sábado, 3 de março de 2012

A vida na Terra já se extinguiu cinco vezes e a sexta nos espreita.


O ser humano inaugurou uma nova era geológica – o antropoceno, era em que ele comparece como a grande ameaça à biosfera e exterminador de sua própria civilização. Há muito que biólogos e cosmólogos advertem a humanidade de que nossa agressiva intervenção nos processos naturais está acelerando a sexta extinção em massa de espécies de seres vivos. Ela já está em curso há milhares de anos.

Essas extinções, misteriosamente, pertencem ao processo cosmogênico da Terra. Nos últimos 540 milhões de anos, ela conheceu cinco grandes extinções em massa, uma em cada cem milhões de anos. A última ocorreu há 65 milhões de anos, quando foram dizimados os dinossauros.

Até agora, todas as extinções eram ocasionadas pelas forças do próprio universo, a exemplo da queda de meteoros ou das convulsões climáticas. A sexta está sendo acelerada pelo próprio ser humano. Sem a presença dele, uma espécie desaparecia a cada cinco anos. Agora, por causa de nossa agressividade industrialista e consumista, multiplicamos a extinção em cem mil vezes, diz o cosmólogo Brian Swimme.

Os dados são estarrecedores. Paul Ehrlich, professor em Standford, calcula em 250 mil as espécies exterminadas por ano, enquanto Edward O. Wilson, de Harvard, dá números mais baixos, entre 27 mil e 100 mil.

O ecólogo E. Goldsmith, da Universidade da Geórgia, afirma que a humanidade, ao tornar o mundo cada vez mais degradado e menos capaz de sustentar a vida, tem revertido em 3 milhões de anos o processo da evolução. Não nos damos conta dessa prática devastadora nem estamos preparados para avaliar o que significa uma extinção em massa. Ela significa simplesmente a destruição das bases ecológicas da vida na Terra e a eventual interrupção de nosso ensaio civilizatório, quiçá até de nossa própria espécie. Thomas Berry, o pai da ecologia norte-americana, escreveu: “Nossas tradições éticas sabem lidar com o suicídio, o homicídio e mesmo com o genocídio, mas não sabem lidar com o biocídio e o geocídio”.

Podemos desacelerar a sexta extinção em massa. Um bom sinal é que estamos despertando a consciência de nossas origens e de nossa responsabilidade pelo futuro da vida. O universo suscita isso em nós porque está a nosso favor. Mas ele pede a nossa cooperação, já que somos os maiores causadores de tantos danos. É hora de despertar enquanto há tempo.

O primeiro que importa fazer é renovar o pacto entre Terra e humanidade. A Terra nos dá tudo que precisamos. No pacto, a nossa retribuição deve ser o cuidado e o respeito pelos limites da Terra.

O segundo é reforçar a reciprocidade ou a mutualidade: buscar aquela relação pela qual entramos em sintonia com os ecossistemas, usando-os racionalmente, devolvendo-lhes a vitalidade e garantindo-lhes sustentabilidade. Para isso, necessitamos nos reinventar como espécie que se preocupa com as demais espécies e aprende a conviver com toda a comunidade de vida. Devemos ser mais cooperativos e respeitar o valor intrínseco de cada ser.

O terceiro é viver a compaixão não só entre os humanos, mas para com todos os seres. A partir de agora, depende de nós se eles vão continuar a viver ou se vão desaparecer. Precisamos deixar para trás o paradigma de dominação que reforça a extinção em massa e viver aquele do cuidado e do respeito que preserva e prolonga a vida. No meio do antropoceno, urge inaugurar a era ecozoica que coloca o ecológico no centro.

Só assim há esperança de salvar nossa civilização e de permitir a continuidade de nosso planeta vivo.
Leonardo Boff

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