No contexto de greve dos professores de 54 universidades federais, o
debate sobre a condição do ensino no país volta a ser colocado na mesa,
tanto no que se refere aos investimentos, mas sobretudo no que trata das
condições de ensino no país e da participação dos setores privados
ganhando espaço.
“Isso remete à década de 1960 e ao golpe
militar, quando aumentou a participação privada no ensino brasileiro,
ampliando suas fatias de mercado no ensino. Isso é ampliado no governo
FHC, contra o qual houve um processo de resistência”, enfoca Nair
Casagrande, docente da Universidade Federal da Bahia (UFBA), para quem
uma “reforma fatiada” da Universidade foi impulsionada pelo governo de
Fernando Henrique Cardoso (FHC), sendo mantida durante o período
Lula-Dilma, com o diferencial do aumento de vagas e maior acesso ao
ingresso de estudantes.
No campo da discussão sobre um projeto
para a educação, duas diferentes visões se chocam. Pela parte do
governo, os números ostentam forte investimento na Educação. “São 220
mil novas vagas, 14 universidades e 132 novos campi para dar suporte a esse 1 milhão de matrículas.
Desde
2005, investimos R$ 8,4 bilhões na reestruturação da rede federal.
Somente em 2012, o investimento é de R$ 1,4 bilhão. Temos 3.427 obras”,
comentou Aloísio Mercadante, ministro da Educação, em entrevista recente
à Agência Carta Maior.
A outra visão, encabeçada pelos
docentes, aponta as precarizações na condição de trabalho. Defende que
ampliação de vagas não veio acompanhada de condições, o que causa a
intensificação do trabalho docente, laboratórios sem professores,
contratação precária de professores substitutos, entre outras críticas.
A
exemplo do debate sobre a saúde, a educação configura-se como um
exemplo de falta de investimentos por parte do Estado devido ao
compromisso com o pagamento da dívida pública, o que implica que apenas
2,99% do orçamento seja destinado para a educação (dados de 2011).
A
professora da UFBA enxerga, neste caso, o atrelamento com compromissos
do capital financeiro, o que se reflete em um sistema produtivista,
submetido a metas. “A falta de estrutura e a expansão se dão em termos
quantitativos, respondendo a metas do FMI e Banco Mundial. Temos metas
de 100% da educação básica”, aponta Casagrande, criticando também a
falta de compromisso dos governos estaduais com o pagamento do piso aos
professores da educação básica.
Há a percepção geral de um maior
montante de investimento na educação. A crítica, nesse caso, é
direcionada para as condições desse investimento. “Nunca se investiu
tanto. É verdade. É Reuni, dinheiro para dentro das universidades, veio
muita grana, se construiu muita coisa, prédio novo, vários campi, entrou
dinheiro e a universidade cresceu, só que na mesma proporção não
entraram trabalhadores. Ao longo da década, não houve concurso, a
discussão que nós fazíamos: não somos contra a expansão, mas contra
expandir sem qualidade. A gente que trabalha no movimento popular não
aceita um ‘pelo menos isso’”, diz a jornalista e trabalhadora da
Universidade de Santa Catarina (UFSC), Elaine Tavares.
De acordo
Elaine, a falta de um projeto estrutural recai sobre as costas dos
trabalhadores. “Vivemos uma universidade do negócio. Não se dá o devido
cuidado à graduação. Os melhores professores estão na pós. Os
substitutos também. Além dessa lógica de dar o dinheiro para a
iniciativa privada, joga um monte de substituto para dentro da
graduação, não cria uma relação com os alunos”.
Outra preocupação são as fundações estatais de direito privado. “Hospitais também foram transformados em business. Nosso Hospital Universitário (HU) era 100% público; e agora vai virar privado?”, questiona Elaine Tavares.
Brasil de Fato
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