terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Governo RJ só reconstroi uma ponte e Eduardo Paes quer demolir elevado



Enquanto o governo Sérgio Cabral, passado um ano da tragédia da região serrana, só conseguiu reconstruir uma das 75 pontes que desabaram – reportagem de Antônio Werneck, Duilo Vitor e Natanael Damasceno, O Globo, dia 9 – o prefeito do Rio, Eduardo Paes, para viabilizar um projeto imobiliário de urbanização, quer demolir o elevado da Perimetral.

As fotos que acompanham a reportagem são de Lucas Prates e Marcos Tristão. O elevado demorou 17 anos para ser construído, obra conjunta federal e estadual. Começou com João Goulart e Carlos Lacerda, acabou com João Figueiredo e Chagas Freitas. Inclusive, vale lembrar, coube a Chagas Freitas afastar o último obstáculo: a passagem do viaduto sobre o quartel de fuzileiros navais. Uma rede metálica resolveu a questão.

Lembra o leitor Júlio Cesar Rivelo, na mesma edição de O Globo, que a estrutura do elevado é de aço de alta resistência e de concreto armado. O prefeito terá que explodi-lo por etapas. Mas e as consequências nos sistemas hidráulico, elétrico, pluvial, nas redes de gás e esgoto? O bombardeio poderá atingir gravemente o centro da cidade, com reflexos de difícil previsão. E como será o acesso dos carros, ônibus e caminhões à ponte Rio-Niteroi?

Eduardo Paes planeja também construir um túnel sob a Avenida Rodrigues Alves para substituir a Perimetral. O túnel, evidentemente, terá que ser feito antes da ação demolidora.Uma pergunta: em que pé se encontra o projeto do túnel? O prefeito, em três anos, não conseguiu ainda recuperar a Avenida Venezuela e a Rua Sacadura Cabral, cujas obras se eternizam. Passo por ali aos domingos quando vou à Rádio Tupi participar do programa de debates do Haroldo de Andrade Junior. Não vejo progresso nos trabalhos. O mesmo acontece nos galpões da Cidade do Samba.

Demolir o elevado por quê e para quê?Para tentar transformar o antigo Porto do Rio, obra de André Rebouças, 1910, no Porto Madero, Buenos Aires, complexo turístico, gastronômico e palco de espetáculos de arte? A comparação é muito difícil. Em primeiro lugar, Porto Madero, pela Avenida Cordoba, fica a uns 7 minutos do centro de Buenos Aires, podendo-se ir e vir a pé, atravessando um sinal que todos respeitam.

Na Rodrigues Alves, quem atravessar a avenida que leva o nome daquele ex-presidente da República, vai passar pela Cidade do Samba e sair na Gamboa ou no bairro da Saúde. As duas ex-zonas portuárias não se parecem em nada. Outro aspecto. Não é o investimento em instalações fixas (complexo imobiliário em áreas públicas a custo zero) que sustenta empreendimentos. E sim o consumo aquecido.

Eu e Elena estivemos na capital argentina no início de novembro. O movimento de Porto Madero não é o mesmo de alguns anos atrás. Foi atingido pela retração do consumo, reflexo da queda do peso e do claro recuo do poder aquisitivo da bela cidade. Porto Madero, hoje, é garantido por turistas estrangeiros, maior participação brasileira entre eles.

Cabana Las Lilas com muitas mesas vazias, uma casa de Tango numa das extremidades. Não lembra o passado recente. O consumo no Rio não pode estar a plena carga. Se assim tivesse, no Natal, não haveria as liquidações que estão acontecendo.

A construção das pontes, que não foi realizada, de um lado. A demolição que não tem sentido acontecer, de outro. Qual a explicação para o primeiro absurdo. Verba federal houve. O atual Secretário de Obras, Hudson Braga, responsabiliza a demora nas licenças ambientais para as 74 pontes que não saíram do papel. O vice-governador Luiz Fernando Pezão atribui a culpa ao fato de as margens dos rios terem mudado de localização e também a quantidade de água que passaria embaixo das pontes.

Francamente, não entendo as explicações. Não têm lógica. Se as margens mudaram, era só mudar o projeto. Quanto ao volume de água, não vejo relação com as obras.
Pedro do Coutto  Tribuna da Imprensa

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