Comecemos assim. Insustentável é a situação de uma sociedade quando a
riqueza é distribuída abjetamente. Nestes casos, no comando está um
governo de ricos, por ricos e para ricos.
Insustentável porque uma hora os excluídos se insurgem. O melhor
exemplo histórico foi a França sob Luís 16. Nem sempre o desfecho é tão
dramático assim, mas jamais as coisas permanecem como antes.
A Venezuela, pré-Chavez, era socialmente insustentável. Era um dos
campeões mundiais em desigualdade. Uma elite reduzida vivia como se
estivesse em Nova York. A imensa maioria dos venezuelanos vivia como se
estivesse na Nigéria.
Só a elite imaginava que isso poderia durar muito tempo. Hugo Chávez é
fruto de uma iniquidade sem limites. Os pobres venezuelanos o amam
porque Chávez os colocou no mapa. Deu a eles atenção, deu a eles
programas sociais que efetivamente melhoraram sua vida. Como o povo vota
em quem o defende, Chávez é fortíssimo em eleições.
Se a elite venezuelana tivesse promovido uma sociedade mais justa
quando esteve no poder, Chávez provavelmente não existiria. Mas a elite
venezuelana sempre esteve mais preocupada em fazer compras nos Estados
Unidos do que em pensar em coisas como justiça social.
APOIO POPULAR
A força de Chávez deriva do povo. Um golpe de estado em 2000 tirou-o
do poder por não mais que dois dias. Chávez voltou porque o povo exigiu.
Sempre que foi testado nas urnas, ele bateu os adversários com
facilidade.
Há, no Brasil, uma propaganda feroz na grande imprensa contra Chávez,
mas isso é porque Chávez não representa os interesses que comovem as
grandes corporações jornalísticas brasileiras. Não li em nenhuma
publicação brasileira que, depois de vários anos no poder, sua
popularidade entre os venezuelanos é de 62%, o mesmo nível do de Dilma.
Ele é sistematicamente ridicularizado e insultado no Brasil por
colunistas e editorialistas que defenderiam a nobreza francesa em 1789 e
tratariam como bufões Danton e Robespierre. Nos confrontos entre Chávez
e a mídia venezuelana, não é difícil ver quem está do lado dos
desvalidos e quem está do lado dos privilegiados.
Do ponto de vista de política externa, Chávez foi uma das primeiras
vozes a se erguer contra os crimes de guerra dos Estados Unidos nos
países árabes. Chamou, com inteira razão, George W Bush de satã ou coisa
parecida.
Chávez, por tudo isso, é favorito para vencer as eleições
presidenciais que se aproximam. Henrique Caprilles, o adversário,
promete continuar os programas sociais. Ora, por que esses programas não
apareceram antes de Chávez?
Para ricos que temem que o chavismo avance para outros países, entre
os quais o Brasil, a lição é clara: para evitar isso, basta abrir mão de
parte dos privilégios. Chávez não faria sucesso na Dinamarca, ou na
Noruega. Mas em países iníquos sim.
Quanto menos injusto socialmente o Brasil for, menores as chances de o
chavismo se instalar entre os brasileiros. Mas a elite brasileira não
parece compreender isso, por mais óbvio que seja. E por isso teme e
insulta tanto Chávez, na ilusão de que com gritos resolve um problema
que só desaparece com ações que melhorem a vida do povo.
Paulo Nogueira diario do centro do mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário