Depois de todos os elogios ao Supremo Tribunal Federal, aberta que
está a avenida para a condenação da maioria dos mensaleiros, surge o
primeiro buraco no asfalto. Ironicamente, coube ao caminhão do ministro
Cezar Peluso diminuir a marcha, ele que até prisão determinou para os
primeiros cinco réus. Porque ao fixar a pena para o deputado João Paulo
Cunha, Marcos Valério, Henrique Pizzolato e dois penduricalhos, o mestre
parou nos seis anos. Três por corrupção passiva e três por peculato.
Significa que pela lei vigente o ex-presidente da Câmara teria direito a
regime semi-aberto, caso não recebesse outra condenação por lavagem de
dinheiro. Traduzindo: ficaria em casa durante o dia, obrigado apenas a
dormir na cadeia.
A pergunta que se faz é porque, então, o ladrão de galinha fica preso
durante o inquérito e o julgamento e, depois, continua trancado em
tempo integral, sem direito a beneficio. Por ser pobre, não dispor de
excepcionais advogados e carecer de diploma universitário? Deveria ser a
lei igual para todos. Quantas galinhas poderiam ser compradas com os 50
mil reais oferecidos por Marcos Valério? Muitas mais, até um aviário,
por conta do contrato de publicidade celebrado entre eles.
Claro que a pena para esse primeiro lote de bandidos não estava
completa. Mais um voto em favor da acusação de lavagem de dinheiro, dado
pelo presidente Ayres Brito, determinou que os seis anos de prisão
aumentem, nesse caso em regime fechado. Resta aguardar, sem desejos de
vingança, mas tendo presente haver chegado a oportunidade de a Justiça
demonstrar serem todos iguais perante a lei.
A MAIOR DAS EVIDÊNCIAS
Do julgamento, até agora, vai ficando claro que por ampla maioria os
ministros do Supremo Tribunal Federal reconhecem a existência do
mensalão. Só dois ficaram com a alegação de que tudo se resumiu à coleta
de dinheiro para pagar despesas de campanha eleitoral. Em situação
difícil ficam o ex-presidente Lula, o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos,
os réus e seus advogados. Houve mesmo compra de votos parlamentares com
dinheiro público. O ex-presidente Lula afirmou nada saber da operação,
dizendo-se até traído pelos maus companheiros, isso antes de adotar a
sugestão de seu então ministro da Justiça, de enfiar tudo debaixo do
tapete do caixa dois.
Já o ex-chefe da Casa Civil, José Dirceu, deixou escapar num de seus
desabafos que nada do que se passava no palácio do Planalto era
desconhecido do presidente.
À medida em que o processo se desenvolve, mais apertado fica o
colarinho de todos. Não seria melhor que reconhecessem a verdade, de uma
vez por todas?
PÁ-DE-CAL
Quem jogou a pá-de-cal na mentira da ausência do mensalão, ontem, foi
o senador Pedro Simon, na tribuna do Senado. Ele defendeu que o
ministro Cezar Peluso deveria ter apresentado seu voto completo,
condenando ou absolvendo os outros réus. E concordou com a ministra
Carmem Lúcia, de que o Brasil realmente mudou.
Dos maiores críticos da impunidade no país, o representante do Rio
Grande do Sul lembrou a lei da Ficha Limpa, dizendo que ela se liga
fundamentalmente ao mensalão. Porque ninguém acreditava que a lei fosse
aprovada, assim como todos imaginavam que o julgamento em curso no
Supremo acabaria dando em nada. Felizmente, aconteceu tudo ao contrário…
Carlos Chagas Tribuna