O assassinato de Ahmed Jabari, líder militar do Hamas, nesta
quarta-feira 14, deve marcar o início de um novo conflito armado entre
Israel e o grupo radical palestino que controla a Faixa de Gaza. Ainda
não se sabe a dimensão que a operação “Pilar da Defesa” terá, mas, como
em confrontos anteriores entre as duas partes, este teve início após uma
série de episódios violentos na fronteira. Desta vez, entretanto, há
duas peculiaridades a serem observadas. A primeira afeta a política
interna de Israel. Em apenas dois meses, os israelenses vão às urnas
escolher seu novo primeiro-ministro e a lembrança mais recente que terão
dos palestinos será este confronto armado. A segunda pode impactar todo
o Oriente Médio. Este pode ser o primeiro conflito de grande porte
entre israelenses e palestinos desde o início da Primavera Árabe.
Médico palestino carrega bebê ferido após ataque aéreo de Israel na cidade de Gaza. |
Desde o dia 9 de novembro, patruhas militares israelenses e
militantes palestinos se envolveram em pequenas confrontações na
fronteira. O episódio mais grave ocorreu no domingo 11 quando, em
retaliação a um ataque palestino, tanques israelenses atingiram uma área
urbana da cidade de Gaza, matando 5 pessoas e ferindo outras 30.
Pode-se alegar que qualquer governo reagiria como Israel, mas é difícil
separar o ataque desta quarta-feira das eleições de janeiro.
Confrontos com os palestinos tendem a unir a sociedade israelense,
geralmente em torno de figuras linha-dura. Benjamin Netanyahu, o atual
primeiro-ministro, que adiantou as eleições para garantir sua
continuidade no poder, é este tipo de líder. Criticar o governo em
tempos de conflito externo é um ato considerado extremista nesses
períodos. Assim, Netanyahu e seu ministro da Defesa, Ehud Barak, outro
alpinista político, apostam em reações como a do parlamentar Yoel
Hasson, do oposicionista Kadima. “Hoje não há oposição ou coalizão.
Devemos deixar que o Exército derrote o Hamas”, disse.
Este tipo de
postura dá ao governo e aos militares carta branca para agir. Neste
clima de guerra, os ataques de Israel, que muitas vezes deixam vítimas
civis, entre elas crianças, são realizados praticamente sem oposição.
A imagem de defensor de Israel fomentada por Netanyahu é alimentada
também pela tática criminosa do Hamas nesses confrontos: o lançamento
aleatório de foguetes e morteiros contra alvos civis israelenses. Após a
morte de Ahmed Jabari, dezenas de foguetes foram lançados contra
cidades do sul de Israel, como Beersheva, Ashdod, Eshkol e Ofakim,
provocando pânico nos civis.
Um grande conflito com o Hamas deve fortalecer a posição de Netanyahu
dentro do Egito, mas pode aumentar ainda mais seu isolamento no Oriente
Médio. As relações com a Turquia, abaladas desde 2010, podem ruir de
vez, fazendo Israel perder definitivamente um aliado moderado na região.
Outro problema para Israel pode ser a postura do Catar. Desde o início
da Primavera Árabe, o Hamas deixou a aliança com o Irã, a Síria e o
Hezbollah. Assim, atraiu outros aliados, como o governo do Catar, que
aproveita a instabilidade na região para ganhar peso diplomático. O
Catar é particularmente importante na Liga Árabe e pode usar seu peso na
organização para fomentar ainda mais a hostilidade árabe contra Israel.
A reação mais esperada, no entanto, é a do Egito. Mohamed Morsi, o
presidente egípcio, é um integrante da Irmandade Muçulmana, grupo
religioso que odeia Israel e tem laços fortes com o Hamas (criado sob
influência da Irmandade). Ao mesmo tempo, o Egito tem um tratado de paz
com Israel, que precisa manter por questões pragmáticas: a aliança com
os Estados Unidos e a necessidade de se manter um ator internacional
confiável num momento de crise econômica. Não há dúvidas de que setores
radicais dentro da Irmandade Muçulmana, mas também fora dela,
pressionarão Morsi a ter uma posição dura contra Israel. O governo do
Egito pediu que Israel parasse os ataques à Faixa de Gaza e convocou seu
embaixador em Tel Aviv, mas não é possível saber se irá ainda mais
longe.
O conflito entre Israel e o Hamas não é uma novidade, mas desta vez
se dá sob condições novas. Netanyahu terá ganhos a curto prazo,
inclusive eleitorais, e manterá Israel “seguro” por conta do armamento
infinitamente superior. A longo prazo, entretanto, seu governo continua
tornando a situação de Israel insustentável: cada vez mais israelenses e
palestinos se odeiam e, cada vez mais, o mundo árabe quer ver Israel
fora do mapa.
José Antonio Lima Carta Capital
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