Não se espere de qualquer grande veículo de
comunicação qualquer tipo de autocrítica. Todos eles têm sempre razão.
Na história do jornalismo brasileiro, o único que reconheceu um erro de
informação dando o mesmo destaque na primeira página foi o Correio
Braziliense, quando comandado por Ricardo Noblat. Na época, a ousadia
rendeu um Prêmio Esso ao jornal.
Veja vem sendo criticada há várias semanas por internautas do Brasil
inteiro. Sofre aquilo que os especialistas definiriam como uma crise de
imagem nas redes sociais. Algo que pode acontecer com qualquer empresa.
Recentemente, por exemplo, ocorreu com a Claro e com seu
garoto-propaganda Ronaldo, que não cumpriram uma promoção anunciada na
Páscoa.
Em casos desse tipo, os consultores recomendam humildade, cautela e,
sobretudo, diálogo com os internautas. Veja preferiu adotar o caminho
oposto. Optou pela arrogância, pela prepotência e pelo desprezo pelos
internautas. Numa reportagem deste fim de semana, rotulou como
“insetos”, “robôs” ou “petralhas amestrados” os internautas que têm
participado de seguidos tuitaços contra a publicação, desde que se
evidenciou a proximidade entre a revista e o bicheiro Carlinhos
Cachoeira.
O resultado foi devastador. Neste sábado, Veja liderou os trending
topics durante praticamente todo o sábado. Começou ao meio-dia e ainda
agora estava lá, seja com #VejaComMEDO, seja com #VejaTemMEDO. Muitos
internautas alteraram até as fotos dos seus perfis e passaram a utilizar
imagens de robôs ou insetos. Na grande maioria, são jovens, potenciais
leitores de Veja, mas que vêm disseminando uma mensagem que ninguém
consegue calar e que pode ser devastadora: a de que a maior revista do
Brasil tinha algum tipo de associação com um esquema criminoso. Nesse
tom, mais de 25 mil mensagens foram postadas no Twitter.
Corrosão de imagem
Num caso semelhante de crise de imagem, o magnata australiado Rupert
Murdoch publicou anúncios em diversos jornais, pedindo desculpas pelo
comportamento do tabloide News of the World, que se valia de grampos
ilegais em suas reportagens. Assim, pôde preservar a credibilidade de
sua publicação mais valiosa, que é o jornal americano The Wall Street
Journal.
Veja, naturalmente, tem todo o direito de menosprezar as
manifestações dos leitores, atribuindo-as à “manipulação criminosa”,
como definiu o blogueiro Reinaldo Azevedo. Mas cupins, quando começam a
roer uma madeira, raramente são percebidos. E, quando menos se espera,
toda a estrutura desaba.
Num poema clássico, o pernambucano Ascenso Ferreira fala de uma
“madeira que o cupim não rói”. Será Veja tão sólida para resistir ao
ataque dos insetos, que começam a se transformar nos verdadeiros
formadores de opinião?
Brasil 247
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