"Sr. Scotty, fator de dobra 4... acionar!" |
“Talvez uma experiência Star Trek antes de nós morrermos não seja uma possibilidade remota.” Essas são palavras do Dr. Harold “Sonny” White,
Chefe do Tema de Propulsão Avançada do Engineering Directorate da NASA.
O Dr. White e seus colegas não só acreditam que uma versão na vida real
da dobra espacial seja teoricamente possível; eles já começaram a
trabalhar na criação de uma.
Sim. Uma dobra espacial de verdade, Scotty.
Quando o assunto é exploração espacial, ainda somos homens das cavernas. Chegamos à Lua e mandamos alguns robôs durões a Marte.
Nós também já temos aquelas portas automáticas que se abrem suavemente
quando alguém chega perto, mas isso é tudo. É legal, mas estamos longe
de ser a civilização espacial de que precisaremos se quisermos
sobreviver por milênios.
Com as nossas tecnologias de propulsão atuais, as viagens
interestelares são impossíveis. Mesmo com tecnologia experimental, como
propulsores de íon ou uma nave cuspindo loucamente explosões nucleares,
seriam necessárias quantidades colossais de combustível e massa para
chegar a qualquer estrela próxima. E o pior: levaria décadas (séculos,
talvez) para cumprir o trajeto. A viagem seria inútil para os que
ficassem. Apenas aqueles que embarcassem na procura por um novo sistema
estelar colheriam os frutos desse gigantesco esforço. Simplesmente não é
algo viável.
Assim, precisamos de alternativas. Uma que nos permita viajar de
forma extremamente rápida sem quebrar as leis da física. Ou como diz o
Dr. White: “queremos ir, muito rápido mesmo, enquanto observamos o 11º
mandamento: Não ultrapassarás a velocidade da luz.”
Procurando por bolhas de dobra
A resposta reside precisamente naquelas leis da física. O Dr. White e
outros físicos encontraram brechas em algumas equações matemáticas —
brechas que indicam que saltar no tecido espaço-temporal pode sim ser
possível.
Trabalhando na NASA Eagleworks,
uma operação à parte dentro do Centro Espacial Johnson, da NASA, a
equipe do Dr. White está tentando provar essas brechas. Eles “iniciaram
um teste com interferômetro que tentará gerar e detectar uma instância
microscópica de uma pequena bolha de dobra” usando um instrumento
chamado Interferômetro de Campo de Dobra White-Juday.
Isso pode soar como algo pequeno agora, mas as implicações da pesquisa são enormes. Em suas próprias palavras:
“Embora isso seja apenas uma pequena instância do fenômeno, ela será uma prova real da ideia de perturbar o espaço-tempo — um momento ‘Chicago-Pile’, como ele foi. Lembre-se que dezembro de 1942 viu a primeira demonstração de uma reação nuclear controlada que gerou enormes meio watt. Essa prova de existência foi procedida de um reator de cerca de quatro megawatts em novembro de 1943. A prova de existência da aplicação prática de uma ideia científica pode ser o ponta-pé inicial para o desenvolvimento da tecnologia.”
Ao criar uma dessas bolhas de dobra, o motor da aeronave comprime o
espaço à frente e expande o espaço atrás, movendo-se para outro local
sem estar se movimentando de fato e deixando de lado os efeitos adversos
de outros meios de viajar. De acordo com Dr. White, “ao aproveitar a
física da inflação cósmica, as naves do futuro criadas para satisfazer
as leis dessas equações matemáticas talvez serão capazes de chegar aos
lugares de forma impensavelmente rápida — e sem os efeitos adversos.”
Ele diz que, se tudo for confirmado nesses testes práticos, nós
poderemos criar um motor que nos levará à Alfa Centauro “em duas semanas
se medido por relógios aqui na Terra.” O tempo será o mesmo na nave e
na Terra, ele afirma, e não haverá “forças de marés dentro da bolha,
nenhum problema inesperado e a aceleração de fato será zero. Quando você
liga o campo, ninguém será jogado para fora da nave — o que seria uma
viagem bem curta e triste.”
O problema da energia, resolvido
Havia apenas um problema com isso tudo: de onde a energia viria?
Embora soubéssemos que dobras espaciais eram teoricamente possíveis, os
físicos sempre argumentaram que seria necessária uma bola de matéria
exótica do tamanho de Júpiter para gerar a energia. Claramente, isso não
seria viável. Mas felizmente o Dr. White encontrou a solução que muda o
jogo completamente.
A equipe da Eagleworks descobriu que a energia necessária é muito
menor do que se pensava. Se eles otimizarem a espessura da dobra
espacial e “oscilar sua intensidade para reduzir a rigidez do espaço
tempo,” eles serão capazes de reduzir a quantidade de combustível para
uma tangível: em vez de uma bola de matéria exótica do tamanho de
Júpiter, será preciso apenas 500kg para “mandar uma bolha de 10 metros a
uma velocidade efetiva de 10c.”
Dez c! Isso é dez vezes a velocidade da luz, galera (lembre-se, a
nave em si não viajaria mais rápido que a velocidade da luz. Mas
efetivamente, pareceria que sim).
Isso quer dizer que poderíamos visitar Gliese 581g — um planeta similar à Terra, 20 anos-luz distante do nosso — em dois anos.
Dois anos não é nada. A Magellan levou três anos para circunavegar o
nosso planeta — de agosto de 1519 a setembro de 1522. Uma viagem de
quatro anos para ver um planeta como a Terra é completamente realizável.
E ainda existem locais mais próximos para onde podemos mandar robôs e
astronautas.
A coisa mais importante aqui é que há uma porta aberta para
diferentes tipos de exploração. Que, como o Dr. White diz, "talvez uma
experiência Star Trek antes de nós morrermos não seja uma possibilidade
remota.” É possível que estejamos testemunhando o início de uma nova era da exploração espacial, uma que finalmente nos levaria do nosso pálido ponto azul para onde nós pertencemos.
Gizmodo
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