Hazel Barton diz que micro-organismos isolados podem ajudar a combater 'superbactérias' resistentes a medicamentos atuais. |
Bactérias encontradas em cavernas podem ajudar a produzir os
antibióticos necessários contra infecções resistentes a remédios já
disponíveis no mercado, segundo a bióloga Hazel Barton, da Universidade
de Akron, em Ohio, EUA.
Barton faz buscas por bactérias em cavernas profundas, como a de
Lechuguilla, no estado do Novo México. Ela diz que os primeiros
resultados mostram que o ambiente pode ajudar na batalha contra as
"superbactérias".
"Há ambientes únicos e pouco explorados, povoados por micro-organismos,
que só agora estamos começando a entender que têm a chave para novas
drogas", disse Barton ao programa de TV Horizon, da BBC.
De acordo com ela, os cientistas costumam procurar novos antibióticos
na natureza porque a estrutura complexa desses medicamentos faz com que
seja quase impossível sintetizá-los em laboratório.
"Da miríade de antibióticos que surgiu no mercado nos últimos 60 anos,
99% são derivados de outros micro-organismos, especialmente bactérias e
fungos encontrados no solo", explica.
"Mas essa fonte está começando a se tornar escassa, e os cientistas
estão prestando atenção a ambientes mais exóticos e extremos, como
cavernas."
Disputa por alimento
De acordo com a pesquisadora, a explicação para o potencial antibiótico dos micro-organismos de cavernas está provavelmente no isolamento do lugar.
De acordo com a pesquisadora, a explicação para o potencial antibiótico dos micro-organismos de cavernas está provavelmente no isolamento do lugar.
"A caverna de Lechuguilla tem mais de 365 metros de profundidade e
exige que a descida até as amostras seja feita em cordas presas ao teto.
A coleta acontece em áreas tão remotas que temos que acampar lá dentro
por dias, às vezes", diz.
"Essa distância também quer dizer que essas bactérias não foram perturbadas por nenhum tipo de atividade em milhões de anos."
Por causa da dificuldade de conseguir alimento no ambiente da caverna, os micro-organismos são forçados a competir entre si.
Barton explica que, por causa do tamanho reduzido das cavernas, as
opções dessas bactérias são limitadas – elas não têm dentes ou patas
para lutar. Por isso, usam sua capacidade biossintética para produzir
antibióticos umas contra as outras.
"Quimicamente, antibióticos são muito mais complexos que drogas
antivirais ou anticâncer e se parecem mais com uma teia de aranha, com
padrões intricados de conexões", explica.
"Eles mimetizam os padrões celulares para bloquear ou mesmo destruir estruturas importantes dentro de uma bactéria."
Os micro-organismos encontrados em Lechuguilla foram examinados por
Barton em colaboração com cientistas de outras universidades dos EUA e
do Canadá.
"Só uma (das amostras) produziu 38 componentes antimicrobianos,
incluindo o que parece ser um novo antibiótico. Para colocar isso em
perspectiva, há menos de cem antibióticos que já foram descobertos e
descritos, e uma única cultura isolada de uma caverna produziu quase um
terço deles", afirma a pesquisadora.
Resistência
Outras avaliações mostraram a Barton que, em 93 das 4 mil culturas isoladas na caverna, as "superbactérias", resistentes a diversos antibióticos, também estavam presentes.
Outras avaliações mostraram a Barton que, em 93 das 4 mil culturas isoladas na caverna, as "superbactérias", resistentes a diversos antibióticos, também estavam presentes.
"Apesar do fato de que esses organismos estiveram isolados por milhões
de anos e nunca foram expostos a antibióticos humanos, eles eram
resistentes a praticamente todos os antibióticos usados atualmente."
"Assim como algumas de nossas bactérias das cavernas produzem muitos
antibióticos, algumas eram resistentes a muitos também – só uma delas
era resistente a 14 (tipos)."
Mas Barton diz que, nas amostras coletadas, foi possível identificar um
mecanismo de resistência antibiótica que não havia sido visto antes.
"A resistência aos antibióticos está programada nas bactérias. Sem
mudar nosso comportamento em relação à prescrição e ao mau uso dos
antibióticos, nunca vamos derrotá-las", diz.
BBC Brasil
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