São Paulo está dando o primeiro passo para começar a se livrar de uma
quadrilha formada por dois partidos que, há uma década, apesar de
subsistirem em terras paulistas, o Brasil vem rejeitando
progressivamente: o PSDB e o DEM. E por um consórcio de impérios de
comunicação que atingiu o porte paquidérmico que tem hoje graças às
incontáveis arcas de dinheiro público que recebeu da ditadura militar
pelos favores que lhe prestou.
José Serra, o lunático que o povo de São Paulo ora manda para a
aposentadoria, tem todas as características de capo: autoritário,
impiedoso, preconceituoso, truculento, cínico e, segundo o livro A
Privataria Tucana, desonesto – sua filha e outros parentes, enquanto o
governo federal do PSDB vendia patrimônio público a preço de banana,
recebiam milhões e milhões de dólares de remessas inexplicáveis do
exterior.
Mas o que impôs a Serra a derrota acachapante da vez não foram os
questionamentos éticos que, por um misto de cumplicidade da grande
imprensa e de covardia de seus adversários políticos, (ainda) não estão
sendo apurados, em que pese a CPI aprovada pela Câmara dos Deputados
para esse fim, a qual, segundo se sabe, deverá ser instalada no início
do próximo ano, na volta dos trabalhos do Congresso.
Como o tema é a eleição em São Paulo, o que se tem que analisar é que
tudo o que está acontecendo se deve a que a cidade cometeu um erro
fatal em 2004 e outro ainda maior em 2008 e tais erros lhe cobraram um
alto preço.
Marta Suplicy foi eleita em 2000 com a missão de reparar a devastação
praticada por Paulo Maluf e Celso Pitta na prefeitura ao longo da
década de 1990, quando protagonizaram o primeiro grande erro dos
paulistanos, o de negar voto a Eduardo Suplicy, indicado por Luiza
Erundina, que fizera trabalho saneador da cidade após outra gestão
catastrófica, a de Jânio Quadros, que, a exemplo das de Maluf, Pitta,
José Serra e Gilberto Kassab, viu máfias se instalarem por toda a
administração municipal.
Por omissão criminosa da grande imprensa paulista, São Paulo não sabe
que a gestão Kassab está “sub judice”, com vários secretários e o
próprio prefeito sendo acusados e investigados pelo Ministério Público
por conta das novas máfias que se instalaram na administração municipal
de forma a, por exemplo, lucrar com a liberação de construção de
imóveis.
A mídia que a ditadura militar legou ao Brasil, porém, escondeu tudo
isso do eleitor paulistano no âmbito de sua luta insana contra o Partido
dos Trabalhadores, que já remonta a quase a um quarto de século (desde
1989).
Todavia, ainda em 2004, quando a excelente gestão Marta foi
interrompida aos meros quatro anos (os grupos políticos de direita que
governaram a cidade tiveram todos oito anos) assim como ocorreu com a de
Erundina, já se sabia que a retomada das práticas criminosas e
socialmente irresponsáveis que a direita iria impor à cidade cobrariam
desta um preço, de forma que a conscientização do paulistano sobreviria,
se não pelo amor (racionalidade), ao menos pela dor.
A cidade, pois, foi entregue a dois homens que utilizariam a
administração municipal como trampolim para seus projetos políticos.
Serra ficou no cargo pouco mais de um ano, pois se candidatou a prefeito
em 2004 apenas para ganhar musculatura e recursos para disputar o
governo do Estado dois anos depois, governo que também abandonaria para
disputar a Presidência da República em 2010.
Kassab, assim como o padrinho político, também abandonou São Paulo na
mão de assessores corruptos para montar um partido político, o PSD, que
reúne, se não o que de pior havia no PSDB e no DEM, boa parte do lixo
político que infecta esses partidos.
Enquanto Serra e Kassab se dedicavam aos seus projetos políticos, o
caos foi se implantando na capital paulista. Violência, criminalidade,
falta de mobilidade urbana, sujeira, abandono da população de rua (que
explodiu), serviços públicos de quinto mundo, piores salários de
servidores municipais, corrupção desbragada… Ufa! São Paulo, que quando
Marta deixou o governo era uma cidade complicada, chegou ao inferno.
E a São Paulo de hoje não é ruim apenas para os pobres, apesar de,
para estes, ser muito pior. É ruim também para os ricos. A cidade viu,
nessa administração nefasta que caminha para o ostracismo e para a
vergonha histórica, ocorrerem até o que nunca antes ocorrera: enchentes
em bairros ditos “nobres”. Isso sem falar que a cidade é hoje uma praça
de guerra com dezenas de assassinatos todos os dias, sobretudo à noite.
A eleição de Fernando Haddad é, portanto, o primeiro passo para tirar
não só a capital paulista das mãos da quadrilha demo-tucano-midiática,
mas, sobretudo, o governo do Estado, pois São Paulo está encolhendo
diante de um Brasil que cresce e se desenvolve como nunca se viu, tudo
graças a um grupo político que governa fechando as portas às políticas
públicas do governo federal que estão fazendo outras regiões progredirem
muito mais.
O povo de São Paulo precisou passar pela autoflagelação que se impôs
com a eleição do atual grupo político que governa a cidade de forma a
acordar. E, repito, se não foi pelo amor, foi pela dor que amadureceu,
pois eleição é coisa séria, não pode ser confundida com as disputas
retóricas do futebol, mas o paulistano, instigado pela mídia
partidarizada e irresponsável, vinha votando com o fígado em vez de
votar com o cérebro.
Se urna pode condenar, também pode absolver
Desde que, acima de qualquer outra, a vitória de Fernando Haddad
ameaçou comprovar que o povo brasileiro não acredita na orgia midiática
em torno do julgamento do mensalão, os mesmos pistoleiros da mídia que
previram que o PT, além de ser “condenado” pelo Supremo Tribunal
Federal, também seria condenado pelas urnas, mudaram o discurso.
Não há colunista, editorialista ou veículo integrante do Partido da
Imprensa Golpista que, antes de se configurar a imensa vitória eleitoral
que o PT teve em 2012, não tenha dito que as urnas se coadunariam com a
mídia e com o tribunal de exceção de forma a condenarem o PT.
Após 7 de outubro, quando o PT se tornou, mais uma vez, o partido
mais votado do Brasil ao mesmo tempo em que o conclave
demo-tucano-midiático-judiciário mandava o Estado de Direito às favas e
inaugurava a era dos presos políticos no país, esses pistoleiros da
opinião passaram a dizer que “urnas não absolvem” o PT, como se este
estivesse sendo julgado.
O PT não foi a julgamento, mas se o veredicto das urnas, segundo a
pistolagem midiática, servia para condenar o partido, por que é, diabos,
que não serve para absolver?
Pergunte-se, leitor, o que o PIG estaria dizendo se o PT tivesse sido
arrasado eleitoralmente em todo o país. As manchetes, inequivocamente,
seriam no sentido de que o povo, assim como o STF, condenou os
“mensaleiros”, o PT e Lula, ainda que estes dois últimos não tenham sido
sequer acusados formalmente. Portanto, as urnas absolveram, sim, Lula e
o PT.
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