sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O perfeito idiota paulistano



Em um momento em que a região metropolitana de São Paulo – e, sobretudo, a capital paulista – vive um clima do mais puro terror ao menos em suas regiões periféricas e nas cidades do entorno, vale uma análise sobre uma parcela dessa sociedade que, tal qual a imprensa local, caiu em um dos mais escandalosos contos do vigário.

Ano que vem, completar-se-ão dezoito longos anos desde que o PSDB venceu a primeira eleição para o governo do Estado de São Paulo. Em 1994, o partido elegeu Mario Covas. Reelegeu em 1998, em 2002 elegeu Geraldo Alckmin, que ficou no cargo até 2006, quando José Serra se tornou governador. Em 2010, Alckmin voltou ao governo do Estado.

Nessas quase duas décadas de governos tucanos em São Paulo, ocorreu um fenômeno estranhíssimo. Embora a mídia paulista (liderada por Folha de São Paulo, Estadão e revista Veja, além das televisões e rádios locais) venha tratando de exaltar os “êxitos” na Segurança Pública que teriam sido logrados pelo governo tucano, não é isso o que se nota no cotidiano.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, sob comando do PSDB, do quarto trimestre de 1995 (primeiro ano do governo tucano do Estado) para o terceiro trimestre de 2012 o número de homicídios dolosos (quando há intenção de matar) despencou de 2.388 para 1.143. Isso quando São Paulo vive um terror que, há 18 anos, era impensável neste Estado.

Tudo isso se deve a uma parceria entre imprensa local e governo do Estado que alardeia dados falsos que uma classe média idiotizada compra acriticamente apesar de não ser raro que seja vitimada por essa violência e criminalidade que desde 1995 cresce sem parar.

A degradação de São Paulo, sua perda de importância econômica em âmbito nacional, a criminalidade e a violência, o caos no transporte, o metrô que é o mais lotado no mundo, a periferia que conta com regiões que se equiparam a países miseráveis da África, tudo isso não é percebido por esse setor diminuto, porém barulhento, da população paulista e paulistana.

A situação faz lembrar de um livro medíocre que a mídia ultraconservadora brasileira converteu em bíblia dessa classe média idiotizada. Trata-se do Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, um livro sobre política escrito pelo escritor peruano Mario Vargas Llosa.

Originalmente redigido em castelhano e pertencente à tradição panfletária, a obra versa, em tom crítico e bem-humorado, sobre a influência que a ideologia esquerdista – notoriamente a linha de pensamento marxista – exerce na América Latina.

Pois a compra acrítica dos embustes tucano-midiáticos sobre o desempenho social e econômico de São Paulo por essa classe média alta, preconceituosa e ignorante que infecta o Estado daria margem um Manual do Perfeito Idiota Paulistano, por exemplo.

Na imagem em epígrafe, reproduzo reação de um legítimo representante desse setor da (alta) sociedade paulistana que, no Twitter, reagiu dessa forma messiânica ao post que publiquei na segunda-feira sobre a guerra civil paulista.

Para tanto, o sujeito se baseou em dados da Secretária da Segurança Pública de São Paulo que há anos todos os estudiosos da área de segurança denunciam como fraudulentos. O perfeito idiota paulistano se refere ao gráfico abaixo reproduzido.


É doloroso porque não se trata de um político, mas de um cidadão comum, jovem, instruído, mas que se deixa envolver pelas farsas com que o governo do PSDB conseguiu enredar o eleitor de São Paulo durante os últimos 18 anos.

Através de supressão de ocorrências policiais, a SSP-SP, até há pouco, conseguiu vender a farsa de que São Paulo teria baixos índices de homicídios, tese que a mídia local e nacional vem divulgando gostosamente há anos.

Mesmo em 2006, quando a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) promoveu o terror na região metropolitana de São Paulo, a mídia distorceu fatos e jogou a culpa dos ataques sobre o governo federal. Então ficou assim durante todos esses anos: os êxitos na Segurança eram do governo tucano e as falhas, do governo federal.

No fim do ano passado, com a criminalidade já atingindo um patamar insuportável, num lampejo de honestidade raro na imprensa paulista, a tevê Bandeirantes apresentou uma matéria que mostrava como o governo paulista frauda estatísticas para vender farsas como a que usou o perfeito idiota paulistano da imagem que encima este texto.

A matéria da Band revela casos como o do estudante da USP Felipe Ramos de Paiva, assassinado em maio do ano passado dentro do campus da universidade, ou do químico Marcelo Monteiro Fernandes, que, em agosto do mesmo ano, foi igualmente assassinado no bairro paulistano de Vila Sonia. Ambos ficaram de fora das estatísticas da SSP-SP.

A matéria informa que, enquanto a sensação de insegurança, já no ano passado, explodia em São Paulo, a Secretaria de Segurança informava “queda” nos homicídios no Estado, com menos de 10 casos por 100 mil habitantes. Isso porque, segundo a Band, “Crimes graves, de grande repercussão, simplesmente desaparecem das estatísticas”.

Assista o vídeo da BAND.


Eduardo Guimarães

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