Friedrich Engels |
Um dos debates mais interessantes no Blog da Tribuna
é travado permanentemente entre marxistas e liberais. Uma discussão que
não terminará jamais, porém deve ser incentivada. Temos aqui pensadores
liberais de peso, que se digladiam com aqueles que acreditam que o
socialismo não morreu, ao contrário do que agora propaga o veterano
ex-marxista Ferreira Gullar.
Em meio a esse debate, é importante destacar a forma respeitosa com
que a morte de um ícone do marxismo, o professor britânico Eric
Hobsbawm, acaba de ser reverenciada em todo o mundo civilizado,
mostrando o quanto é preciso preservar um debate
político-ideológico-econômico no terreno das idéias, ao invés de
simplesmente atirar os marxistas na lata do lixo.
Tenho pensado muito sobre o tema, sobre o qual já escrevo há décadas.
Em meu modo de pensar, o marxismo (ou socialismo) não morreu nem
morrerá, assim como o capitalismo não prevaleceu nem prevalecerá. O que
existe hoje é uma espécie de pós-modernismo ideológico, que ninguém
consegue definir.
PURIFICAÇÃO
Num balanço do Manifesto do Partido Comunista, quase 165 anos depois
de seu lançamento pelos geniais pensadores Karl Marx e Friedrich Engels,
o que ressalta é que o marxismo obrigou o capitalismo a se purificar e a
evoluir extraordinariamente no campo social.
Não é sem justificativa que se proclame hoje que os Estados Unidos
estão ficando cada vez mais socialistas. Isso é um fato, sem dúvida. Não
cabe discutir fatos, apenas aceitá-los. Os EUA são a maior potência,
mas ainda estão longe de serem o melhor país do mundo. O caminho até lá
passa, inexoravelmente, pelo aperfeiçoamento do regime em termos de
Justiça Social, que vem a ser justamente a base do socialismo, ou
marxismo. E isso está acontecendo nos EUA, sem a menor dúvida, apesar de
toda a crise.
Os índices que medem a Justiça Social pelo mundo mostram que países
como Alemanha e Noruega são muito mais evoluídos, e não é por mera
coincidência que se possa constatar que essas nações estão entre as que
mais purificaram o sistema capitalista, ao reduzir a desigualdade e
garantir as necessidades básicas de seus cidadãos.
EXEMPLO DA ALEMANHA
O exemplo da Alemanha Ocidental é extraordinário, porque lá o Partido
Comunista simplesmente fechou as portas, antes mesmo da queda do Muro
de Berlim. Apoiado pelos sindicatos, o PC alemão era riquíssimo, mas não
se mostrava politicamente viável. Motivo: a evolução social do país era
espantosa, os principais direitos sociais (saúde, educação, trabalho)
já estavam garantidos a toda a população, os filhos dos operários
cursavam universidades.
Na época (década de 80) o grande problema da Alemanha era a poluição,
com a chuva ácida. Os dirigentes do PC, numa demonstração de
amadurecimento, então resolveram dissolver a histórica legenda e doar
todos os bens (incluindo o moderno edifício-sede em Munique, todo em
vidro fumê, e uma fortuna em ações) ao Partido Verde, que se tornou
fortíssimo e acabou chegando ao poder.
IDEOLOGIAS
Em meio a essa realidade, discutir ideologias poderia ser como
debater o sexo dos anjos, mas não é. A discussão é necessária, até que a
humanidade evolua a tal ponto que em todos os países haja Justiça
Social, a fome esteja erradicada e as necessidades básicas plenamente
atendidas. É um sonho, uma utopia, não estaremos vivos para assistir a
esse espetáculo da Humanidade, mas acontecerá, podem ter certeza.
O debate ideológico não pode ser travado como se fosse uma discussão
de futebol ou um embate nacionalista. O marxismo não pode ser confundido
com os regimes da União Soviética, Cuba, Coreia do Sul, Cambodja. Não
existe marxismo sem liberdade. Se tivessem vivido na União Soviética,
Marx e Engels seriam dissidentes, teriam sido confinados à Sibéria. É
preciso raciocinar em profundidade sobre ideologias, sem preconceitos e
sem ofensas, buscando apenas a verdade dos fatos, para tentarmos
visualizar um mundo melhor.
Tenho pensado muito sobre isso, qualquer hora dessas vou escrever
sobre cristianismo e marxismo – tudo a ver, em minha opinião.
Quero
analisar também a ciclópica figura de Friedrich Engels, que erradamente
sempre ficou à sombra de Marx, ninguém sabe por quê. Sou fã de Engels,
um dos maiores benfeitores da humanidade. Considerá-lo apenas um
colaborador de Marx é um equívoco grosseiro, que Lenin não cometeu. A
biografia que escreveu de Engels (disponível na internet) é um primor.
Carlos Newton Tribuna
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