terça-feira, 9 de outubro de 2012

É preciso incentivar cada vez mais o debate entre marxistas e liberais

Friedrich Engels
Um dos debates mais interessantes no Blog da Tribuna é travado permanentemente entre marxistas e liberais. Uma discussão que não terminará jamais, porém deve ser incentivada. Temos aqui pensadores liberais de peso, que se digladiam com aqueles que acreditam que o socialismo não morreu, ao contrário do que agora propaga o veterano ex-marxista Ferreira Gullar.


Em meio a esse debate, é importante destacar a forma respeitosa com que a morte de um ícone do marxismo, o professor britânico Eric Hobsbawm, acaba de ser reverenciada em todo o mundo civilizado, mostrando o quanto é preciso preservar um debate político-ideológico-econômico no terreno das idéias, ao invés de simplesmente atirar os marxistas na lata do lixo.

Tenho pensado muito sobre o tema, sobre o qual já escrevo há décadas. Em meu modo de pensar, o marxismo (ou socialismo) não morreu nem morrerá, assim como o capitalismo não prevaleceu nem prevalecerá. O que existe hoje é uma espécie de pós-modernismo ideológico, que ninguém consegue definir.


PURIFICAÇÃO
Num balanço do Manifesto do Partido Comunista, quase 165 anos depois de seu lançamento pelos geniais pensadores Karl Marx e Friedrich Engels, o que ressalta é que o marxismo obrigou o capitalismo a se purificar e a evoluir extraordinariamente no campo social.

Não é sem justificativa que se proclame hoje que os Estados Unidos estão ficando cada vez mais socialistas. Isso é um fato, sem dúvida. Não cabe discutir fatos, apenas aceitá-los. Os EUA são a maior potência, mas ainda estão longe de serem o melhor país do mundo. O caminho até lá passa, inexoravelmente, pelo aperfeiçoamento do regime em termos de Justiça Social, que vem a ser justamente a base do socialismo, ou marxismo. E isso está acontecendo nos EUA, sem a menor dúvida, apesar de toda a crise.

Os índices que medem a Justiça Social pelo mundo mostram que países como Alemanha e Noruega são muito mais evoluídos, e não é por mera coincidência que se possa constatar que essas nações estão entre as que mais purificaram o sistema capitalista, ao reduzir a desigualdade e garantir as necessidades básicas de seus cidadãos.


EXEMPLO DA ALEMANHA
O exemplo da Alemanha Ocidental é extraordinário, porque lá o Partido Comunista simplesmente fechou as portas, antes mesmo da queda do Muro de Berlim. Apoiado pelos sindicatos, o PC alemão era riquíssimo, mas não se mostrava politicamente viável. Motivo: a evolução social do país era espantosa, os principais direitos sociais (saúde, educação, trabalho) já estavam garantidos a toda a população, os filhos dos operários cursavam universidades.

Na época (década de 80) o grande problema da Alemanha era a poluição, com a chuva ácida. Os dirigentes do PC, numa demonstração de amadurecimento, então resolveram dissolver a histórica legenda e doar todos os bens (incluindo o moderno edifício-sede em Munique, todo em vidro fumê, e uma fortuna em ações) ao Partido Verde, que se tornou fortíssimo e acabou chegando ao poder.


IDEOLOGIAS
Em meio a essa realidade, discutir ideologias poderia ser como debater o sexo dos anjos, mas não é. A discussão é necessária, até que a humanidade evolua a tal ponto que em todos os países haja Justiça Social, a fome esteja erradicada e as necessidades básicas plenamente atendidas. É um sonho, uma utopia, não estaremos vivos para assistir a esse espetáculo da Humanidade, mas acontecerá, podem ter certeza.

O debate ideológico não pode ser travado como se fosse uma discussão de futebol ou um embate nacionalista. O marxismo não pode ser confundido com os regimes da União Soviética, Cuba, Coreia do Sul, Cambodja. Não existe marxismo sem liberdade. Se tivessem vivido na União Soviética, Marx e Engels seriam dissidentes, teriam sido confinados à Sibéria. É preciso raciocinar em profundidade sobre ideologias, sem preconceitos e sem ofensas, buscando apenas a verdade dos fatos, para tentarmos visualizar um mundo melhor.

Tenho pensado muito sobre isso, qualquer hora dessas vou escrever sobre cristianismo e marxismo – tudo a ver, em minha opinião.

Quero analisar também a ciclópica figura de Friedrich Engels, que erradamente sempre ficou à sombra de Marx, ninguém sabe por quê. Sou fã de Engels, um dos maiores benfeitores da humanidade. Considerá-lo apenas um colaborador de Marx é um equívoco grosseiro, que Lenin não cometeu. A biografia que escreveu de Engels (disponível na internet) é um primor.

Carlos Newton   Tribuna

Nenhum comentário: