Depois de três mandatos na presidência da República, não é que o
sujeito resolve se candidatar outra vez? Isso mesmo: ele quer ser
presidente pela quarta vez consecutiva, assim, na maior cara de pau. Me
diga, como você classificaria esse político: democrata ou ditador?
Veja o que ele costuma fazer para se eleger:
Numa cidade do interior do país, 349 funcionários foram convocados
para fazer o levantamento da preferência eleitoral dos candidatos e
muitos daqueles que declararam que não pretendiam votar no candidato do
governo perderam o emprego. Em outro distrito exigia-se que os
trabalhadores votassem num senador que apoiava o presidente; os que se
recusaram foram excluídos dos seus empregos. Os funcionários filiados a
outros partidos que não o do presidente, eram avisados que teriam de
trocar suas filiações partidárias se eles quisessem se manter
empregados.
Cartas foram enviadas aos empregados instruindo-os a doar 2% do
salário para a campanha se eles quisessem manter seus empregos e
comerciantes eram requisitados a oferecer dinheiro para a campanha.
A distribuição de empregos aumentou dramaticamente no ano eleitoral e
foram distribuídos “vales-emprego” com duração de dois meses, tempo da
fase final da campanha.
Um homem que recebia um bom salário em um emprego burocrático foi
transferido para outro cargo, para trabalhar com uma picareta numa mina
de calcário, depois de ter se recusado a mudar sua filiação para o
partido do presidente candidato.
Volto a perguntar: um presidente, depois de completar o terceiro
mandato, quer ainda o quarto, e faz esse tipo de pressão junto à
sociedade para ser eleito, como deve ser classificado? Democrata ou
ditador?
Bem, a classificação vai depender do país onde ele vive e do nível de
comprometimento da imprensa que divulga o fato. Se ele viver na
Venezuela e seu nome for Hugo Chávez, será considerado um ditador. Mas
se o presidente-candidato em questão viveu nos Estados Unidos e o seu
nome era Franklin Roosevelt, ele é o símbolo maior da democracia nas
Américas, eternizado com a esfinge na moeda de US$ 0,10.
Pois é: o candidato e a situação descrita acima são de Franklin
Roosevelt e essas informações foram levantadas por investigações junto
ao Senado dos Estados Unidos em 1938 e reunidas no livro How Capitalism
Saved America: The Untold History of Our Country, from the Pilgrims to
the Present, de Thomas DiLorenzo.
Depois da quarta eleição de Roosevelt, o regime estadunidense mudou
as regras e as eleições passaram a ser indiretas, o povo deixou de votar
diretamente e o presidente passou a ser eleito por um Colégio
Eleitoral.
Em quase todos os estados, o vencedor do voto popular leva todos os
votos do Colégio Eleitoral, o que pode provocar distorções como a que
ocorreu na primeira eleição do republicano George W. Bush, em 2000,
quando ganhou a presidência mesmo obtendo um número de votos menor do
que o seu concorrente, o democrata Al Gore. Bush teve 50.460.110 votos,
ou 47,9% do total e Al Gore 51.003.926 votos, 48,4%. Bush levou. Imagine
se isso acontecesse na Venezuela!
O ilibado jornal The Washington Post considerou Roosevelt um dos três
“grandes” presidentes dos Estados Unidos (ao lado de Washington e
Lincoln). O presidente de quatro mandatos é também o sexto colocado na
lista de Pessoas Popularmente Admiradas do século XX pelos cidadãos dos
EUA (pesquisa Gallup).
Achei curiosa a trajetória do presidente estadunidense. Ele tem o
perfil exato que a grande imprensa brasileira, venezuelana e
internacional traça do presidente venezuelano, a quem chamam de ditador,
mesmo ele tendo sido eleito – com larga margem de votos – por três
vezes consecutivas.
O instituto Datanálisis da Venezuela indica que a intenção de voto a
favor de Hugo Chávez é de 61,03%, contra 38,97% a favor do candidato da
direita Henrique Capriles Radonski. A mesma pesquisa revela que a
aprovação do governo Chávez é de 62,55%.
O “ditador” vai ser, mais uma vez, democraticamente eleito, enquanto
os “democratas” Franklin Roosevelt e George W. Bush não podem reescrever
a sua história.
Joel Leite O Mundo em Movimento
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