Os sentimentos de indignação, insatisfação e, por fim, impotência estão fazendo com que uma parcela grande das pessoas se desinteresse pela política. |
O modelo "realpolitik" se esgotou e parece que nem todos estão
percebendo. Não dá mais para viver essa praga que se entranhou no
sistema político brasileiro. Erva daninha que corrói valores, exclui a
participação, nega a democracia, desestimula o mérito e ignora a ética.
Nascida na Alemanha, a expressão "realpolitik", segundo Luis Fernando
Verissimo, é um termo invocado quando um acordo ou arranjo político
agride o bom-senso ou a moral.
Os cidadãos eleitores, que ainda se dão ao trabalho de acompanhar a
política, não suportam mais essa prática. Podem até entender a
necessidade das composições, alianças e acordos que se tornaram
imprescindíveis no Brasil muito em função do nosso sistema eleitoral, do
número de partidos e do quanto tornou-se precioso o tempo de TV.
Os que criticam essa modalidade e as formas de fazer política, vistas
como "normais" há décadas, têm hoje consciência de que elas são um
terrível mal que compromete a ação de governar. Mas quando, pela sua
simbologia, ferem os limites do bom-senso e têm a marca do estapafúrdio,
tornam-se incompreensíveis para a população e são por ela rechaçadas.
Encontram-se além dos limites da própria "realpolitik".
Os sentimentos de indignação, insatisfação e, por fim, impotência
estão fazendo com que uma parcela grande das pessoas se desinteresse
pela política. A maioria dos jovens quer distância. E o povo, mais
escolado, começa a achar "tudo igual", o que acaba provocando o mesmo
desinteresse.
A luta pela democracia no Brasil conseguiu eletrizar forças e
corações que não suportavam viver num país sob ditadura. Cada um reagiu à
sua maneira. Mas muitos morreram e sofreram pela liberdade. Esse
resgate da democracia é tão importante que não poderia ter sido
contaminado por práticas seculares que nos acorrentam à uma malfadada
forma de fazer política. Esta mesma que aliena o povo que se vê --e se
sente-- excluído e desrespeitado.
Mas nem tudo está perdido. Tem gente formulando, e outros remoendo,
novas práticas e métodos, buscando diferentes formas e canais de
interação social e política. Um novo modelo que contemple e dialogue com
os vários segmentos e forças heterogêneas da sociedade. Uma construção
distante dos métodos agonizantes e ultrapassados que ainda hoje vigoram.
Uma transição necessária, e imprescindível, que já passou da hora de
acontecer.
Não está claro como, e em quanto tempo, se dará o nosso processo de
libertação da chamada "realpolitik". Mas, que esse sistema político e
eleitoral que vivemos chegou à exaustão, tenho clareza."
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