Essa "mocinha" é a nova cara da direita em São Paulo...mas as atitudes não tem nada de novo, são os mesmos anacronismos de sempre! |
Foi uma aula de política a distância. A dois meses das eleições, Dani
Schwery, candidata a vereadora pelo PSDB de São Paulo, cristalizou em um
só post no Facebook toda a ideologia conservadora escondida na
polidez da direita brasileira. A “piadinha básica do dia” falava de um
prédio de quatro andares incendiado. No primeiro viviam famílias de
sem-teto, filhos de presidiários com auxílio do governo. Morreram todos.
No segundo, “retirantes” sustentados pelo Bolsa Família: pereceram. No
terceiro havia famílias de ex-guerrilheiros, beneficiários de ações
judiciais contra a ditadura, filiados “a um ParTido político influente”.
Ninguém sobreviveu. Só no quarto, onde viviam engenheiros, advogados e
outros “trabalhadores”, todos escaparam. A presidenta mandou instaurar
um inquérito para saber por que morreram os “cumpanheiros” e só
escaparam os moradores do quarto andar. A resposta: “Eles não estavam em
casa. Estavam trabalhando”. No fim do post, Dani arremata: foi a melhor do ano.
Na manhã seguinte, ela respondeu às críticas sobre o suposto fascismo
disfarçado de humor. Mas retratação não é um termo do seu vocabulário,
tão pródigo em palavrões como econômico no uso de vírgulas e acentos.
“Choveu denuncia por causa de uma piadinha!”, ironizou. “I AM BACK pior
que antes. Mais anti vagabundo (sic) e oportunista que nunca!!!” Pelos
excertos virtuais vê-se que Dani existe em carne e osso e, parece, é
autoconsciente.
Tem 32 anos e é ariana, “pois nasci sob o signo de
Áries”. Formada em Direito, “mas não atua”, é “extrovertida, desbocada,
mas que tem um lado extremamente altruísta”, descreve-se em terceira
pessoa. “A Dani adora beber uma cervejinha com os amigos” e “tirar sarro
de corintianos e petistas”, pois “tem um humor sarcástico, irônico e
escrachado, ora dando a falsa impressão de ser preconceituosa, mas não o
é”. Ela usa piadas “para fazer críticas sociais”, as pessoas é que são
burras. “Isso mesmo, BURRAS! Eu, como candidata, não devia dizer isso?
Lamento, não deem motivo então! Ou então digiram (sic) aí o significado
da palavra BURRO com direito a relinchada, pode bater o pezinho também.”
A bacharel fez cursos na FGV, Fiesp e OAB. “Estudei
um pouco em Londres, e mais um monte de outros cursos… mas e daí?
Formação só tem valor se vem junto com caráter e ‘culhão’. Isso eu tenho
de sobra.” Por que ela decidiu deixar o balcão de seu restaurante no
Tatuapé, na zona leste de São Paulo, para se candidatar à Câmara? “Eu
adooooro política, adoro um bate-boca, adoro um barraco.”
Dani já sofreu
“muito abuso” na vida. “O que é então aguentar uma cambada de caga
decoreba que adora citar o livro ‘O Príncipe’”? Até porque “uma pessoa
que quer ir para a política não pode ser normal. Sou sadomasoquista, só
pode! Porque basta entrar nisso que já vem gente de tudo que é lado me
linchar. E quer saber? Foda-se!”
O avatar de Daniela parece um monstro que, após várias camadas de
inserções, ganhou vida própria na internet, como atestam seus quatro
blogs. No Diário de uma Louca, ela diz ter nascido “num
contexto familiar bem podre”. “Meu pai é um escroto, valores deturpados,
sem princípios, hipócrita, manipulativo, controlador, ardiloso,
ditador, um podre enfim. Signo: escorpião. Por aí já façam uma ideia.” A
mãe era abastada, mas caiu nas garras dele. “Eu apanhava por qualquer
motivo.” A culpa era da irmã, uma gorda invejosa. “Isso aí é meu DNA.
Imaginem como meu psicológico não ficava arrebentado e imaginem as
consequências disso tudo.” O resto é psicanálise. Verdade: a cada
eleição, uma nova revoada de criaturas exóticas em busca de um lugar ao
sol no horizonte da política se abate sobre o País. Para conquistar
espaço, a regra é fazer barulho – e não se inventou lugar melhor que as
redes sociais. Alimentando-se nas pastagens do Facebook e do Twitter,
os neófitos do hábitat eleitoral ganham plumagem vistosa, assumem
posição de liderança e compartilham o ranço trazido dos confins do
universo pessoal. Mas poucos têm a audácia de dizer tanto e tão pouco.
Quando alguém disse que ela resumia o que Serra pensava, mas não
tinha coragem de dizer, a resposta veio em 2002 palavras. “Humor/sátira
também é ferramenta de crítica, cada um entendeu a piada como quis e
nesse tocante não sou responsável pelo entendimento do outro (…) que
quis por opção de ordem pessoal interpretar.” Show de retórica. “E
convenhamos, temos direito ao preconceito.”
A análise então migra para um misto de sofística e
história para embalar bovinos no sono do niilismo cibernético. Os
petistas seriam como Stalin. “Você é um monstro assassino e sanguinário
então, nós, do PSDB, somos fichinhas comparados a vocês neste caso.” No
frêmito, ela beira a santidade. “Me sinto elogiada por você e a sua
turminha quando chamada de fascista.” E arremata: “Vamos deixar claro
que trata-se de uma ironia (…) visto que o sarcasmo é algo como enfiar
uma jaca no meio do c… de vocês”.
Em um vídeo do YouTube, a exterminadora de “petralhas” contracena com um
rapaz de vermelho, que surge com um livro de Marx para ouvir dela: “Vai
trabalhar”. Um padre aparece e os dois o exorcizam, até ele acordar de
camiseta azul, crente que “o capitalismo é uma coisa boa”. Em outro, seu
séquito surge disposto a resolver os problemas do País. Após fazerem um
chá de fita, decidem faltar ao trabalho e pedir uma bolsa ao governo.
Para quem a acusa de vazio programático, ela rebate: seu foco é “fazer
as pazes com a polícia” e melhorar o trânsito. “Já notaram que
amarelinho ou policiais civis adoram tumultuar com São Paulo bem no
horário de pico?” Dani parece uma Michele Bachmann do Tatuapé.
Catapultada à candidatura à Presidência dos EUA por ecoar os
ressentimentos e preconceitos da direita em disparates na mídia,
Bachmann divertiu as primárias. Para um País que elegeu Tiririca, Dani
parece ser a última fronteira.
Carta Capital
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