Crescimento na taxa de homicídios é de 96% em setembro na comparação com 2011; governador volta a pregar linha dura e Secretaria de Segurança Pública fala em aumento de crimes passionais |
Com uma média de 4,5
homicídios por dia na cidade de São Paulo, o mês de setembro
passou a liderar a série histórica publicada desde janeiro de 2011
pela Secretaria de Segurança Pública do Estado. Os 135 casos
registrados no mês passado representam um crescimento de 96% na
comparação com o mesmo período de 2011. Nos seis primeiros meses
de 2012 o número passou de 900 e o crescimento foi de cerca de 23%
em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Para a diretora-executiva do grupo Conectas Direitos Humanos, Lucia Nader, estes
aumentos consecutivos nos casos de homicídios em São Paulo revelam
um quadro preocupante. “Onde a violência e o uso da força
aparecem como recurso preferencial para a resolução dos impasses na
maior cidade do País", afirma, em nota emitida pela entidade. Após a divulgação dos números
pela secretaria, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que a ordem de
seu governo é para “ir para cima”, na mesma linha daquilo que vinha pregando desde o começo da série de estatísticas negativas.
Hoje, o secretário de Segurança Pública, Antonio
Ferreira Pinto, disse durante entrevista coletiva que vai reforçar o
número de policiais nas ruas e fazer operações secretas para tentar
conter as mortes de policiais no estado. Desde ontem, um policial e
outras seis pessoas foram assassindas em São Paulo.
Já alarmante, a
situação pode ser ainda pior, já que a Secretaria de Segurança
não contabiliza como homicídio doloso os casos que considera como
“resistências seguidas de morte” (nos confrontos com policiais,
por exemplo), os roubos e os furtos seguidos de morte. De acordo com
declarações do Comando Geral da Polícia Militar, o que mais
contribuiu para o aumento foram os homicídios passionais, quando
ocorrem após brigas em casa ou no trânsito. Para o comando, apenas
5 dos 85 PM mortos desde o início do ano foram assassinados em
setembro.
Capão Redondo e Parque
Santo Antonio foram os locais com maior número de mortes 18, mais de
um a cada dois dias. “Estamos alarmados com a forma como o governo
interpreta esses números e reage a essa realidade. As autoridades da
área de Segurança Pública de São Paulo fazem uso recorrente de um
vocabulário de guerra para justificar o uso da força letal, como se
o gatilho fosse, em última instância, o juiz, o tribunal e a pena
que recai na maioria das vezes sobre pessoas pobres, negras e de
periferia", afirma Lucia.
Para a coordenadora e
fundadora do Grupo Mães de Maio, Débora Maria da Silva, a situação
do aumento nos números de homicídio ao longo de 2012 evidencia uma
situação de calamidade no estado de São Paulo. Segundo ela, os
grupos que representam moradores da periferia que sofrem com esta
situação vão pedir, mais uma vez, intervenção do Ministério da
Justiça junto às autoridades paulistas da área de segurança.
O Mães de Maio foi
criado após a onda de ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC)
ocorridos em maio de 2006 e que resultaram em mais de 600 pessoas
mortas, a maior parte entre moradores da periferia, durante ações
repressivas da polícia. “Nós estamos cada vez mais sitiados, com
medo de sair de casa, e assustados com a postura das autoridades
nesta guerra. Eles, cada vez mais, apresentam um discurso fascista e
que encoraja a formação e a ação de grupos de extermínio”,
afirma.
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