Os mais jovens têm sido constantes vítimas da violência no trânsito. O maior exemplo dessa incontrolável tragédia pode ser lembrado num gravíssimo acidente, ocorrido no Rio de Janeiro, tempos atrás, que chamou a atenção pela previsibilidade de uma tragédia anunciada, face à constante imprudência com que se comportava ao volante.
O estudante Diogo Monteiro Frota dos Santos, que acabara de completar 24 anos no dia anterior, dirigindo em alta velocidade durante a madrugada (era membro, no Orkut, da comunidade “Já ultrapassei os 200 km por hora!”), perdeu o controle da direção numa curva e bateu violentamente num poste. Diogo fazia parte também da comunidade “MapaRadar”, especializada em descobrir radares, além de ser seguidor do Twitter Lei Seca, que alerta motoristas para pontos de fiscalização da referida lei. Não há notícias, no entanto, de que Diogo tenha sido submetido a exame de embriaguez post-mortem.
A triste realidade, porém, é que há um perigoso ‘coquetel mortífero’ ceifando a vida de jovens motoristas, em boa parte dos acidentes de trânsito em rodovias e vias urbanas, principalmente nos finais de semana: pistas livres das madrugadas, excesso de velocidade, manobras arriscadas, uso de bebida alcoólica, energéticos e outras drogas, sono, cansaço.
Constata-se que o jovem, ainda em processo de formação de personalidade, apresenta características próprias do estágio de autoafirmação social: impulsividade, desafio ao perigo e espírito competitivo exacerbado.
Transportadas tais características para o volante de um carro, isso confere ao jovem, em período de formação, a possibilidade de demonstração de poder que muitas vezes pode ser fatal.
Pais e responsáveis, antes de presentear seus filhos com possantes carros, deveriam conscientizá-los primeiramente de que o automóvel é um máquina que pode ser mortífera.
“Se não gosta do modo como dirijo, mantenha-se fora da calçada”, era o adesivo (em inglês) existente na traseira do veículo conduzido pelo jovem Diogo, que com sua atitude imprudente parecia mesmo já prever o pior. Uma morte, portanto, mais do que anunciada.
Pela última vez talvez tenha realmente ultrapassado os 200 km/h fazendo jus ao slogan da comunidade de Orkut a qual pertencia. Mais uma família destroçada pela tragédia dos acidentes de trajeto. Ou seja, o Brasil vem perdendo, portanto, seus jovens pela violência do trânsito e tem se mostrado incompetente para minimizar tamanha tragédia. Registre-se que muitos, embora não morrendo, gravemente lesionados nos acidentes, acabam se transformando mortos em vida.
Segundo uma revista semanal de grande circulação, o álcool está por trás de 60% das mortes no trânsito e 72% dos homicídios. A matéria diz que o Brasil tem um número de alcoólatras – muitos dirigem automóveis- estimado em 15 milhões, o dobro da população da Suíça.
A tragédia e a imprudência no trânsito brasileiro podem ser traduzidas pelos recentes dados do Seguro Obrigatório. No ano passado foram pagas mais de 360 mil indenizações por lesões corporais, invalidez e óbitos em acidentes de trânsito, num crescimento de 45% em relação a 2010, sendo a faixa etária entre 18 e 34 anos a de maior incidência nos acidentes, com 70% das vitimas do sexo masculino, envolvendo 65% das indenizações motociclistas e seus garupas.
Detecta-se, neste contexto de violência sem fim, que há poucos e raros investimentos em educação de trânsito no Brasil, bem como na infraestrutura de vias urbanas e rodovias, muitas em estado sofrível de manutenção. A educação para o trânsito é a estratégia – fiscalizar e punir sempre que for necessário – mais importante para tornar o trânsito uma atividade mais humana e menos violenta.
Educar para o trânsito é educar para a vida. Sem cultura civilizada no trânsito continuaremos a perder preciosas vidas. Por enquanto, somos os recordistas mundiais da barbárie, da irresponsabilidade, do estresse e da imaturidade ao volante.
Milton Corrêa da Costa Tribuna
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