O Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas (Dieese) ainda não concluiu seu balanço sobre o número de greves em 2011, mas tudo indica que o movimento paredista continuou em ascensão no ano passado. Categorias de peso, tanto no setor público como no privado, cruzaram os braços em longas paralisações – como bancários, funcionários dos Correios, trabalhadores da construção civil, metalúrgicos de vários estados, professores, servidores do judiciário, entre outras.
Greves prolongadas e fortes
O ano passado confirmou a recente retomada da onda grevista no Brasil, o que dá maior poder de barganha ao sindicalismo para negociar os frutos do crescimento da economia. A redução do número de desempregados e de trabalhadores informais – somada ao clima de maior democracia existente no país – deu maior confiança para os trabalhadores reivindicarem seus direitos. A maior parte das categorias, mesmo sem expressivas mobilizações, conseguiu aumento real de salário.
Estas tendências de fortalecimento da ação sindical já tinham se manifestado em 2010 – ano em que a economia cresceu 7,5%, um recorde na fase recente. Segundo o Dieese, naquele ano as greves ficaram 57% mais longas do que em 2009. Elas somaram 44.870 horas paradas (quase 5.609 dias). O número de paralisações até recuou – de 518 em 2009 para 446 em 2010 -, mas sua musculatura aumentou. De greves localizadas, parciais, elas adquiriram uma abrangência maior, em categorias estratégicas.
Causas da maior mobilização
Para o professor José Dari Krein, do Centro de Estudos Sindicais da Unicamp (Cesit), a duração das paralisações cresceu em 2011 devido ao desemprego menor, “o que dá mais segurança para o trabalhador se arriscar em greves”, e também devido aos temores diante da crise mundial, o que deixa o patronato menos inclinado a conceder ganhos reais de salário. Em condições mais favoráveis para lutar, os assalariados cruzaram os braços para exigir os seus direitos e não se intimidaram diante do terrorismo patronal.
Algumas greves foram emblemáticas desse período mais favorável. A dos trabalhadores dos Correios durou 28 dias – a mais longa desde 1994. Já os bancários paralisaram suas atividades por 21 dias, na maior greve desde 2004. No setor privado, a mais longa paralisação foi a dos metalúrgicos da Volkswagen do Paraná (37 dias). No caso dos professores de Minas Gerais, a truculência do governo tucano de Antonio Anastasia forçou uma greve de quase três meses – a mais prolongada e heróica do ano passado.
Retrocessos no governo Dilma
As greves de 2011 também indicaram uma mudança de postura do governo federal. Esgrimindo o fantasma da crise mundial para justificar maior aperto fiscal, a presidenta Dilma orientou sua equipe a endurecer no trato com o sindicalismo. Esta regressão ficou patente na paralisação dos Correios. O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, negou o seu próprio passado de sindicalista e rotulou a greve de “férias”. A empresa chegou a antecipar o pagamento da folha para efetuar o desconto dos dias parados.
“Em oito anos de governo Lula negociei seis greves, uma delas de 21 dias. Negociamos com o próprio Lula e não houve desconto dos dias parados. Houve compensação”, criticou o secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores nos Correios, José Rivaldo da Silva. Para ele, o desconto dos dias parados e o discurso reacionário da gerência da empresa, falando em “reeducação” dos sindicalistas, sinaliza que a presidenta Dilma tem menos sensibilidade para as demandas trabalhistas.
Terrorismo da mídia patronal
Esta mudança de postura foi aplaudida pela mídia patronal. “A presidente Dilma Rousseff endureceu a política de greve e irritou o mundo sindical. A necessidade de ajuste fiscal e o receio de uma escalada inflacionária levaram o Executivo a atacar o ‘bolso dos grevistas’ com corte de ponto – prática raramente vista na gestão Lula”, elogiou a Folha tucana.
Como já é tradição, a mídia patronal criminalizou todas as greves do ano passado. O jornal Valor, que nestas horas não esconde o seu caráter de classe, chegou a publicar editorial exigindo maior rigor contra as paralisações no setor público e a regulamentação “urgente” de uma nova lei anti-greve. O jornal das famiglias Marinho e Frias não poupou nem a presidenta Dilma:
Direito de greve na berlinda
“Em 2007, diante da inexistência de legislação específica, o Supremo Tribunal Federal (STF) estendeu ao funcionalismo as regras da Lei de Greve (7.783/89), que rege os trabalhadores do setor privado. Em tese, portanto, o governo já poderia cortar o ponto de funcionários em greve. Lula não o fez e a presidente Dilma Rousseff também tem evitado recorrer a esse dispositivo legal”.
O Estadão também publicou editorial raivoso, intitulado “Greves sem regras”, para atacar a própria luta dos trabalhadores. “Não tem sentido sobrepor o direito de greve, essencial à democracia, a outros direitos igualmente relevantes ou, em muitos casos, de importância maior para a maioria das pessoas”. Para a famiglia Mesquita só a tal liberdade de imprensa é um direito absoluto!
Altamiro Borges
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