O princípio adotado na proposta do governo aos professores (a progressão vertical) é o inverso do sustentado pelos docentes das universidades federais (horizontal) |
As lideranças da greve das universidades federais rejeitaram a
proposta do governo federal que se apóia na lógica da
meritocracia. Segundo a presidente da Associação Nacional dos Docentes
do Ensino Superior (Andes), Marinalva Oliveira, a oferta governamental
não cria uma carreira atrativa para todos os níveis. A dirigente
sindical afirma que só atende uma minoria da categoria, em especial,
quem está no topo da carreira. Com efeito, a proposta governamental
privilegia (portanto, estimula) a dedicação exclusiva e a produção
acadêmica nas universidades e escolas técnicas.
Como já anunciado, o salário de um professor universitário com
doutorado e dedicação exclusiva passaria dos atuais R$ 11.700 para R$ 17
mil até 2015. Para professores com doutorado e pouco tempo de vida
acadêmica, o reajuste seria de 33%, passando dos atuais R$ 7.300 para R$
10 mil. Os professores com mestrados teriam reajustes entre 25% e 27%.
A questão central é que o princípio adotado pelo governo é o inverso
do sustentado pela Andes. O problema parece insolúvel porque há anos a
discussão política brasileira vem se rebaixando, como num diálogo entre
mudos e surdos. E a diferença conceitual entre as partes em questão
exigiria maior aprofundamento.
O governo federal adota a lógica clássica que preside a dinâmica
acadêmica. Professores progridem verticalmente pela titulação. A
progressão horizontal, por tempo de serviço, é menos valorizada que a
vertical. A lógica é de elitização. Tanto que a defesa de tese é
avaliada por uma junta composta por acadêmicos que estão numa escala
superior ao do candidato, reconhecidos pela sua competência na área de
estudo. O julgamento do candidato se faz por uma escala progressiva,
chegando ao topo da nota máxima (10), que lhe garante distinção.
O louvor é conferido por julgamento da banca avaliadora e, em muitos
casos, confere qualidade excepcional do trabalho apresentado pelo
candidato ou extrema originalidade. Além da defesa de pesquisa e
dissertação por escrito, o candidato sustenta seu trabalho oralmente.
Ora, é perceptível a lógica elitizada e fundada numa busca rigorosa de
demonstração de mérito para conferir um título acadêmico.
O discurso da presidente da Andes subverte claramente esta lógica.
Sustenta a isonomia nos critérios de premiação das diversas escalas da
carreira acadêmica. São duas lógicas distintas, opostas. A
horizontalidade reivindicada pelos líderes da greve desconhece a
hierarquia fundada na aptidão específica demonstrada, avaliada e acatada
por membros que já se encontram no topo da escala funcional. Não se
trata de uma discussão sobre justiça, mas de concepção que funda e
preside a dinâmica da instituição acadêmica.
Rudá Ricci De esquerda em esquerda
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