A pós-graduação de Engenharia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (Coppe/UFRJ) inaugurou hoje (26) a primeira fábrica de
nanopolímeros do Brasil para aplicação nas áreas médica, biotecnológica e
farmacêutica. As primeiras cápsulas vão armazenar o medicamento
Praziquantel que trata a esquistossomose, doença que atinge 200 milhões
de pessoas em todo o mundo e, no Brasil, é endêmica e aflige 8 milhões
de pessoas, sobretudo, crianças. Cada cápsula é mil vezes menor que um
fio de cabelo.
A nova tecnologia vai permitir que o medicamento entre no organismo
humano, transportado por uma cápsula que irá diminuir o tamanho do
remédio e que será aberta apenas no local exato onde deve agir contra a
doença. De acordo com o professor de engenharia química da Coppe e
coordenador dos laboratórios e da fábrica, José Carlos Pinto, o
aprisionamento evita que grande parte do remédio se perca no caminho, no
estômago e no fígado, antes de atacar os parasitas. Com isso, os
nanopolímeros vão diminuir o tamanho do remédio e a dosagem diária (que
depende do peso do paciente).
“Com a pílula, o medicamento acaba sendo absorvido pelo organismo e
uma parte se perde. Como as bolinhas protegem o produto que promove a
cura da doença, você acaba podendo tomar doses menores e a eficiência é
muito maior.”
Além disso, segundo ele, o nanoencapsulamento do Praziquantel será
muito útil no tratamento das crianças, pois mascara o sabor ruim do
remédio e facilita a ingestão.
“O gosto amargo faz com que algumas crianças rejeitem o remédio. A
pílula é muito grande e em alguns casos provoca ânsia de vômito. Então,
como o remédio está protegido, ele não entra em contato direto com a
língua e, como as bolinhas são muito pequenas, elas são apresentadas em
forma de um pozinho, a solução pode ser espalhada na água ou no suco e a
criança pode beber em uma solução sem gosto.”
Atualmente, o tratamento consiste em aplicações orais de doses
diárias de 20 a 60 miligramas/quilo (mg/kg). No mercado são encontradas
dosagens de 150, 500 e 600 mg. Uma criança de 3 anos com cerca de 20
quilos, no estado mais grave da doença, precisa ingerir 1.200 mg de
Praziquantel diariamente. Nos dias atuais, os comprimidos são muito
grandes e amargos.
O projeto conta com a parceria da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
com recursos de R$ 11 milhões por parte do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep). Com uma área de 740 metros quadrados, a fábrica e
mais seis laboratórios estão localizados no Laboratório de Engenharia de
Polimerização da Coppe. A meta da fábrica é produzir 100 quilos de
materiais micro e nanométricos diariamente.
A previsão é de que os testes em animais comecem no ano que vem e que, em 2014, o medicamento comece a ser testado em humanos.
Ainda segundo José Carlos, a fábrica também poderá desenvolver
produção de filtros solares avançados que hoje não são comercializados
porque têm substâncias que afetam o mecanismo hormonal. “As
nanopartículas vão funcionar como uma espécie de filme que aprisiona o
filtro solar e possibilita a proteção dos raios solares e impede que ele
entre no organismo pela pele.”
Futuramente, a fábrica também produzirá em escala industrial
micropartículas de polímeros para tratamento de câncer, por meio da
técnica da embolização, que entope os vasos sanguíneos que alimentam os
tumores e mata o tecido doente.
EBC
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