Acompanhei pelos jornais, incrédula, o lançamento da candidatura de Marcelo
Freixo, do PSOL, à Prefeitura do Rio de Janeiro. Diante de uma plateia composta
de alguns dos melhores artistas do Brasil e de personalidades como Frei Betto e
Leonardo Boff, esse jovem voltou a me dar esperança na vida pública. Ele promete
fazer uma campanha como as que o PT fazia em sua origem, recusando-se a receber
doações de empresas e buscando contato o mais direto possível com o eleitorado,
mesmo que através de redes sociais.
Posso vir, outra vez, a quebrar a cara, como quebrei com Barack Obama. Esse
agiu em sua primeira campanha de tal maneira que acabei me convencendo de que,
afinal, nos Estados Unidos, um negro redimiria o espaço da política, engajando
os cidadãos e não apenas querendo os votos deles. Comitês espontâneos brotaram
país afora, e o então candidato ainda fazia gestos inesquecíveis para quem
convive com a manipulação rasteira, eufemisticamente denominada entre nós de
“realismo pragmático”.
Tenho escrito e repetido que, no Brasil, as palavras já não correspondem a
seus conteúdos efetivos. Crime é tratado como malfeito, caixa 2, como recursos
não-contabilizados e daí por diante.
Mas voltando à campanha de Obama: este não recebeu doações de empresas, só de
contribuintes individuais, e chegava a telefonar para integrantes dos tais
comitês espontâneos apenas para conversar com eles e agradecer o empenho que
tinham em elegê-lo. Fiquei à época tão entusiasmada que até mandei comprar uma
camisa de sua campanha, que eu ostentava orgulhosa por onde ia aqui, no
Brasil.
Agora, quem quiser conhecer, de fato, o que se passou depois que ele chegou à
Presidência dos EUA, tem de assistir ao documentário “Inside Job”, (em
português, “Trabalho Interno”), de autoria de Charles Ferguson: protagonistas de
escândalos financeiros, de corrupção e de chantagens no mundo dos negócios
passaram a fazer parte de seu governo em postos-chave.
Aliás, para ser mais direta, alguns também pertenceram, em pessoa ou por interposto representante, aos governos anteriores, inclusive o de George W. Bush.
Agora mesmo, estava quebrando a cara outra vez: com Luiza Erundina, que
sucumbia a quem, antes, a perseguiu no PT. Ia de vice de Fernando Haddad e de
braços dados com Paulo Maluf, mas teve o bom sendo de desistir.
Marcelo Freixo está tendo o apoio daqueles que Lula qualificou como inúteis
em nossa modernidade: os chamados “formadores de opinião”, isto é, pessoas que,
por suas contribuições culturais, fazem a cabeça (no bom sentido) das multidões.
Ou os elos imprescindíveis, no dizer de Hannah Arendt, entre os cidadãos e os
que se colocam como seus representantes (porque eleitos para tal) na arena
pública.
É claro que não vai ser nada fácil a campanha desse moço. Basta lembrar que,
contra ele, estarão as milícias e os tentáculos já capturados pelos Cachoeiras
da vida. E não faltarão canetas poderosas para ser acionadas em seu
desfavor.
Mas vai valer a pena acompanhar sua trajetória.
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