fazer alguma coisa;

b) ficar sentado esperando o tempo passar.

Tentar explicar algo seria suicídio.

Dar aulas “diferenciadas” com 33 adolescentes numa sala de 30 m² em calor insuportável, seria suicídio.

Tento uma 3ª opção: levanto-me e, sem dizer palavra, escrevo linhas no quadro, sobre o tema da aula.

Faria sentido se eles quisessem mais do que brigar uns com os outros. Mas não faz.

Após o 1º parágrafo – sem exagero, parágrafo pequeno – eu já escuto “ai, professor, chega!”, reclamando que estou passando “muita matéria”.

Após o segundo parágrafo, outras manifestações.

Após o terceiro, paro e espero que terminem de copiar.

Toca o sinal e tenho que ir para outra sala, tentar a sorte mais uma vez.

Quem sabe a outra turma quer aprender algo, trocar alguma experiência comigo?

Abraços,

Declev Reynier Dib-Ferreira
De vez em quando, professor

Diário do Professor

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