A certeza que deriva da reeleição de Eduardo Paes à Prefeitura do Rio
é que continuarão as enormes intervenções urbanas pelas quais a cidade
passa desde que ele assumiu. Apresentadas pela imprensa como positivas
em si, elas resultam na expulsão branca de pobres e negros de áreas
agora valorizadas.
Mas esse fenômeno, ao lado da baixa qualidade da saúde e da educação,
é pouco destacado na primeira página, porque no miolo do jornal a
publicidade oficial é farta. A construção de grandes obras a toque de
caixa, que sempre abre espaço para uma série de irregularidades, mais
uma vez é a praxe.
Com uma suposta necessidade de aprontar o Rio para a Copa em 2014 e
as Olimpíadas dois anos depois, qualquer coisa ganha legitimidade, mesmo
que só se sustentando com uma campanha publicitária pesada, frequente e
permanente – ou seja, caríssima.
Fazem-se obras tremendamente impactantes do meio ambiente e das
rotinas das pessoas com licenciamento simplificado – caso da
Transcarioca – e sem que alternativas fossem cotejadas.
Colocou-se nesta rodovia R$ 1,6 bilhões em dinheiro do Município,
financiados pelo BNDES, para desapropriar na marra milhares de casas por
preços vis, desrespeitando o direito dos moradores e desconsiderando o
trem e o metrô.
EUFORIA
A euforia fabricada pela proximidade dos megaeventos venceu o bom
senso e a prudência que precisam orientar a administração pública e seus
recursos.
Paes alimentou o canteiro de obras a bilhões do Erário e, com a
disparada nos preços dos imóveis, provocou uma verdadeira limpeza social
em áreas anteriormente degradadas e habitadas pelos despossuídos.
É ótimo no papel de gestor de um Rio que serve menos para seus
moradores e mais para os especuladores. Botou abaixo a
institucionalidade de cinco milhões de metros quadrados do Centro, ali
na Gamboa, Santo Cristo e Praça Mauá, agora administrados pelo Consórcio
Porto Novo – leia-se Odebrecht, OAS e Carioca Engenharia.
Os serviços públicos de coleta de lixo, iluminação pública, limpeza,
trânsito e pavimentação (não se espantem se no futuro a segurança
pública engordar essa lista) foram presenteados às empreiteiras, sem que
fossemos consultados sobre a privatização desta porção histórica do
território carioca.
Horror maior ainda acontece no Morro da Providência, onde na penumbra
da noite a Secretaria Municipal de Habitação marca as casas que serão
demolidas para dar lugar a tenebrosas transações, em artimanha digna dos
nazistas contra os judeus.
Desde já, é fácil antever o legado de Paes: uma cidade perversamente
privatizada, cara e que não respeita a ampla parcela de sua sociedade
que comete o “crime” de não ser integrada, como os negócios que ele
proporciona, à especulação internacional.
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